A cobertura de denúncias e ocorrências policiais em Boa Vista, sempre fez parte da carreira da jornalista Angra Soares. Porém, uma das diversas reportagens feitas pela profissional, ganhou um destaque maior: a briga entre vizinhos do “arreia a mão na minha cara”.
Agora conhecida como “repórter do arreia”, Angra iniciou a carreira como jornalista em 2005, quando ainda estava no segundo período do curso de Jornalismo na Universidade Federal de Roraima (UFRR). A reportagem em questão, foi gravada em maio de 2011, mas repercutiu nacionalmente apenas em 2019. Até hoje, o vídeo gera diversos memes na internet (assista abaixo).
“Eu nunca imaginei que ia ter toda essa repercussão. Que a reportagem iria viralizar, porque para mim, era algo do meu cotidiano, né? Uma matéria comum. Foi algo inusitado, mas algo do dia a dia”, compartilha Angra.
E, de fato, deveria ser mais uma pauta do dia a dia na TV. Conforme Angra, a denúncia de um dos vizinhos, o “seu Roque”, chegou à produção do programa já no final da manhã. Ela e o cinegrafista Pedro Paulo Correa, seguiram até o antigo bairro Caetano Filho, conhecido como Beiral, onde hoje fica o Parque do Rio Branco.
“Na época, o vizinho ligou para a TV reclamando porque a rua alagava, não tinha asfalto. E aí, o vizinho do lado dele, no caso o seu Chiquinho, colocou um barro na frente de casa para cobrir a lama. Só que, esse barro criou uma contenção e acabou alagando a frente das casas dos outros vizinhos. E aí, o seu Roque, ligou querendo reclamar, para que aquela situação fosse resolvida, porque o barro na frente da casa do seu Chiquinho, estava fazendo com que a água ficasse acumulada na frente da casa dele. Fui gravar com o seu Roque e no momento, o seu chiquinho chegou e, a confusão começou”, detalha Angra.
Em pouco tempo, Angra se viu no meio de uma confusão entre os dois vizinhos e o filho de um deles. Ela conta que teve medo naquele momento. Era a primeira semana dela como repórter na emissora.
“Eu fiquei preocupada, com medo deles irem às vias de fato. Eu tentei me afastar, porque achei que ia sobrar para mim. Muita gente pensa que eu queria sorrir da situação, mas, na verdade, eu estava com medo. Eu queria me afastar dali, quem não deixou foi o cinegrafista, que percebeu o que estava acontecendo e quis capturar tudo. Então, eu não podia me afastar por causa do microfone, porque tinha que capturar o áudio também”, conta.
Assim que repórter e cinegrafista encerraram a gravação e voltaram para a emissora, o conteúdo “foi ao ar do jeito que veio, tudo bruto”, conforme Angra. O programa começaria ao meio-dia e não havia tempo de editar. Ela diz que, na época, “todo mundo ficou admirado […] mas, ficou por isso mesmo”.
Oito anos após a exibição da reportagem, Angra foi surpreendida com a mensagem de uma prima, que morava no interior do Pará, perguntando se ela era a repórter daquele vídeo. Foi aí que a jornalista descobriu que a reportagem tinha sido publicada no canal do Youtube de um ex-colega da emissora, ainda em 2011. Até o momento, a publicação registra mais de 7 milhões de visualizações.
“Assim que o vídeo viralizou, eu fiquei assim meio assustada. Não gostei muito de me ver no vídeo, porque parecia que eu estava um pouco perdida, porque eu não conseguia controlar a situação. Eles, os personagens, controlaram aquele momento e eu tentei dominar a entrevista, tentei estar a frente. Mas, não consegui, porque era um momento deles. Eles foram os protagonistas e não eu. Mas, até hoje, depois que eu me acostumei com a ideia, eu brinco, fico rindo e curto quando as pessoas me reconhecem e me chamam de repórter do arreia. Nunca ganhei dinheiro com isso, mas o povo reconhece que eu faço parte desta história”, compartilha.
Angra tentou reencontrar os personagens da reportagem para contar o desfecho da história em seu canal no Youtube, “Angra Soares – repórter do Arreia”. Ela chegou a conseguir o contato do vizinho denunciante, seu Roque, mas ele acabou desistindo de gravar.
“Eu tentei marcar um momento para nós gravarmos, para postar no meu canal. Mas acabou não dando certo. Ele acabou desistindo dessa gravação, mas gostaria muito de reencontrá-los e mostrar para o pessoal como é que eles estão hoje. O que eu sei, é que eles fizeram as pazes logo depois. Não passou muito tempo, eles voltaram a ser amigos, porque foi uma briga comum entre vizinhos”, revela.
Recentemente, Angra “pendurou” o microfone e tem atuado como professora de língua portuguesa, sua segunda formação, na rede estadual de ensino de Roraima. Mas, mesmo longe das câmeras, ela segue sendo reconhecida nas redes sociais por pessoas do estado e outras regiões. Inclusive, ela conta que, ao menos uma vez por semana, recebe uma nova versão da “briga do arreia”.
“Eu apenas fiz parte naquela situação como repórter, tentando fazer o meu trabalho. Foi por causa deles, dos vizinhos, que o vídeo viralizou. Mas, como eu estava ali no meio, acabei fazendo parte do meme. Eu sou reconhecida, sim, como repórter do arreia, inclusive pelos meus alunos. […] Deixei por um tempo o trabalho como jornalista, mas pretendo voltar sim, porque o jornalismo é a minha primeira paixão profissional, podemos dizer”, finaliza.
*Por Vanessa Fernandes.