Ser pai era algo desafiador para o servidor público Ricardo Guimarães, que sempre teve um “espírito livre e sonhava em ser mochileiro”. No entanto, com a chegada da pequena Isabela Guimarães, de 5 anos, a vida dele tomou um novo rumo.
“Desde o momento que eu soube que ia ser pai, eu já tinha consciência de que teria que mudar todos os meus pensamentos e que eu não iria viver mais para mim. Quando eu a peguei pela primeira vez, eu me apaixonei e entendi que o meu mundo era ela e que minha felicidade dependia daquela criaturinha. Se ela está feliz, eu estou feliz, e se ela está triste, eu também estou ”, contou.
“O autismo me ensinou que a felicidade está nos pequenos detalhes”
Com apenas 1 ano e 8 meses, Isabela foi diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e o impacto veio junto com ensinamentos que Ricardo pretende levar para vida.
De acordo com ele, a filha apresentou sinais de autismo desde os primeiros meses de vida. “Com oito meses eu percebi que a Isa ficava o tempo sozinha no berço sem reclamar e sem chorar. Com 1 ano eu reparei que minha filha não dava tchau e nem falava e foi aí que eu comecei algo diferente, mas até então eu não sabia o que era”, relembrou.
“Comecei a pesquisar para entender o comportamento dela e me deparei com autismo. Eu entrei no YouTube e coloquei ‘15 características do autismo’, quando eu vi que a Isabela tinha 14, meu mundo desabou. Eu não conhecia o autismo, não sabia nada, então naquele momento eu fiquei desesperado, chorei muito. No outro dia, a mãe dela e eu corremos atrás de médicos para confirmar e o diagnóstico veio em seguida. Isabela é autista com um nível severo, por isso que conseguimos descobrir tão cedo”, contou.
Ainda de acordo com Ricardo, ele e a mãe de Isabela sempre souberam dividir as obrigações dos pais e precisaram se adaptar à uma nova rotina para viver da melhor forma. “Sempre fomos nós dois para tudo. A mãe dela cuida da educação dela e eu cuido da parte da saúde, porque praticamente são duas crianças. Ela necessita da educação dentro de casa, mas também precisa fazer o tratamento, então cuido muito dessa parte”, falou.
“A mãe dela trabalha em casa e eu trabalho fora, mas se der qualquer probleminha, eu largo tudo e vou correndo. Minha filha é minha prioridade”, afirmou.
“Uma coisa que eu sempre digo e que ficou marcado, é que o autismo me ensinou que a felicidade está nos pequenos detalhes. A felicidade está no sorriso, no abraço e nas raras vezes que a minha filha fala”.
Os desafios
“A Isabela veio pra quebrar minha postura e meus conceitos. Se não fosse por ela, com certeza eu estaria em alguma praia com alguma mochila. O meu maior desafio é viver em rotina, e a Isabela precisa de rotina para ter equilíbrio emocional”, disse.
“A minha filha é uma benção, o autismo não. Ninguém quer ver o filho se batendo, ninguém quer ver o filho se mordendo, ninguém quer dar remédio todo dia. Neste momento a minha filha está agora na terapia, mas eu preferia que ela estivesse brincando em alguma praça juntamente com as outras crianças”, falou emocionado.
O pai de Isabela, afirma que só quer viver o presente e não faz planos para o futuro. “Quanto mais a gente pensa no futuro, mais temos ansiedade. Eu prefiro viver o presente, porque no futuro eu não sei se ela vai falar, não sei se ela vai ao banheiro sozinha, a única coisa que eu sei é que eu não vou largar a mão dela”, acrescentou.
A inspiração
Se engana quem pensa que Ricardo aprendeu a ser pai sozinho, na verdade, o maior exemplo veio de dentro da sua própria casa, com o pai Samuel Alvez. “Eu tenho uma grande referência, um grande pai, alguém que sempre esteve na minha vida e me ensinou tudo que sei. Uma pessoa que tem vários defeitos e o principal deles, é amar demais os filhos. Ele sempre nos colocou como prioridade e nunca precisou bater para educar. Eu não consigo fechar os olhos e lembrar de algum momento ruim com meu pai’, relatou.
O servidor público finalizou deixando um recado para os ausentes na vida das milhares de crianças brasileiras que nunca puderam comemorar o dia dos pais. “O conselho que eu dou é que o pai nunca abandone seu filho, por qualquer que seja o motivo, a criança não tem culpa de nada. Quando você não assume seu filho, você está perdendo metade da sua história”, completou.