Cotidiano

Militares do PEFs ficam dois meses sem receber alimentos

Nos pelotões de selva como Auaris e Surucucu, onde o acesso é apenas por via aérea, os militares estão sofrendo com falta de alimentos

Familiares de militares do Exército Brasileiro, que são lotados nos Pelotões Especiais de Fronteira (PEF), denunciaram à FolhaWeb que o envio de aeronaves da FAB – o único meio de transporte utilizado para enviar alimentação e equipes para as regiões onde estão instalados o PEF de Surucucu e o de Auaris – chega a demorar dois meses, causando transtorno para quem trabalha no meio da selva.

Conforme os denunciantes, além dos gêneros alimentícios, as aeronaves transportam combustíveis, materiais pessoais dos militares e familiares, e os demais suprimentos necessários para o funcionamento dos PEFs. Os pelotões de Roraima estão localizados em Bonfim, Normandia, Pacaraima, Auaris (Amajari), Uiramutã e Surucucu (Alto Alegre). Mas apenas para Auaris e Surucucu é que o acesso é de avião, pois eles são pelotões de selva.

Os familiares explicam que a demora no envio das aeronaves causam transtornos de toda ordem. Vão desde a falta de alimentos para toda a equipe, racionamento de energia, como prejudicar a dispensa dos 10 dias na cidade a que os militares têm direito após cumprir 90 dias de trabalho no PEF de selva. Conforme eles, tem militar que chega a ficar de quatro a cinco meses direto na selva, sem sair para a capital.

Um parente de um dos militares lotados em PEFs contou à reportagem que para não sofrer com o desabastecimento de comida na região, um grupo de militares decidiu racionar o que tinha e também caçar animais para complementar a alimentação.

No Pelotão de Auaris a escassez de alimentos já existe, principalmente, de proteínas. Ultimamente os militares estão comendo apenas arroz e farinha. “Algumas pessoas estão recorrendo à Sesai [Secretaria Especial de Saúde Indígena] para enviarem alimentos e materiais de higiene pessoal, mesmo que em pouca quantidade, nos voos regulares que o órgão dispõe para o atendimento das áreas indígenas”, contou um parente de militar de Sururucu.

Na semana passada havia uma promessa por parte do 7º Batalhão de Infantaria de Selva (BIS), responsável pelos PEFs, de que uma aeronave seria enviada na última segunda-feira, mas até hoje os militares que aguardavam voltar para a capital, continuam nos Pelotões.

“O mais triste é a situação dos cabos e soldados que não podem levar seus familiares para ficar junto, e acabam sofrendo psicologicamente com toda essa situação”, disse um dos familiares denunciantes, ressaltando que o temor das famílias é quanto a remoção de militares no caso de acontecer algum acidente no meio da selva.

EXÉRCITO
Em nota, o setor de Comunicação Social da 1ª Brigada de Infantaria de Selva negou que esteja faltando gêneros alimentícios em algum dos PEFs, localizados em Roraima, ressaltando ainda que todos os pelotões “são regularmente supridas seja pelo modal terrestre ou pelo modal aéreo”.

A reportagem questionou sobre a data que aconteceu o último envio de aeronave com alimentos para os PEFs de Auaris e Surucucu, onde o acesso é somente via aéreo. A Comunicação do Exército se limitou a informar que “desde segunda-feira (24) está sendo realizado o ressuprimento mensal (PAA), que vai até sábado (29)”.

A nota informa ainda que os militares que são lotados nos pelotões são “rigorosamente selecionados dentre os voluntários e normalmente permanecem um ano no pelotão” e que “sempre que possível, aproveitando o Plano de Apoio da Amazônia, é concedido o arejamento em forma de rodízio, entre todos os militares presentes no pelotão”.