Técnicos em laboratório da Prefeitura Municipal de Boa Vista denunciam que todo o serviço de exames laboratoriais foi terceirizado por meio de um contrato entre município e laboratórios de análises clínicas. Eles informaram que não sabem o que fazer com os reagentes que sobraram e que os casos mais graves devem ser levados para atendimento no Hospital Geral de Roraima (HGR).
Os profissionais confirmam que estão sendo remanejados para outros postos de saúde da cidade para que agora eles sejam responsáveis por encaminhar os pacientes para os laboratórios conveniados e fazer estatística de quantos encaminhamentos foram feitos durante o dia. A Prefeitura informou que o objetivo é ampliar o acesso aos serviços de saúde para população.
Os funcionários que não são estatutários temem pela exoneração do cargo e pela extinção da classe nos postos de saúde. “Tudo pode acontecer. Não podem fechar os laboratórios, são diversos técnicos e bioquímicos. Temos um bom espaço físico, com reagentes, não falta nada. Não consigo entender por que estão pagando empresas particulares para fazer. O que ganham com isso?”, questionou.
Os técnicos explicaram que há um projeto licitado para ampliação e automatização das atividades relacionadas aos exames solicitados pelos usuários do serviço de saúde do município. “Eu sei que tinha um recurso destinado para o projeto que foi aprovado. Agora vai ficar um funcionário em cada posto, inclusive foi feito o remanejamento. Nós vamos emitir as guias de autorização ambulatorial para o SUS [Sistema Único de Saúde]. Nossa função vai ser de marcar exames. Eu poderia estar feliz, mas está tudo errado. Como os idosos irão fazer para se locomover até o laboratório contratado? O objetivo do posto não é ser acessível à comunidade?”, questionou.
Os servidores também destacaram que o HGR não tem condições de suportar os usuários que solicitam exames pelo município, uma vez que sempre há casos de superlotação naquela unidade, que atende à Capital e municípios do interior. “Certo que os exames são gratuitos, mas o Hospital Geral é um lugar em que todo mundo tem de entrar na fila para ser atendido e, muitas vezes, os casos são de urgência. Quanto aos laboratórios, não é mais barato contratá-los porque, além de pagar os exames, tem de pagar os técnicos que são concursados, sem falar dos contratados que trabalham no serviço municipal de saúde”, acrescentou.
De acordo com a denúncia, antes que as medidas de remanejamento fossem tomadas pela prefeitura, já havia uma precarização nos exames, que passaram a ser realizados por cota. “Um dia a diretora do posto dizia que somente 50 exames poderiam ser realizados durante a semana e tem casos em que um único paciente precisa fazer dez exames específicos. A cota não era suficiente e, muitas vezes, éramos obrigados a fazer a redução na lista de análise, quando quem fez a requisição foi um especialista e, nestes casos, tudo o que se pede é necessário, não há como contestar”, frisou.
REUNIÃO – Outra reivindicação do grupo é que a Secretaria Municipal de Saúde convoque todos os que exercem função nos laboratórios para uma reunião. “Entregaram os memorandos e nunca disseram nada. Falta respeito com as pessoas. Nunca repassaram nenhuma informação e nem perguntaram nada. Os pacientes ficaram sem exames porque não tem quem faça. As requisições de exames do governo e das clínicas particulares já não estavam sendo aceitas pela prefeitura. O paciente precisava fazer a consulta e o exame no município, caso contrário, não poderia ser atendido”, pontuou.
PREFEITURA – A Prefeitura de Boa Vista informa que a proposta de aderir ao modelo de prestador privado para serviço laboratorial tem o objetivo de ampliar o acesso aos serviços de saúde, “sendo condizente com uma importante diretriz do Sistema Único de Saúde (SUS), que é a acessibilidade”. “Os serviços antes eram oferecidos em apenas cinco laboratórios básicos e hoje são ofertados em todas as unidades básicas de saúde, por meio do encaminhamento ao prestador privado”, frisou.
Por essa razão, segundo a nota enviada à Folha, os servidores foram remanejados para atender e fortalecer outros laboratórios que estavam precisando, entre eles, o do Hospital da Criança Santo Antônio e o Laboratório de Referência Municipal do Mecejana. Os profissionais que não forem lotados nessas duas unidades serão remanejados para as outras unidades de saúde notificadoras, possibilitando novas cotas de exames aos usuários.
A Prefeitura afirmou que está avaliando um plano de automatização e que no momento prioriza a eficiência na gestão dos recursos públicos, otimizando verbas para atender as necessidades mais urgentes e oferecer um serviço de qualidade à população.
A administração municipal acredita que essa iniciativa irá gerar um grande benefício à população, uma vez que, ao invés de cinco, serão 32 unidades expedindo exames. “As pessoas serão atendidas em um menor espaço de tempo, com mais agilidade e conforto. A intenção é credenciar o maior número de laboratórios possível para atender a população”, complementou. (J.B)