Saúde e Bem-estar

Mais de 300 adultos convivem com Aids em Roraima 

1º de dezembro marca conscientização sobre a doença  

Desde 1988, após escolha da Organização Mundial da Saúde, o dia 1º de dezembro é considerado o Dia Mundial de Luta contra a Aids. Com o intuito de reduzir o preconceito, a data representa a mobilização de gerações de pacientes e profissionais de saúde para a conscientização sobre a doença e seus métodos de prevenção e tratamento. 

De acordo com dados do Núcleo Estadual de Controle das DST/AIDS, o estado de Roraima tem 326 adultos convivendo com a Aids. Deste total, 170 adquiriram a doença em 2021 e 156 entre 1º de janeiro ao dia 30 de novembro de 2022. 

Com relação aos óbitos, o Estado confirmou 94 mortes pela doença, sendo 50 em 2021 e 44 até o dia 30 de novembro de 2022. 

 A Secretaria de Saúde (Sesau) informa ainda que o Serviço de Atendimento Especializado é a referência do Estado no tratamento de pessoas com Aids. A unidade funciona junto à estrutura do Coronel Mota, e oferece atendimento integral aos usuários do Sistema Único de Saúde. 

 O SAE oferece acolhimento com profissionais de enfermagem, psicologia, serviço social e fisioterapia. O paciente também conta com os serviços de pediatra, clínico geral e infectologia. 

 Vale ressaltar que todos os municípios do Estado dispõem de referências para o tratamento de pessoas convivendo com Aids. 

“Infelizmente, o preconceito ainda está presente, embora tenha diminuído nas últimas décadas. Pessoas infectadas pelo HIV podem demorar a procurar o serviço de saúde por medo de discriminação e isso pode levar a diagnósticos tardios que, sem tratamento adequado, podem se manifestar em estágios avançados da AIDS, com risco de morte e sequelas graves”, afirma o médico infectologista e docente do IDOMED, Íris Ricardo Rossin.  


Médico infectologista e docente do IDOMED, Íris Ricardo Rossin (Foto: Arquivo Pessoal)

 O profissional explica que a AIDS é a sigla formada a partir do inglês “Acquired ImmunoDeficiency Syndrome” e se refere a uma síndrome multissistêmica adquirida (não congênita) causada pelo vírus HIV (vírus da imunodeficiência humana). Esse vírus ataca o sistema imunológico do infectado e resulta em um estado no qual ocorre perda da capacidade de defesa imune do organismo, ocasionando o surgimento frequente de doenças. O que leva a quadros infecciosos muito graves com risco de morte.  

 O médico frisa que ser portador do HIV não significa que a pessoa tenha AIDS. A síndrome representa o estágio extremo da imunodeficiência provocada pelo vírus e só aparece em pessoas infectadas pelo HIV que não foram tratadas adequadamente.  

 O vírus pode ser transmitido por uma relação sexual desprotegida, pelo contato com sangue contaminado, devido à transfusão ou ao compartilhamento de seringas, por exemplo, e da mãe para o bebê durante a gestação, parto ou aleitamento.  

 “O diagnóstico da AIDS se faz quando um indivíduo tem o teste anti-HIV positivo em uma amostra de sangue e apresenta sinais e sintomas de imunossupressão, com infecções graves e, na maioria das vezes, com manifestações não comuns. Podem ocorrer pneumonias por fungos como a pneumocistose, lesões cerebrais por toxoplasmose e até mesmo meningite por tuberculose”, completa o especialista Íris Ricardo Rossin.    

As situações de imunodeficiência provocadas pela AIDS podem levar a sequelas definitivas como lesões neurológicas e pulmonares, além de complicações muito graves com risco de morte como insuficiência respiratória, crises convulsivas ou arritmias que podem provocar parada cardíaca.  

Tratamento  

O tratamento é feito com medicamentos antirretrovirais, como o AZT, Tenofovir, lamivudina e Dolutegravir, por exemplo. Esses medicamentos alteram etapas do ciclo de vida do HIV e provocam a morte do vírus, que se encontra replicando no sangue e demais tecidos. No Brasil estão disponíveis, de forma gratuita pelo SUS, vários medicamentos antirretrovirais e o médico infectologista determina o tratamento adequado para cada paciente conforme as características individuais.  

Ainda, indivíduos que passaram por alguma situação de risco de contaminação podem procurar atendimento médico e serem orientados a usar medicações profiláticas contra a transmissão do HIV, seja em situações de exposição imediata (profilaxia pós exposição – PEP) ou com comportamentos de risco aumentado para a transmissão (profilaxia pré exposição – PrEP). O médico com treinamento específico é quem determina a abordagem mais adequada, no Brasil esses atendimentos podem ser feitos tanto na rede de referência do SUS quanto em consultórios privados.  

 “O HIV é o causador da AIDS e se conseguirmos evitar a transmissão do vírus, não ocorrerá a doença. As medidas de prevenção para evitar a transmissão do vírus envolvem um conjunto de abordagens, desde questões relativas ao comportamento e educação sexual como o uso de métodos preservativos de barreira (ex. Camisinha ou condom), até testes no Pré Natal e em campanhas de testagem. Além do tratamento precoce dos indivíduos contaminados pelo vírus”, avalia Íris.  

 Apoio e acompanhamento psicológico  

Apesar dos tratamentos e conhecimentos sobre o HIV terem evoluído significativamente nos últimos anos, a imagem que muitos ainda carregam é a do vírus relacionado à promiscuidade, ao castigo e à debilidade física. Há muito que ser feito para a desconstrução da visão social sobre alguém soropositivo.  

Mesmo que existam recursos para garantir uma vida segura e saudável para o paciente e para aqueles que venham a se relacionar com o mesmo, a falta de informação costuma atrapalhar os relacionamentos interpessoais.  

“O acompanhamento psicológico ajuda o paciente a entender seus desafios e construir potencialidades. O equilíbrio emocional, o acesso a informações e o apoio de pessoas afetivamente importantes estão diretamente conectados a um tratamento de sucesso”, declara o psicólogo clínico e docente da Estácio, Renato Cezar Silvério Júnior.  

 Curiosidade 

O laço vermelho passou a ser usado como símbolo dessa luta a partir de 1991. Foi criado pela Visual Aids como uma forma de homenagear todas as pessoas que sofrem e morrem em decorrência da doença.