Em Pacaraima, fronteira com a Venezuela, pequenas barracas em ocupações espontâneas se tornam salas de aula para mais de 400 crianças migrantes e refugiadas que foram forçadas a vir ao Brasil com as famílias. Entender e diminuir os impactos na vida de meninos e meninas, que viram o ambiente escolar ser totalmente modificado, figura-se em um grande desafio.
Nesta quinta-feira, 8, é comemorado o Dia Mundial da Alfabetização, data para relembrar a importância da Educação para o desenvolvimento social, principalmente das crianças. O dia foi criado pela Organização das Nações Unidas (ONU), por meio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura (Unesco).
“Me sinto bem, muito feliz. Aprendo muitas coisas e minha professora diz que sou muito inteligente”, declara o pequeno venezuelano Antonio Luiz. A mãe dele, Jennifer Ortega, acrescenta que as aulas do projeto social ajudaram o filho a desenvolver a língua portuguesa. “As atividades escolares contribuíram para ele melhorar o idioma, assim como as atividades do projeto feitas na Igreja Batista Independente”, fala.
Projeto
O Projeto Nazareth é uma iniciativa da Pastoral do Migrante e tem apoio do projeto “Esperança sem Fronteiras”, da ONG Visão Mundial. O objetivo é contribuir, por meio da leitura, pintura, desenhos livres, rodas de conversa, para uma transição leve e lúdica de crianças migrantes e refugiadas da Venezuela para o Brasil. As atividades chegam a seis ocupações espontâneas: Balança, Florestal, Suapi, Macunaíma, Vila Nova e Vila Esperança. Todas localizadas em Pacaraima.
“As crianças refugiadas interagem bem nas aulas, elas gostam de aprender músicas em português, e isso facilita o aprendizado na cultura, na língua, de eles serem integrados na nova sociedade. Tudo é um desafio para eles, e, por isso, fazemos esse trabalho, para que na escola formal eles tenham menor impacto dessa mudança”, comenta a pastora Osanir, que atua como professora no projeto.
Elian da Silva Melo atuou na Educação por 35 anos. Hoje, aposentada, se dedica ao projeto de alfabetização de crianças migrantes e refugiadas. Para ela, “é um prazer muito grande”, pois tem acompanhado de perto o desenvolvimento de meninos e meninas. Com mais de três décadas de experiência, ela diz estar impressionada com o comprometimento das crianças venezuelanas em aprender.
“Ficam ligadas, elas aprendem, copiam, interagem e só falam em português comigo. Elas também me ensinam o espanhol. Quando falo algo errado, elas me corrigem, assim como faço com elas. São crianças elogiadas nas escolas públicas pelo bom português”, afirma.
O projeto “Esperança sem Fronteiras”, resposta da Visão Mundial em diversos países, incluindo o Brasil, é desenvolvido para dar assistência humanitária a venezuelanos que são forçados a deixar o país, bem como brasileiros em situação de vulnerabilidade. O foco é segurança alimentar e nutrição, educação e proteção infantil, além de outros meios de subsistência, como os cursos profissionalizantes.