Cotidiano

Famílias vivem de coleta de materiais recicláveis

Boa Vista é uma das poucas capitais do país que ainda não possui a implantação de um serviço de coleta seletiva (veja matéria na página 5A). Todo o lixo da Capital, seja ele orgânico ou reciclável, é levado para o lixão, localizado às margens do trecho sul da BR-174. O trabalho de selecionar materiais que podem ser reaproveitados, que deveria ser de responsabilidade da Prefeitura, é feito por centenas de catadores, que tiram do lixo o sustento das famílias.

Um dos trabalhos de reaproveitamento é realizado por 28 coletores da Cooperativa Unirenda, que surgiu após o fechamento do antigo lixão, que ficava onde hoje é o bairro São Bento, na zona Oeste. Com a ajuda de um caminhão simples, cedido pela prefeitura, a entidade faz a coleta nos grandes geradores de papelão, que são comercializados para empresários.

Segundo a presidente da Unirenda, Janaína Lira, a falta de apoio do poder público tem feito com que a renda de muitos catadores, que ganham em torno de R$ 200,00 por mês, caísse. “Não temos mais acesso aos materiais que davam renda para nós, que são as latinhas, o cobre, o metal, o ferro e o bloco, porque não temos estrutura suficiente para disputarmos com outras coletoras”, disse.

Conforme ela, a ideia inicial de implantar a coleta seletiva surgiria com a doação de uma esteira para separar os materiais recicláveis, o que nunca aconteceu. “A estrutura fizeram, mas a parte da esteira nunca saiu. Não temos materiais adequados para fazer essa coleta”, explicou.

A cooperativa disputa o único caminhão para realizar a coleta de papelão pela cidade com outra entidade, a Terra Viva, que possui catadores trabalhando diretamente no lixão. “O caminhão é cedido uma semana para cada uma. A outra cooperativa coleta dia e noite, 24 horas, são quase 300 coletores”, comentou.

Sem a limpeza adequada dos materiais, a usina de beneficiamento vende o quilo do plástico, por exemplo, a R$ 0,60 para fornecedores do Estado do Amazonas, bem abaixo do valor de mercado. “Os preços são os próprios empresários que passam para gente. O imposto para levar para o Amazonas é alto, por isso vendemos bem abaixo de mercado. Além disso, tem gasto com nota e carreta, por isso não conseguimos ter um lucro esperada devido a toda essa dificuldade”, ressaltou.

Janaína criticou a falta de apoio da Prefeitura que, segundo ela, nunca apresentou um plano de implantação da coleta seletiva na Capital. “Falam que tem um plano, mas nunca mostraram. É uma situação difícil, porque trabalhamos por conta própria, contando com pouca ajuda. É muito doído vermos um projeto social como o que fazemos ser destruído. As condições são precárias”, frisou.

PREFEITURA – Em nota, a Prefeitura de Boa Vista informou que está elaborando o Plano de Resíduos Sólidos e está prevista nele a implantação da coleta seletiva na cidade. (L.G.C)