A Embaixada dos Estados Unidos em Brasília cobrou nesta quinta-feira, dia 24, que o governo brasileiro condene expressamente a invasão da Ucrânia pela Rússia, deflagrando uma guerra no Leste Europeu. A mensagem faz parte de um esforço de Washington. Os EUA esperam uma adesão brasileira à resolução que propuseram no Conselho de Segurança da ONU contra a Rússia, mas o encarregado de negócios, Douglas Koneff, evitou dar certeza de que o Brasil vai endossar o texto.
“Qualquer declaração que condene as ações russas, como violações do direito internacional e da carta das Nações Unidas, ajuda e é bem-vinda. Um pedido de desescalada das hostilidades ao povo ucraniano e de retirada das tropas são passos importantes para todos os países”, disse o atual chefe da diplomacia norte-americana em Brasília. “O Brasil é um País importante, tem assento no Conselho de Segurança. A voz do Brasil importa. “
Segundo Koneff, as delegações em Nova York estão em linha direta com suas capitais e em constante contato com demais diplomatas nos corredores da sede das Nações Unidas. Ele disse que também vem mantendo conversas frequentes com o Itamaraty em Brasília. O diplomata disse há diálogo “intenso” e que a resolução será forte e vai condenar a invasão russa à Ucrânia.
“É importante que todos os países democráticos estejam unidos e firmes condenando as açõs russas contra a Ucrânia”, limitou-se a dizer Koneff.
Mais cedo, o Itamaraty divulgou uma nota em linguagem diplomática expressando “preocupação”, mas que não usa termos mais duros.
O responsável pela embaixada dos EUA esquivou-se de responder se o presidente Joe Biden considerava telefonar a Bolsonaro na tentativa de trazê-lo para o lado ocidental e convencê-lo a se opor enfaticamente ao presidente russo, Vladimir Putin, de quem se aproximou politicamente.
“Putin rejeitou todos os esforços diplomáticos de boa-fé. Se tem algo que o Brasil apoia é a diplomacia, é um princípio fundamental das relações exteriores brasileiras. Putin violou todas as tentativas diplomáticas. Ele lançou uma ofensiva militar não provocada contra a Ucrânia e dá sinais de que continuará. Vamos trabalhar com todos os nossos aliados para evitar que a situação piore”, afirmou Koneff.
Até agora, Bolsonaro não foi além da nota diplomática e evitou, durante compromissos públicos, abordar o tema do conflito provocado pela Rússia nesta quinta-feira. Em visita de Estado a Moscou, Bolsonaro manifestou solidariedade ao país anfitrião.
A diplomacia norte-americana tentou convencer Bolsonaro a não viajar a Moscou, mas o presidente brasileiro reagiu dizendo que se Biden o convidasse iria a Washington. Bolsonaro tem se queixado da Casa Branca, dizendo que Biden aparenta não ter tempo para recebê-lo.
Segundo Koneff, nas semanas antes da invasão russa houve “compartilhamento sem precedentes de informações de inteligência”, por parte dos EUA, com todos seus aliados e membros do Conselho de Segurança, do qual o Brasil faz parte. Ele não quis declinar o teor das informações repassadas ao Palácio do Planalto.
“Devemos permanecer firmes e unidos contra tal ameaça, que viola não apenas a segurança europeia, mas a segurança das pessoas em todo o mundo. Devemos permanecer unidos para apoiar a Ucrânia, e o direito de todas as nações soberanas a escolherem seus próprios caminhos, livres da ameaça de coerção, subversão ou invasão”, diz nota da embaixada dos EUA.
América Latina
Em janeiro, a Rússia ameaçou instalar mísseis e enviar tropas a países aliados na América Latina, como os regimes da Venezuela e de Cuba, em reação ao envolvimento dos EUA no confronto na Ucrânia. Questionado sobre a possibilidade de repercussões no continente, Koneff minimizou o impacto.
“Esses comentários de Putin refletem um mentalidade antiquada de Guerra Fria. O que está acontecendo não tem a ver com esferas de influência, essa é uma falsa narrativa. Eu desconsidero esses comentários”, afirmou o encarregado de negócios. Segundo Koneff, a ofensiva bélica russa deve ser vista como um ataque de uma potência nuclear a um vizinho menor, e não tem a ver com relações bilaterais entre países.
Com informações do Estadão Conteúdo