O Censo 2022 já passou por cerca de 1.800 residências temporárias de venezuelanos refugiados e migrantes abrigados, segundo a Acnur (Agência da ONU para Refugiados). É a primeira vez que o público é incluído no levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
“Eles foram muito amáveis. Sentaram-se ao meu lado, falaram em espanhol para que eu os entendesse mais fácil. Além disso, me explicaram que os dados serão utilizados por instituições brasileiras para entender o perfil da população no país”, relatou Damelis, moradora do Abrigo Rondon 1, em Boa Vista.
A inclusão dos estrangeiros é feita após acordo de cooperação firmado entre a Acnur e o IBGE. “Considerar pessoas que buscam proteção internacional no Brasil no Censo 2022 foi uma iniciativa essencial para que instituições governamentais, em todas as esferas, desenvolvam políticas públicas que considerem essa população”, diz Federico Martínez, representante interino do Acnur no Brasil.
Além de facilitar a coleta nos abrigos, por meio de treinamento a recenseadores e provimento de informações sobre a população abrigada, a Acnur e seus parceiros realizaram sessões para sensibilização da comunidade sobre a importância do Censo 2022, criaram e divulgaram material informativo e apoiaram na comunicação com a comunidade durante a coleta.
No momento da aplicação dos questionários, quase sete mil pessoas viviam nos nove abrigos da Operação Acolhida, espalhados por Pacaraima e Boa Vista.
A aplicação do Censo 2022 foi realizada com apoio das organizações Fraternidade sem Fronteiras (FSF), Associação Voluntários para o Serviço Internacional Brasil (AVSI Brasil) e Fundação Pan-Americana para o Desenvolvimento (PADF).
A família de Bladimir Pandoja, de 43 anos, também foi uma das recenseadas. No Brasil há quase um ano, Pantoja está no abrigo com quatro filhos e sua esposa. O primogênito da família participou da estratégia de interiorização da Operação Acolhida e vive, há três meses, no Rio Grande do Sul. “Acredito que ele também irá responder ao Censo 2022 por lá. Nossa intenção é de, no futuro, viajarmos com a família inteira para morar com ele”, conta o pai.
Pandoja é topógrafo graduado na Venezuela, mas no Brasil trabalha realizando diárias, principalmente no ramo da construção civil. Seus filhos, que no país de origem se dedicavam ao esporte, continuam esforçando-se para realizar seus sonhos no novo País. “Eles participam de treinos e eu os acompanho em campeonatos”, conta.
O sonho da família é poder, no Rio Grande do Sul, viver a integração socioeconômica completa no Brasil. “Queremos agradecer a este País que recebe tantos venezuelanos. Mas queremos dizer, principalmente, que viemos para trabalhar, aportar e trazer bons resultados ao país. Tenho conhecimentos e meus filhos trazem habilidades para crescer esta nação”, completa Bladimir.
Ao todo, foram 750 mil venezuelanos que chegaram ao país nos últimos anos, dos quais cerca de 350 mil permaneceram. Nos estados do Norte, a Operação Acolhida, realizada com apoio de agências da ONU, organizações da sociedade civil e Poder Público, promove o apoio na documentação e controle de fronteira, abrigamento emergencial, integração e realocação voluntária a outros estados brasileiros para famílias em situação de vulnerabilidade socioeconômica.