Há mais de dois meses em greve, os servidores federais reivindicam melhorias em vários locais do País. Em Boa Vista, algumas instituições públicas federais estão paradas. É o caso da Universidade Federal de Roraima, em que os alunos, que já deveriam ter voltado das férias desde o início deste mês, ainda não têm perspectiva do retorno das aulas.
De acordo com a presidente da Seção Sindical dos Docentes da Universidade Federal de Roraima (Sesduf-RR), professora Sandra Buenafuente, o Governo Federal “não se preocupou em debater com a categoria o final da greve, portanto, ainda não há previsão para o final dela”.
Entrevistada pelo radialista Getúlio Cruz, na manhã deste domingo, 30, durante o programa Agenda da Semana, na rádio Folha AM 1020, a professora afirmou que um dos principais propulsores da greve das instituições de ensino federais no Brasil é atitude adotada pelo Governo Federal em financiar o Ensino Superior privado no País e reduzir os investimentos na expansão e na melhoria do ensino público.
“Não somos contra programas como o FIES [Fundo de Financiamento Estudantil], mas vemos o Governo reduzir consideravelmente os investimentos em educação e saúde públicos, o que consideramos como pilares para se ter uma sociedade mais igualitária. Por não aceitarmos isso, tivemos que parar”, afirmou a professora.
Para Sandra Buenafuente, em vez de pagar para que a população brasileira se instrua no serviço privado, um programa de investimentos e melhorias deve ser realizado para que todas as classes tenham condições de ter acesso ao ensino público superior de qualidade.
“Neste contexto de greve, aqui na UFRR, nós temos dois cursos que estão sendo atingidos diretamente com essa falta de infraestrutura e investimentos para que haja uma manutenção do aluno e da universidade, para que ela possa fornecer as atividades regularmente. São eles: o curso de Educação do Campo, em que os alunos não têm como vir do campo e se manter na cidade; e a Educação Indígena, os alunos do Insikiran. Este curso está parado, e se não houver um apoio, eles sofrerão sérias penalidades”, revelou.
Tendo em vista estas dificuldades, a presidente da Sesduf explicou ainda que a principal reinvindicação dos alunos é a ampliação da residência universitária. “Nós temos uma casa do estudante muito limitada”, explicou Sandra Buenafuente, ressaltando ainda que devido à falta de assistência aos alunos, a universidade enfrenta como consequência altos níveis de evasão.
“Nosso Estado tem particularidades. Além de não termos uma casa do estudante que comporte nossos alunos mais humildes, ainda estamos impossibilitados de assistir alunos que vêm de outros estados e que participam de programas como a Mobilidade Acadêmica, por exemplo”, ressaltou a presidente da Sesduf.
Ainda durante o programa, foram abordados outros assuntos da pauta grevista, dentre eles: a não mercantilização das universidades; melhoria nas condições de trabalho; autonomia financeira das universidades sob os recursos repassados para o desenvolvimento de projetos; reestruturação da carreira dos profissionais e valorização salarial entre profissionais ativos e aposentados.
Para a presidente da Sesduf, a greve é prejudicial a todos, e se não for encerrada logo, modificará o calendário universitário, trazendo entraves para toda a comunidade acadêmica. “Não é só o aluno que sofre com a greve. Professor trabalha muito mais em período de greve. Além de ir às ruas lutar pelos seus direitos e se desgastar muito, a lei prevê que devemos repor todas as aulas mesmo em final de ano ou feriados. Portanto, é importante que a sociedade entenda que não estamos parados por vontade, mas sim porque queremos melhores condições para todos, e esse é o nosso meio legal de conseguir”, pontuou.
Para encerrar, a professora afirmou que está marcada uma reunião para esta quinta-feira, 3, em Brasília (DF), com representantes do Governo Federal para discutir a pauta da greve. “Só conseguimos uma conversa com o Governo porque na semana passada os servidores em greve bloquearam o acesso ao Congresso Federal e eles não tiveram opção a não ser conversar com a gente”, frisou. (J.L)