Cotidiano

Indígenas denunciam situação precária em escola na comunidade de Pacaraima

Indígenas que moram na Comunidade Boca da Mata, localizada na Terra Indígena São Marcos, no Município de Pacaraima, região Norte do Estado, denunciaram à Folha que a Escola Estadual Tuxaua Antônio Horácio, que atende cerca de 200 alunos de mais oito comunidades, encontra-se em situação precária, com salas que correm o risco de desabar a qualquer momento, bastando uma chuva forte, ou infestada por fezes de morcego.

Servidores, alunos e pais de alunos da unidade de ensino relataram que a estrutura física do prédio não passa por reformas desde a inauguração, na década de 50. O prédio ainda possui outro anexo, este mais novo, inaugurado em 2007, mas que não comporta todos os estudantes das localidades.

A unidade ainda recebe alunos das comunidades Sol Nascente, Sabiá, Entroncamento, Arai, Nova Esperança, além da própria sede de Pacaraima. Segundo o diretor da unidade, Ismael Fernandes, todas as comunidades enfrentam “um verdadeiro caos” por conta da situação estrutural da escola. “Os alunos estudam em condições subumanas e os professores reclamam a todo o momento que não dá mais para continuar trabalhando naquele prédio”, disse.

Ele afirmou que os estudantes são obrigados a frequentar as aulas sabendo do risco de possível desabamento de algumas salas. O prédio está caindo e pode desabar a qualquer hora em cima de uma criança ou professor. O que foi feito até agora, foi a comunidade que arrumou, mas não temos recursos suficientes para manter”, comentou.

Outros problemas apontados pelos indígenas na estrutura da escola são quanto à falta de instalação elétrica e hidráulica, salas com janelas e portas danificadas, banheiros e bebedouros quebrados, além da falta de salas específicas para os professores, biblioteca e laboratório de informática com acesso à internet, espaço para copa e refeitório, muros e gradeamento de portas e janelas.

Um estudante do 2º ano do ensino médio da unidade comentou que vários alunos contraíram doenças de pele por conta de uma infestação de morcegos no local. “A situação é difícil. Vamos para a escola já sabendo dos riscos de pegar doença por conta disso. A gente chega numa sala e o cheiro é insuportável”, relatou Alcirley Barbosa.

De acordo com o tuxaua da Boca da Mata, Celso Antônio, os indígenas tentam, desde janeiro deste ano, contato com a secretária estadual de Educação, Selma Mulinari, mas em vão. “A gente veio para Boa Vista com um grupo de indígenas para conversar com a secretária, mas ela não nos atendeu. Infelizmente, o Estado é ausente, estamos reivindicando uma reforma e o atual governo já foi comunicado sobre isso, mas estamos constrangidos com o desinteresse da parte deles. Estamos lutando pelos nossos direitos”, criticou.

GOVERNO – Em nota, o Governo do Estado afirmou que a Secretaria Estadual de Educação e Desporto (Seed) possui em andamento um processo para revitalização das instituições de ensino, incluindo manutenção elétrica e hidráulica. “Todas as escolas estaduais serão revitalizadas, inclusive as instituições indígenas. A Seed também está providenciando a aquisição de bebedouros para atender as unidades de ensino”, informou.

O governo diz que encontrou a grande maioria das escolas estaduais indígenas e não indígenas com a estrutura física muito comprometida e danificada, por isso vem trabalhando para recuperar os espaços educacionais para a oferta de uma educação com qualidade.

Destacou ainda que a Divisão de Educação Indígena mantém diálogo aberto com representantes dos povos indígenas, participando inclusive de assembleias realizadas por estas representações, ouvindo e registrando as reivindicações e demandas dos mesmos.

“A secretária estadual de Educação, Selma Mulinari, afirmou que a atual gestão do Governo do Estado de Roraima possui grande respeito pela Educação Escolar Indígena e vem trabalhando para ofertar cada vez mais um ensino com qualidade, sempre respeitando a cultura indígena e suas peculiaridades”, destacou a nota. (L.G.C)