Política

Lula demite comandante do Exército

Substituto será o atual comandante militar do Sudeste, general Tomás Miguel Ribeiro Paiva

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu demitir o comandante do Exército, general Júlio César de Arruda. O substituto será o atual comandante militar do Sudeste, general Tomás Miguel Ribeiro Paiva.

Ontem, Arruda participou de uma reunião com Lula e o ministro da Defesa, José Mucio Monteiro e os comandantes da Marinha e da Aeronáutica.

O substituto no cargo, general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, afirmou nesta sexta-feira, 20, que o resultado das urnas deve ser respeitado. O general fez a primeira manifestação pública desde os atos golpistas de 8 de janeiro. Ele era apontado como o favorito na transição, preferido do PT e ligado aos tucanos.

“Vamos continuar garantindo a nossa democracia, porque a democracia pressupõe liberdade e garantias individuais e públicas. E é o regime do povo, de alternância de poder. É o voto. E, quando a gente vota, tem de respeitar o resultado da urna”, disse.

Nas duas últimas semanas, cresceu o mal-estar entre Lula e Júlio César de Arruda, após o general impedir a entrada de policiais militares do Distrito Federal no acampamento montado em frente ao Quartel General do Exército, depois dos atos de vandalismo na Praça dos Três Poderes.

Durante a última semana, Lula já vinha demonstrando irritação com Arruda, devido a esse posicionamento. Havia dúvidas dentro da cúpula do PT, no entanto, em relação aos desdobramentos que a demissão poderia causar, com riscos de crescer a crise com os militares.

Oficial de infantaria, Tomás Paiva é tido como um dos nomes mais moderados da caserna e com boa aceitação no futuro governo, especialmente porque teria desenvolvido relações mais próximas com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB). Paiva foi ajudante de ordens do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), antigo aliado de Alckmin. Sempre nutriu relações com os tucanos desde então.

Articulado e apontado como crítico de episódios de politização na caserna, o general Tomás disse ao longo de 2022 que as Forças Armadas “não andam ao sabor de um governo ou de outro” e são comprometidas com a Constituição. Durante a pandemia, afirmou que a covid-19 era “a missão mais importante de sua geração”.

Ele foi chefe de gabinete do ex-comandante do Exército Eduardo Villas Bôas, crítico de Lula e autor de um tuíte em 2018 assimilado em Brasília como ameaça ao julgamento que o Supremo fazia e poderia impactar no futuro do petista. Na véspera do segundo turno, o ex-comandante voltou a fazer previsões em tom catastrófico sobre um “governo de oposição”. Também comandou a Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), o Batalhão de Guarda Presidencial e chefiou o Departamento de Educação e Cultura, entre outros cargos”.

Tomás Paiva se cacifou ainda mais para o cargo com discurso que fez no Comando Militar nesta semana, quando o Comando Militar do Sudeste (CMSE) homenageou 18, os militares do 11º contingente da Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti que morreram no terremoto do dia 12 de janeiro de 2010.