Nesta terça-fera, 15 de novembro, é comemorada a Proclamação da República, quando o Brasil deixou de ser uma monarquia e passou a ter o sistema de governo republicano. Mas a maioria das pessoas que foram ouvidas pela FolhaBV no Centro de Boa Vista e na avenida Ataíde Teive, no centro da capital, não sabe o que isso que dizer. De oito pessoas questionadas pela sobre o significado e a importância da Proclamação da República, nenhuma soube responder, de fato, o que este feriado comemora.
Quem tentou dizer alguma coisa, concluiu que a Proclamação da República era ‘”um momento para homenagear a República” ou “para lembrar dos nossos governantes”. Todas as respostas, no entanto, não se aproximaram da criação do governo republicano brasileiro.
Momento histórico
Mas o que explica a falta de conhecimento sobre um fato histórico brasileiro? Para o historiador André Augusto da Fonseca, mestre em Educação, doutor em História Social e professor da Universidade Estadual de Roraima (UERR), a Proclamação da República é uma data histórica abordada em sala de aula dentro da disciplina de história durante o ensino fundamental, mas poucos brasileiros adultos tiveram a oportunidade de estudar o tema.
“A universalização da educação é algo muito recente no Brasil. Fizemos isso só no fim dos anos 90, e isso significa que a nossa escolaridade é muito baixa comparado aos nossos vizinhos, por exemplo,como Uruguai, Argentina e Venezuela. É menor que oito anos, isso significa que a maioria dos adultos nunca chegou a cursar o 9º ano do fundamental, onde se estuda a Proclamação da República, a Primeira República, a Era Vargas, a Ditadura Militar e a redemocratização”, entende o historiador.
Para Fonseca, não há interesse da população em aprender sobre temas de grande relevância para a história do Brasil e a formação da sociedade contemporânea brasileira porque o foco está no trabalho e consumo, e não na educação.
“Nas economias capitalistas, que é a que vivemos aqui no Brasil, há uma ênfase maior no trabalho e consumo. Então o foco é maior no consumo. A maioria das pessoas não está interessada em saber como é financiada a educação, por exemplo, ou como funciona o sistema judicial brasileiro ou as leis penais e civis. Então é muito comum que se falem coisas abstratas e genéricas sobre corrupção, saúde e educação, mas sem o mínimo de interesse em saber como essas coisas funcionam”, avalia o historiador.
Proclamação da República
Apesar da criação do sistema republicano brasileiro, modelo que é adotado até hoje, Fonseca entende que a Proclamação da República não trouxe avanços sociais signficativos de imediato. “A Proclamação da República, em si, não representou uma mudança imediata na vida das pessoas. O Brasil continuou muito desigual, sem universidades, com 80% de analfabetos e um país essencialmente agrário e dominado pela monocultura. A desigualdade entre os estados aumentaram”, afirma Fonseca.
Para o historiador, a Primeira República não foi sinônimo de participação social. “No início da Primeira República, tivemos dois presidentes militares, que governaram de forma muito autoritária, e depois uma sucessão de governos que foram constituídos de forma não democrática, por meio de oligarquias estaduais. Uma autonomia maior dos estados, mas não necessariamente da população, porque o poder continuava concentrado em grupos oligárquicos”, finaliza.