Após ser alvo de operação da Polícia Federal, o ex-senador Romero Jucá divulgou nota em que diz ter se “surpreendido” pela ação – a qual descreve ser realizada “sem fundamento”. O político também afirma que está “tranquilo e confiante de que as investigações irão esclarecer a licitude dos atos praticados”.
Jucá, que não se elegeu senador nas eleições deste ano, diz estar “colaborando com toda a investigação e prestando os devidos esclarecimentos”.
Nesta quarta-feira (23), a PF cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços, como os ligados ao ex-senador, a exemplo do escritório localizado no bairro Canarinho, na zona Leste de Boa Vista. A Operação Imhotep, realizada em conjunto com a CGU (Controladoria Geral da União), investiga um esquema de corrupção e fraudes em convênios com diversas prefeituras de Roraima, como a da capital Boa Vista, entre 2012 e 2017.
De acordo com a PF, o inquérito foi instaurado após o TCU (Tribunal de Contas da União) identificar, por meio de Relatório de Produção de Conhecimento, as maiores recebedoras de recursos do Programa Calha Norte em Roraima.
O ex-senador disse, em nota, que o programa “é rigidamente acompanhado pelos órgãos fiscalizadores e pelo Exército Brasileiro, de modo que, em nenhum momento, houve denúncia de irregularidades nas obras realizadas”.
Romero também afirmou ter atuado na questão “cumprindo o seu papel como parlamentar. Ou seja, fazendo a interlocução entre o Ministério da Defesa e os municípios atendidos para a realização de obras que melhoraram a infraestrutura das cidades e a qualidade de vida das pessoas”.
“Todo o trâmite de execução das obras compete única e exclusivamente aos municípios contemplados com os recursos”, completou o ex-parlamentar.
Procurada, a Prefeitura da capital disse não ter sido citada na investigação, mas afirmou estar à disposição para possíveis esclarecimentos. “Reforça ainda que não compactua com quaisquer eventuais irregularidades, e irá colaborar com as investigações no que for preciso”, finalizou a nota.
Entenda
A PF informou que as investigações encontraram indícios da existência de uma organização criminosa que fraudaria procedimentos para celebração de convênios com prefeituras no estado entre os anos de 2012 e 2017, em especial com o município de Boa Vista.
Três empresas de engenharia pagariam propinas, que seriam distribuídas a servidores públicos que auxiliariam na prática dos crimes e ao ex-senador, que teria participação no esquema. Os recursos chegariam a Jucá por meio de familiares e de empresas de que são sócios, que receberiam os valores inicialmente.
De acordo com a PF, existem indícios que o ex-senador interferiria em assuntos relacionados a convênios nos quais houvesse a aplicação de verbas federais viabilizadas por ele, havendo evidências, inclusive, do “travamento” de pagamentos de verbas oriundas de emendas parlamentares de sua autoria caso não houvesse o pagamento de propinas.
As empresas suspeitas de integrar o esquema seriam responsável pela execução de mais de R$ 500 milhões em convênios durante o período, de forma que a investigação já teria identificado ao menos R$ 15 milhões pagos a título de propina.
Os principais crimes investigados são fraude em licitação, corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa. A soma das penas para estes crimes podem ultrapassar 35 anos de reclusão.