Polícia

Pousadas permitem drogas e menores

Cliente paga taxa extra de R$ 20,00 e atendentes fazem vista grossa; alguns estabelecimentos oferecem até o “disque-droga”

Pousadas na Capital estão cobrando taxa extra e permitindo o uso de drogas nos apartamentos. A denúncia foi feita pela vizinhança desses locais, que se sente incomodada com o forte odor do entorpecente. Alguns estabelecimentos fazem vista grossa e também permitem a entrada de menores de 18 anos, o que é proibido por lei. A Polícia Civil investiga os casos e mantém sigilo sobre o assunto.

Esta semana, a Folha visitou algumas pousadas em bairros da zona Oeste e Sul da Capital, entrevistou atendentes, clientes e constatou a denúncia. O uso de drogas é permitido, com a conivência das atendentes, mediante pagamento adiantado, que varia entre R$ 20,00 e R$ 30,00.

“Alguns alugam o quarto só para usar droga. É maconha, pedra [crack] ou cocaína. Alguns também contratam prostitutas para fazer programa. Elas também usam. É comum essa prática aqui na periferia. A gente só pede para não extrapolar e não fazer bagunça”, revelou uma atendente de 29 anos, que trabalha em uma pousada no bairro Sílvio Botelho, zona Oeste.

A hora nas pousadas vai de R$ 10,00 a R$ 20,00. O pernoite, das 22h às 8h do dia seguinte, não sai por menos de R$ 50,00. Mas, usando qualquer tipo de droga, o cliente tem que desembolsar uma taxa extra de até R$ 30,00.

“Sou viciado e sempre que levo minha namorada a um motel ou pousada uso droga. Ela, não. Mas não se incomoda que eu fume. Já fui a várias pousadas aqui na zona Oeste e todas permitiram, desde que eu pagasse adiantado”, relatou um servidor público de 32 anos, usuário de drogas desde os 17.

A Folha também recebeu denúncia de que algumas pousadas fornecem a droga, seja qual for. O traficante atende pelo “disque-droga” e vai entregar o entorpecente no quarto para o cliente. Tudo ocorre com a conivência dos funcionários dessas pousadas. “A gente deixa porque o dono autoriza. E se a gente falar alguma coisa, vai para rua”, disse a atendente, que mora de aluguel no bairro Pintolândia, zona Oeste, e cria sozinha dois filhos.

O “disque-droga”, segundo denunciantes, é rápido porque geralmente o traficante mora perto da pousada, ou trabalha no local. O preço da trouxinha de maconha é R$ 10,00, da pedra de crack varia entre R$ 10,00, R$ 20,00 e até R$ 100,00 (cinco gramas). A cocaína é pouco usada nas pousadas, segundo atendentes, mas também tem e não sai por menos de R$ 50,00 o papelote.

Além do uso de drogas, o mais grave é que alguns donos desses estabelecimentos também fazem vista grossa e permitem a entrada de adolescentes, que geralmente consomem drogas nos apartamentos. “Quando o jovem diz que esqueceu a Identidade, ou que perdeu, a gente já desconfia que é menor de idade. Mas quem o acompanha, geralmente uma pessoa adulta, dá uma gorjeta e aí a gente libera”, revelou.

Apesar de crime, virou cena comum ver adolescentes entrando em pousadas para fazer programa sexual, regado a drogas. Segundo os próprios funcionários, falta fiscalização mais rigorosa das autoridades. “Eu já liguei para denunciar tanto o uso de droga quanto a entrada de menores, mas até hoje ninguém apareceu e os casos continuam, infelizmente”, lamentou uma camareira de uma pousada no bairro São Vicente, zona Sul. (AJ)

DENARC – Por telefone, no início da noite de ontem, o diretor do Departamento de Narcóticos (Denarc) da Polícia Civil, delegado Márcio Amorim, mandou um aviso aos proprietários de pousadas ou motéis que estejam permitindo a prática desses crimes.

“O proprietário poder ter perdimento do bem em desfavor do Fundo Nacional Antidrogas e ainda sofrer sanções comerciais, como a perda do alvará de funcionamento.Além disso, ele pode responder por vários crimes, como tráfico de drogas, associação para o tráfico, corrupção de menores, prostituição, entre outros”, alertou.

Sobre as denúncias, o delegado se restringiu a falar para não comprometer as investigações. Apenas adiantou que a Polícia Civil já investiga esse tipo de denúncia. (AJ)