O fungo Fusarium oxysporum f. sp. cubense Raça 4 Tropical (FocR4T) tem o potencial de destruir plantações inteiras de bananeiras e deixar solos improdutivos por 40 anos, tornando a fusariose da bananeira uma das doenças de maior ameaça à bananicultura mundial. A praga e foi registrada recentemente em países vizinhos do Brasil, como Colômbia e Peru. A situação acende o alerta em instituições como o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e a Agência de Defesa Agropecuária de Roraima (ADERR), que têm buscado reforçar o monitoramento e a vigilância, e ainda orientar produtores e a população a auxiliar na prevenção do FocR4T.
Não existe tratamento contra a praga que, uma vez no solo, impede que nutrientes sejam absorvidos e alimentem a planta, a qual acaba morrendo e inviabilizando a produção na mesma área por décadas. O Estado de Roraima tem sido visto por técnicos das instituições com uma preocupação maior, porque faz fronteira com a Venezuela, um País com risco fitossanitário desconhecido.
“É muito fácil as pessoas transitarem de um país para o outro e aí eles podem trazer uma muda [de bananeira] na inocência, uma plantinha com terra”, explicou Juliana do Amaral Moreira Conforti Vaz, chefe do Serviço de Educação Sanitária, do departamento de serviços técnicos da Secretaria de Defesa Agropecuária do Mapa.
Formada como médica veterinária (Universidade Federal Fluminense-RJ) e mestre em Ciências Biológicas (Unicamp-SP), ela alertou que até o artesanato pode ser um aliado do fungo. “Os artesãos usam folhas de bananeira. E se vier de uma folha de um País que tem registro da doença, entra aqui. E o fungo é resistente. Ele entra na bolsa de artesanato, o esporo do fungo cai no solo e fica lá. Não é visível a olho nu, é um micro-organismo”, alertou.
Juliana do Amaral também alertou que, quem trouxer plantas contaminadas para o País, poderá responder criminalmente. “Uma vez que a gente esteja fiscalizando e pega uma pessoa trazendo produtos proibidos, ela pode ser enquadrada em contrabando”, disse, ressaltando ainda a vigilância agropecuária nas fronteiras brasileiras.
Sinais na bananeira
A bananeira acometida pela fusariose apresenta sinais, como folhas caídas e porte menor que o habitual. “É importante o produtor sempre suspeitar de qualquer coisa para chamar um técnico”, disse o engenheiro agrônomo e gerente de Defesa Vegetal da Aderr, Guilherme Rodrigues. “Esse fungo acomete as vias de entrada dos nutrientes. Ele vai perder a sua capacidade de produção de banana e as folhas vão ficar com aspecto amareladas e depois elas morrem”, completou Juliana.
Prejuízos econômicos
Segundo os especialistas, o consumo de uma banana contaminada pelo fungo não causa riscos a humanos e animais. Mas o prejuízo econômico para a sociedade é certo. “Se entrar aqui de uma forma disseminada, vai prejudicar muito os produtores de banana e encarecer [o produto] para o consumidor”, disse Juliana.
Roraima concentra a maior parte de sua produção no Município de Caroebe, no Sul do Estado, cujo principal mercado consumidor é o Amazonas. E a eventual presença dessa praga pode afetar negativamente a economia agrícola não só dessa região, mas também colocar em risco as demais regiões produtoras de banana do Brasil.
Conforme Guilherme Rodrigues, se a Fusariose Raça 4 Tropical entrar por Roraima e se espalhar por plantações pelo Brasil, barreiras comerciais podem ser impostas ao País.
Para se ter uma ideia, o Brasil é o terceiro maior produtor de bananas do mundo: possui uma área de 466,513 hectares e uma produção estimada de 6,7 milhões de toneladas. As informações são da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO-ONU).
Livro didático ajuda produtores e consumidores a se prevenir
Para sensibilizar os produtores sobre os riscos da praga da bananeira, Juliana do Amaral e Guilherme Rodrigues ministraram, nesta semana, um treinamento a técnicos agropecuários.
Uma das autoras do livro “Diálogos para Prevenção da Raça 4 Tropical da Fusariose em Bananeiras”, Juliana ainda incentiva a qualquer interessado no assunto a acessar o guia completo e didático para se munir de informações que ajudem a prevenir a doença, e também divulgá-las para o público em geral (acesse aqui).
“É um livro digital que não é pra ser lido, é mais uma caixa de ferramentas pra ser utilizado em ações educativas. Nele, tem infográficos, cartazes, mensagens de voz, de texto e, com base nesse material, a gente pode fazer vídeos ilustrativos. A proposta do livro é criarmos grupos de WhatsApp com os agricultores e promover, no grupo, um diálogo horizontal para que eles falem e expressem seus conhecimentos e, assim, passarmos semanalmente o conteúdo do livro”, explicou.
Para pedir para ingressar nesses grupos de troca de informação, o interessado pode ligar para a Diretoria de Defesa Vegetal da Aderr, pelo número (95) 3198-8602. “A proposta é trazer os agricultores ao grupo e fazer as ações educativas. O grupo de WhatsApp vai se tornar numa verdadeira sala de aula. E o produtor, por sua vez, vai pegar os materiais que for apreendendo e explicar para outros”, pontuou Juliana.