Polícia

Ciúme excessivo não é amor, diz delegada ao comentar casos de feminicídio

Somente neste primeiro semestre foram registrados 800 casos de violência contra a mulher em Roraima

Este ano, Roraima já registrou mais de 800 casos de violência contra a mulher.

Pedreiro, atendente, vendedor, desempregado, advogado, servidor público, técnico, policial e até promotor de justiça fazem parte, do grupo de agressores, das estatísticas divulgadas pela Polícia Civil de Roraima. Nos registros há também homens a partir dos 18 anos de idade até mais de 60.

Os dados são do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp). A delegada Verlania Assis, titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), alertou como a mulher pode identificar sinais que mostram agressividade do companheiro e o que fazer para evitar relacionamentos abusivos.

Em comparação aos dados de todo o ano passado, que foram 1.107 casos de violência, entre lesão corporal, tentativa de feminicídio e brigas, percebe-se um aumento dos números em 2022, levando em conta que são estatísticas de apenas um semestre.

No início desta semana, dois casos de violência, que resultaram na morte de mulheres, tiveram repercussão nacional. Em um dos casos um bebê de 3 meses de idade também foi morto e no outro, o filho da vítima, de 8 meses de idade, ficou por dois dias ao lado do corpo. 

No entanto, os registros não são fatos isolados, somente esta semana, a equipe de reportagem da Folha de Boa Vista divulgou pelo menos duas ocorrências policiais de agressão em que a vítima era mulher. 

Diante dos fatos, a delegada Verlania Assis afirmou que a mulher não pode evitar, mas pode tomar cuidados e perceber atitudes demonstradas pelo companheiro que evidenciam a atitude agressiva. O parceiro reclama das roupas que a mulher usa, dos colegas que ela conversa, começa a tirá-la do convívio social, às vezes até do meio familiar. Dependência química, uso excessivo do álcool e ciúmes são outros fatores alarmantes também.

“Geralmente o homem começa impondo o que ele não gosta que a mulher faça, mas a situação se agrava para discussões, ameaças, intimidações, destruição de bens materiais, chutes na parede, no animal de estimação, parte para empurrões e quanto mais tempo na relação, ele se descontrola e agride a parceira”, disse a delegada.

Gil Teia, psicóloga e coordenadora Psicossocial da Casa da Mulher Brasileira, falou o que leva o homem a ter atitudes agressivas. ”Ele tem a sensação de ser dominante e não quer compartilhar o que é dele, então o agressor não aceita o término da relação. Quando a companheira percebe que há algo errado, ela já está envolvida na relação e começa os atos de agressão verbal, gritos, traições, mas logo o homem pede desculpas, a presenteia. Muitas vezes a mulher não sai da relação porque ela quer acreditar que ele vai mudar e permanece para não desfazer uma família. Mas até que ponto é viável se sacrificar para ter uma família unida?”, finaliza com a reflexão.


Gil Teia é psicóloga e coordenadora Psicossocial da Casa da Mulher Brasileira (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Paquera virtual

A delegada ressaltou os cuidados que devem ser tomados nesta era das paqueras virtuais. “É comum hoje em dia as pessoas se conhecerem por meio das redes sociais ou aplicativos de namoro, sem realmente saber quem é, se a foto condiz com a pessoa. Desta forma, a mulher envolvida deve ter cuidado ao marcar encontro. A recomendação é que seja sempre em locais públicos e em troca de conversas, ter consciência que ao mandar fotos íntimas, isso pode gerar traumas ou materiais para possíveis chantagens”, comentou.

Como denunciar

A mulher que vive uma relação abusiva pode denunciar por meio do Disque 100, Disque 180, por meio do 190 ou procurar a Delegacia da Mulher, que fica na Casa da Mulher Brasileira, localizada na rua Uraricoera, no bairro São Vicente. A estrutura conta com acolhimento de equipe psicossocial, Ministério Público e Defensoria Pública. Em casos em que a mulher não se sente segura em retornar para casa, precise de um local provisório para morar ou até mesmo uma pensão alimentícia, a equipe de atendimento providencia acolhimento.