Política

Bandidos trocam tráfico de droga pelo de alimento

"Os revendedores são uma praga que estão prejudicando o povo", afirmou Diosdado Cabello, presidente da Assembleia Nacional

Há pessoas na Venezuela que vendem apenas os produtos básicos que sobram de suas compras.

De acordo com a Lei de Preços Justos, que estabelece a regulação de preços de produtos de primeira necessidade no país, a revenda desses bens é crime sujeito a pena de três a cinco anos de prisão.

Desde a última semana, o governo venezuelano reativou sua campanha para acabar com esse contrabando, que, segundo as autoridades, é uma das principais causas da escassez de produtos básicos, parte de uma suposta “guerra econômica contra o povo”.

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou uma lei que busca fortalecer as medidas policiais, articuladas na chamada Operação de Liberação do Povo, para acabar com a revenda.

“Os revendedores são uma praga que estão prejudicando o povo”, afirmou Diosdado Cabello, presidente da Assembleia Nacional.

O prefeito de Puerto Cabello, no centro do país, deu início a um programa de trabalho comunitário para a “reabilitação” dos revendedores presos, que, enquanto limpam as ruas da cidade, vestem um macacão laranja com “Sou um ‘bachaquero’ e quero mudar”.

Os venezuelanos passam cerca de cinco horas na fila por semana para comprar produtos básicos

No último ano, a palava “bachaqueo” ─ e o consequente verbo “bachaquear” ─ se tornaram parte essencial do vocabulário e da vida dos venezuelanos.

Cada pessoa pode fazer as suas em um dia da semana, dependendo do número de seu documento.

A palavra vem de “bachaco”, uma formiga de traseiro avantajado típica da região de Sudamérica, sobretudo da fronteira com a Colômbia.

Lá, até um ano atrás, os “bachaqueros” eram pessoas que contrabandeavam produtos e gasolina para a Colômbia, país onde esses bens são dezenas de vezes mais caros.

Porém, desde que a escassez de produtos subsidiados aumentou na Venezuela, a revenda se tornou uma atividade rentável também dentro do país.

Esses revendedores já não são necessariamente contrabandistas que levam produtos de um país para outro, mas também pessoas que compram produtos em um supermercado e os revendem no mercado negro, seja em domicílio ou em mercados informais nas ruas.

Muitos venezuelanos veem os “bachaqueros” como um mal necessário, e compram deles para evitar as filas.

Outros, no entanto, seguem a linha do governo e os culpam pela origem da escassez.

Cerca de 60% das pessoas que fazem filas nos supermercados venezuelanos revendem os produtos que conseguem levar, segundo o Datanálisis, instituto de pesquisas baseado em Caracas.

Isso não significa, entretanto, que todos sejam revendedores em grande escala: há quem repasse apenas o que sobra de suas compras, quem venda fora do país e outros que contam com uma ampla rede de contatos que lhes permite comprar grandes quantidades de produtos, que eles guardam e vendem quando há oportunidade.

A revenda desses produtos ocorre com um preço, em média, cinco ou seis vezes maior que o original, aponta o Datanálisis.

Um litro de óleo de milho, cujo preço é de 28 bolívares (cerca de R$ 15), é encontrado no mercado negro por entre 200 e 250 bolívares (R$ 110 a R$ 138).

Um quilo de frango deveria valer 65 bolívares (R$ 36), mas é encontrado por 600 bolívares (R$ 332) em pequenos açougues.

E um quilo da famosa PAN, farinha de milho pré-cozida usads para fazer as tradicionais arepas, custa 19 bolívares (cerca de R$ 10) no preço regulado, mas os “bachaqueros” as vendem por 100 bolívares (R$ 55).

Fonte: Terra