Cotidiano

Denarium é acusado de interferir na eleição do Sinter

Secom nega interferência do governador de Roraima. Chapas pediram anulação do pleito por irregularidades na reeleição da diretora-geral Josefa Matos, mas maioria da comissão eleitoral negou os recursos e manteve o resultado

O governador Antonio Denarium (Progressistas) é suspeito de interferir na eleição do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado de Roraima (Sinter), em que a diretora-geral Josefa Matos foi reeleita após apuração marcada por briga e votos anulados. A acusação baseia os pedidos de anulação do pleito e de impugnação do grupo vencedor, apresentados pelas chapas 30 e 40 à comissão eleitoral do maior sindicato do Estado. Os recursos foram negados.

Líder da chapa 30, a professora Albanira Cordeiro de Araújo anexou ao pedido de anulação o ofício enviado por Josefa Matos ao governador no dia 24 de novembro. No documento, ela pede urgência para o chefe do Poder Executivo assinar as minutas do abono pró-funcionário e do adicional de qualificação dos técnicos educacionais enquadrados no PCCRDEB (Plano de Cargos, Carreiras e Remuneração da Educação Básica). “Essas demandas sendo atendidas nos ajudará [sic] muito nessa campanha eleitoral. Conto com sua atenção especial para essas situações”, disse no ofício.


Ofício enviado por Josefa Matos (Foto: Reprodução)

No dia 2 de dezembro, Denarium assinou o decreto que regulamenta o abono pró-funcionário e, na mesma data, postou fotos nas redes sociais ao lado de duas diretoras que representaram Josefa Matos na reunião que oficializou a assinatura.

Em nota, a Secom (Secretaria Estadual de Comunicação) negou interferência de Denarium no pleito. “O Governo do Estado iniciou o levantamento dos valores sem qualquer relação com o processo eleitoral do Sinter e já vinha trabalhando para que o abono pecuniário extraordinário seja pago mais uma vez aos servidores da educação”, disse, em nota que pode ser lida na íntegra ao final da reportagem. A reportagem tentou contato com Josefa Matos, mas sem sucesso. O texto será atualizado caso receba o posicionamento.

Para Albanira Cordeiro, a suposta interferência ajudou no resultado final da eleição, anunciado no último dia 7. No mesmo pedido, ela cita que a chapa vencedora teria um membro com cargo comissionado no governo estadual, o que seria proibido pelo estatuto do Sinter. Por fim, a professora denunciou a chapa por supostamente ter pago R$ 15.530 de material de propaganda durante as eleições, o que também ilegal no âmbito do sindicato.

Para a chapa 30, isso é caso para a atual diretoria executiva ser destituída por decisão de metade mais um dos delegados presentes no Congresso dos Trabalhadores em Educação, que ainda nomearia uma comissão provisória para, em 90 dias, gerir as atividades do Sinter e convocar novas eleições.

À Folha, Albanira Cordeiro citou outras supostas irregularidades no processo eleitoral, como professores sindicalizados sem treinamento atuando como mesários, votos sem assinaturas de presidente e mesário de seções, e incoerência entre os números de votos e de votantes.

“O processo todo a gente pode dizer que foi tendencioso sim”, afirmou. “Era tanto absurdo que a gente via que ficava difícil estar elencando todos”, completou ela, avisando que, caso a comissão eleitoral não acate os pedidos, recorrerá à Justiça para anular a eleição.

Comissão eleitoral mantém resultado


Sede do Sindicato dos Trabalhadores em Educação, no bairro 31 de Março (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Por três votos a dois, a comissão eleitoral negou os recursos das chapas 30 e 40 e manteve, nessa sexta-feira (16), o resultado da eleição. Luiza Bermeo Pinto, Marli Vieira Pereira e Márcia Alves Souto Maior negaram os pedidos por entenderem que “não há indícios de fraudes no processo eleitoral” e que “não houve influência alguma”. Por sua vez, Otávio Cordeiro e Reginaldo Pereira de Carvalho votaram pela anulação do pleito. Carvalho considerou ser “gravíssima a denúncia” nos recursos e renunciou ao cargo após a decisão.

Nota da Secom sobre suposta interferência

“A Secretaria de Comunicação nega que tenha ocorrido qualquer tipo de interferência no processo eleitoral do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Roraima.

E esclarece que o Governo do Estado iniciou o levantamento dos valores sem qualquer relação com o processo eleitoral do Sinter e já vinha trabalhando para que o abono pecuniário extraordinário seja pago mais uma vez aos servidores da educação.

O Governo aguarda o cronograma dos próximos repasses, a serem feitos pelo Governo Federal, nos dias 20 de dezembro e 30 de dezembro para ter a definição de valores a serem repassados a todos os trabalhadores da educação estadual.

É importante destacar que em 2021 foi a primeira vez que o abono pecuniário extraordinário foi pago no Estado de Roraima, quando mais de oito mil servidores da Educação receberam de R$ 6 mil cada, totalizando investimento de R$ 48 milhões na valorização dos trabalhadores em educação.”