O presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana (Condisi-YY), Junior Hekurari Yanomami, divulgou nota nesta sexta-feira (29) em que acusa garimpeiros de dar cinco gramas de ouro para indígenas da comunidade Aracaçá silenciarem sobre a denúncia de estupro seguido de morte de uma adolescente de 12 anos, e do desaparecimento de uma criança de três anos no rio Uraricoera, na região do Waikás, no território Yanomami, em Roraima.
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A publicação foi feita um dia depois que a Polícia Federal (PF), o Ministério Público Federal (MPF), Fundação Nacional do Índio (Funai) e a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) informaram que não encontraram indícios sobre os crimes na Terra Indígena.
“Após insistência, alguns indígenas relataram que não poderiam falar, pois teriam recebido 05g de ouro dos garimpeiros para manter o silêncio”, diz a nota.
Os indígenas, segundo o presidente do Condisi-YY, relataram que outros crimes já aconteceram na região. “Recentemente um recém-nascido foi levado para capital de Boa Vista por um garimpeiro que alegava ser pai da criança”, diz.
“Percebe-se através dos vídeos que, esses indígenas foram coagidos e instruídos a não relatar qualquer ocorrência que tenha acontecido na Região, dificultando a investigação da Policia Federal e Ministério Público Federal que acabaram relatando não haver qualquer indício de estupro ou desaparecimento de criança”, prossegue a nota.
Em seguida, Hekurari relatou que, na manhã do dia seguinte, as equipes voltaram à comunidade, mas os indígenas haviam deixado o local, onde havia apenas marcas de queimada. O presidente do Condisi-YY relatou, ainda, que nesta sexta-feira (29), líderes indígenas explicaram, com base em costumes e tradições, que após a morte de um ente querido, a comunidade em que a pessoa morava é queimada e todos deixam o local.
“Também analisaram a possível marca onde o corpo foi cremado, e constatou-se que ocorreu um óbito, porém, os Indígenas da região se mantiveram em silêncio por receio de que sofressem qualquer tipo de ataque dos invasores”, diz.
“Esclarecemos que continuaremos a investigar e cobrar que os órgãos competentes atuem para retirada imediata dos criminosos que estão no Território Indígena Yanomami”, finaliza a nota.
Coordenador de movimento garimpeiro rebate
O coordenador do movimento Garimpo é Legal, Rodrigo Cataratas, disse que procurou o MPF para pedir apuração das declarações feitas na nota divulgada por Júnior Hekurari.
“Na realidade, é o relato dele. Já ficou demonstrado pela Polícia Federal, Funai e Dsei [Distrito Sanitário Especial Indígena] Yanomami que não encontraram os indícios de assassinato e estupro dessa indígena. Viemos ao Ministério Público para pedir que eles investiguem. Porque o Júnior Yanomami segue fazendo afirmações mentirosas, fake news”, declarou.