Cotidiano

Cuidadores municipais prometem greve para terça-feira

Líder de movimento grevista afirma que número de profissionais é insuficiente para atender aumento da demanda por profissionais que atendam alunos especiais. Prefeitura de Boa Vista não comentou o assunto até a publicação da reportagem

Os cuidadores municipais marcaram para a próxima terça-feira (8) uma greve a favor de pautas como a redução da carga horária de 40h para 30h semanais e a disponibilidade de profissionais suficientes para atender os alunos especiais nas escolas do Município.

LEIA MAIS

Quase duzentos novos servidores da Educação são empossados em Boa Vista

A decisão foi tomada na quinta-feira (3), em assembleia no Sindicato dos Trabalhadores Municipais (Sitram). Nesta sexta-feira (4), às 18h30, os profissionais vão voltar a se reunir para presenciar o resultado de uma reunião realizada pela manhã, entre a classe e representantes da Prefeitura de Boa Vista.

Para a cuidadora Conceição Filha, que integra a linha de frente do movimento grevista, os cerca de 636 colegas de profissão que trabalham na rede municipal são insuficientes para atender a atual demanda, que além da crise migratória, foi impulsionada pelo anúncio da Prefeitura em realizar concurso público para contratar professores da Educação Especial.

“A nossa carga horária está insustentável. Queremos atender o máximo de crianças possível, mas não conseguimos”, disse ela, afirmando que o número insuficiente de cuidadores é uma realidade das 34 escolas municipais de Boa Vista. “A minha escola [Professora Amazona de Oliveira Monteiro], por exemplo, tem 36 crianças com necessidade especial, para sete cuidadores”.

A servidora pública Tatiane Simão, mãe de um estudante autista de cinco anos, matriculado na escola municipal Arco-Íris, disse que o filho não recebe atenção especial de um cuidador desde o primeiro dia de aula e que o caso já está lhe provocando uma depressão.

“A solução que me deram foi colocá-lo na primeira cadeira ao lado da professora, mas isso, na prática, é insuficiente, ele precisa desse apoio. Autistas como ele possuem limitação, não que eles são incapazes, eles são capazes, mas precisam ser estimulados à aprendizagem”, disse, citando ainda que o filho também não come na escola por causa da falta de apoio na escola.


Escola municipal Centenário de Boa Vista, no bairro Paraviana (Foto: Arquivo FolhaBV)

Mãe de um aluno autista de nove anos, matriculado na escola municipal Centenário de Boa Vista, a fisioterapeuta Lauricélia Carneiro Barbosa se uniu a outras mães para tentar resolver a situação, junto à Câmara Municipal de Boa Vista e a OAB-RR (Ordem dos Advogados do Brasil). “A Prefeitura iniciou o ano ignorando a inclusão”, criticou ela, dizendo também que, se a greve não resolver o problema, vai procurar a Defensoria Pública do Estado (DPE-RR).

A situação dos cuidadores se soma ao acúmulo de funções por parte de assistentes de aluno, segundo o assistente Márcio Bahia, líder de um movimento em defesa da classe. “A demanda aumentou demais para cuidadores. Essa situação faz com que os assistentes cuidem das crianças que não tem cuidador. Isso acaba configurando um desvio de função. Isso acontece porque não tem cuidador suficiente para apoiar as crianças com deficiência”, declarou, citando o déficit de sete cuidadores da escola municipal onde trabalha, a Delacir de Melo Lima.

“Todas as escolas estão na mesma situação: número insuficiente de cuidadores e assistentes”, disse, cobrando também a efetividade da Gica (Gratificação de Incentivo aos Cuidadores e Assistentes de Alunos), cujo veto da Prefeitura foi derrubado na Câmara.

Redução da carga horária

A redução da carga de trabalho, por exemplo, foi incluída em um Projeto de Lei do Poder Executivo que tramita na Câmara Municipal de Boa Vista, o qual prevê a alteração do Plano de Cargos, Carreira e Remuneração (PCCR) da Educação Básica do Município. A proposta chegou a ir ao plenário, mas teve o pedido de vistas pela vereadora Aline Rezende (PRTB). No entanto, o PCCR deve voltar à análise dos parlamentares na próxima terça-feira (8).

Outro lado

Procurado, o Poder Executivo municipal não comentou o assunto até a publicação da reportagem.