Saúde e Bem-estar

Quais os impactos da violência doméstica em crianças e adolescentes?

Psicóloga alerta que crianças podem ter diversas reações que podem evoluir para transtornos e até ideação suicida

A violência doméstica tem números impactantes no Brasil. De acordo com o último Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em 2020, os índices de violência no país possuem níveis alarmantes. Por hora, cerca de trinta mulheres sofrem agressão física no Brasil, enquanto para os casos de estupro a média é de uma vítima a cada 10 minutos.

No entanto, não são apenas as mulheres que sofrem com a violência doméstica, mas também crianças e adolescentes que convivem com o ambiente de agressões, como filhos, netos, sobrinhos ou outros menores que presenciam as agressões. A psicóloga e especialista em Neuropsicologia e Terapia Cognitivo-Comportamental, Julia Arnaud, explica que entre as diversas reações que as crianças podem ter ao presenciar uma agressão, estão o medo e a raiva do pai ou agressor.

“Entre as reações mais comuns são o medo e a raiva do pai ou do agressor. Então birras, choros e agressividade são comportamentos que demonstram o sofrimento de quem presencia esse abuso doméstico. Outra atitude muito comum é querer chamar a atenção para encerrar uma briga. E também é muito comum o desenvolvimento de transtornos como ansiedade e depressão, quando essa agressão não foi elaborada”, explica a psicóloga.

Consequências

Ainda de acordo com a especialista, as consequências da violência doméstica podem evoluir com efeitos de curto médio e longo prazo, com o surgimento de transtornos e dificuldades de aprendizado na escola, por exemplo.

“A família é parte do pilar do desenvolvimento da criança e do adolescente, então a violência doméstica dentro desse ambiente familiar, dessa base produz consequências não só de curto prazo, mas de médio e longo prazo então a gente percebe comportamentos não-adaptativos e déficits emocionais que podem evoluir para um comportamento impulsivo, um transtorno de hiperatividade, problemas de aprendizado na escola, transtornos de conduta e até mesmo abuso de substâncias psicoativas na adolescência e dentro dos relacionamentos, geralmente essa criança ou adolescente se torna muito mais impulsivo, agressivo e tende a reagir pelo o que ele mais preza em si e no ambiente familiar”, explica a psicóloga.

Além dos transtornos emocionais, caso não haja o cuidado psicológico adequado, as crianças e adolescentes podem sofrer efeitos mais graves e que podem causar efeitos para toda a vida.

“Além disso, temos também ideação suicida, níveis intensos de ansiedade, de medo, de raiva, de culpa, de isolamento, sensação de perigo e de confusão iminente, imagens distorcidas e dificuldade de perceber a realidade”, complementa a profissional.

Como evitar

Para evitar essas consequências, a psicóloga explica que a melhor atitude é procurar um acompanhamento psicológico para a criança ou adolescente que vai precisar de apoio para aprender a lidar com os traumas.

“O ideal seria que crianças e adolescentes não estivessem inseridos e não presenciassem em seus ambientes familiares agressões físicas, abusos psicológicos e incitação à violência. Já em termos de amenizar a violência que está instalada, é muito importante que crianças e adolescentes passem por um processo psicoterápico, que seja acompanhado por um psicólogo especialista na área, porque é preciso trabalhar os efeitos dessa violência a curto, médio e longo prazo e existem consequências que vão perdurando ao longo da vida caso essa violência não seja elaborada por essa criança ou esse adolescente”, complementa a profissional.

Denúncia

Para denunciar casos de violência doméstica, as vítimas de violência doméstica podem ligar para o número 180. O serviço registra e encaminha denúncias de violência contra a mulher aos órgãos competentes e fornece informações sobre os direitos da mulher, como os locais de atendimento mais próximos e apropriados para cada caso, como a Casa da Mulher Brasileira, a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) e a Defensoria Pública de Roraima (DPE-RR). A ligação é gratuita e o serviço funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana.

“É muito importante que a gente contribua para desmistificar essa cultura de que a violência doméstica e familiar é algo apenas da família, que é algo individual. É um problema de saúde pública e nós devemos sim fazer a nossa parte para que isso seja denunciado e que os agressores sejam punidos”, alerta a psicóloga.