O novo coordenador do Distrito Sanitário IndÃgena Yanomami (Dsei-Y), Leandro Alves Lacerda, é investigado por suposta apropriação indébita. Em nota à Folha, Lacerda nega as acusações, as quais considera “descabidas” de sua realidade como profissional de saúde indígena (leia a nota completa ao final da reportagem).
Em 2014, ele teria desviado R$ 1,7 mil de um indígena yanomami para a própria conta bancária. Na época, ele trabalhava como técnico de Enfermagem ligado à missão evangélica Caiuá, conveniada ao Ministério da Saúde.
Naquele ano, a vítima relatou ao setor de Recursos Humanos do Dsei-Y ter ido ao banco e se surpreendeu, pois não havia o montante esperado ao sacar dinheiro. Com isso, emitiu o extrato que comprovaria a transferência, sem seu próprio consentimento, de sua conta para a de Leandro Lacerda.
No ano seguinte, a então coordenadora do Dsei-Y, Maria de Jesus do Nascimento, relatou o caso ao Ministério Público Federal (MPF) e à Polícia Federal (PF), informando ainda que não havia autorizado o profissional ou qualquer outro servidor para recolher qualquer quantia de indígenas.
“Informes dão conta de que este mesmo funcionário, se aproveitando de sua proximidade e confiança com os índios, tem vendido armas de fogo para alguns indígenas levarem para suas comunidades”, relata o ofício.
Ainda em 2015, o MPF declinou da competência sobre a apuração e a encaminhou para órgãos estaduais, como o MPRR (Ministério Público de Roraima) por entender que o crime não afetaria a coletividade indígena. Em 17 de novembro de 2022, o MPRR reclamou no processo que o inquérito estava paralisado há mais de um ano, sem qualquer manifestação da autoridade policial sobre a conclusão das investigações.
Com isso, o órgão deu 90 dias para a Polícia Civil de Roraima promover as diligências necessárias para elucidar o caso. A corporação prometeu verificar as novidades do inquérito nessa terça-feira (14), a pedido da Folha.
Indicação
A nomeação de Leandro Lacerda pelo Governo Lula atendeu ao pedido do partido Rede Sustentabilidade, e contou com o apoio do xamã e líder yanomami Davi Kopenawa e da própria comunidade indígena do Estado, que alegava que o cargo precisaria ser preenchido por quem já conhecesse a realidade dos indígenas da etnia.
Nota de Leandro Lacerda
O processo de nomeação, assim como os requisitos, são rigorosos, para isso, foi realizada a juntada de documentos pessoais, certidões e certificados que comprovaram a minha idoneidade.
Não tenho conhecimento de tais acusações descabidas da minha realidade como profissional de saúde indígena.
A complexidade de se trabalhar com os Povos Yanomami, requer atenção, cuidado e responsabilidade, e isso eu sempre tive enquanto agente de endemias, técnico em enfermagem e responsável pela interculturalidade.
Qualquer acusação caluniosa, não interromperá o meu trabalho como Coordenador Distrital de Saúde Indígena, prezarei pela autonomia e respeito entre a população Yanomami, qual me confiou o cargo.
Quanto ao inquérito policial, qual ainda desconheço, no momento que chegar até mim, prestarei quaisquer informações que forem necessárias, mediante o que me for solicitado.
É necessário lembrar que, o cargo de coordenador sempre ficou a mercê das nomeações políticas, portanto, neste momento surgirão inverdades daqueles que foram oposição a nomeação realizada pelos Yanomami.
Ademais, sigo a disposição de quaisquer esclarecimentos que porventura se fizerem necessário.
*Por Lucas Luckezie