Um pequeno quarto com cama, guarda-roupa e um computador com alguns jogos online instalados, é o ambiente que o adolescente Luan Arahel da Silva Teixeira, de 12 anos, passa a maior parte do tempo. O motivo, porém, não é o desejo de ficar isolado, mas sim, a longa espera por uma cirurgia ortopédica que chega ao 85º dia nesta quarta-feira (21).
Com o filho sem poder sair da cama, a dona de casa Ethel Teixeira, de 38 anos, colocou uma pequena árvore decorada no quarto, já que ele é apaixonado pelo Natal. Ao perguntar à Luan o que ele gostaria de ganhar do Papai Noel, sem pensar muito, o menino respondeu: fazer a cirurgia, voltar a brincar com os patins e jogar futebol.
No final de novembro, a FolhaBV noticiou a dificuldade de Luan em obter o Tratamento Fora de Domicílio (TFD) por meio da prefeitura de Boa Vista. O menino, que tem o diagnóstico de autismo, caiu na cozinha de casa em 23 de setembro e sofreu uma epifisiólise, quando há escorregamento da cabeça do fêmur na bacia. Ele ficou internado no Hospital da Criança até dia 17 de novembro e teve alta.
Procurada, a Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), por meio do setor de TFD, disse que “continua reiterando os pedidos de vagas em unidades de outros estados, mas até o momento sem respostas positivas”. Informou ainda que o adolescente passou por avaliação de um especialista de outro estado enquanto aguarda cirurgia.
Segundo Ethel, devido à demora para a cirurgia acontecer, o procedimento deixou de ser simples e agora, será necessária a reconstrução do fêmur de Luan. Durante a avaliação, ela diz que o médico constatou que mesmo com o procedimento, haverá sequelas.
“Eles [equipe do médico especialista] já deram o orçamento [da cirurgia], que já foi passado para o hospital, só que até agora nada. Foi semana passada que eles entregaram esse orçamento e depois da consulta, a gente não teve nenhuma ligação para saber alguma coisa sobre a situação do caso do meu filho”, explicou Ethel.
A dona de casa e o esposo, Altorbeli Da Silva Ferreira, procuraram a Defensoria Pública do Estado de Roraima (DPE-RR) e ingressaram com uma ação para obter o TFD na Justiça. Com o recesso forense no poder judiciário, ela foi informada de que uma decisão só deve sair após o dia 9 de janeiro.
Além de Luan, o casal possui mais dois filhos, uma menina de 2 anos e um rapaz, de 19. Eles também cuidam do pai de Ethel, de 84 anos, diagnosticado com Alzheimer.
“É difícil, é complicado você ter seu filho acamado, sem poder sentar. O meu coração como mãe fica aflito, é muito triste ver uma criança que era ativa, apesar dele ser autista. Então, eu fico muito triste com essa situação. Quero que a prefeitura me dê uma resposta. Quando é que vai ser feita a cirurgia? Já foi feito o orçamento? O médico, no dia que atendeu o meu filho, disse “se querendo, semana que vem a gente opera”. Então, o que está faltando para ser realizado a cirurgia do meu filho? Quero uma resposta”, salienta Ethel.