As praias do Rio Cauamé, que ficam no entorno da Capital, sempre foram um atrativo para a população, mas um vídeo que circulou pelas redes sociais na tarde desta terça-feira, dia 14, sobre uma construção que está sendo feita no começo da estrada que dá acesso ao Balneário do Caçari, deixou os usuários do espaço de lazer preocupados e suscitou diversos questionamentos, inclusive, sobre a proibição de acesso a praias como espaços públicos. No local da construção há uma placa em nome da Igreja Batista Regular de Boa Vista (IBRBV).
Um dos banhistas contou à Folha que vai frequentemente ao local e que a obra causou estranhamento em quem viu os tijolos, ferros, concreto, despertando, aparentemente, a dúvida de que a construção estaria sendo feita com se a intenção de impedir o acesso à população. “Eles estão fazendo colunas de um lado a outro e eu estou entendendo que vão construir uma espécie de portão ou de porteira, para limitar a população de ir até o rio e isso não pode acontecer porque o Rio Cauamé e suas praias não têm donos. Eu sei que antes do Rio tem um terreno, tem um dono, mas fechar para as pessoas entrarem, não pode. A Prefeitura precisa saber o que está acontecendo e se tem que dar respostas à população”, disse.
Em nota, a Empresa de Desenvolvimento Urbano e Habitacional (Emhur) informou que teve conhecimento do vídeo que circulava nas redes sociais desde a tarde de terça-feira, 14, mostrando uma construção sendo feita pela Igreja Batista Regular no acesso à praia do Caçari. “Em vistoria no local, a Emhur verificou que não se trata de um muro, como vinha sendo divulgado, mas sim um portal que terá a informação de que área pertence à Igreja e todos munícipes que quiserem frequentar o local terão acesso livre, pois não haverá obstrução da via”, esclareceu.
A Emhur disse ainda que representantes da Igreja Batista Regular apresentaram na manhã desta quarta-feira, 15, durante reunião na sede da Emhur, a documentação que comprova a titularidade do local. “A Emhur reforçou que por se tratar de uma propriedade localizada em uma região de acesso à praia, o proprietário deverá deixar uma área de servidão, garantindo o acesso à população. Informa ainda que a equipe de topografia da Emhur vai checar as coordenadas da área para delimitar os espaços e definir ainda o projeto urbanístico da via”, pontuou.
A Folha também procurou a Igreja Batista Regular de Boa Vista e o responsável pela regularização patrimonial da instituição religiosa, Robson Bento, explicou que representantes da igreja estiveram na Emhur para falar sobre o terreno que é uma área particular e propriedade da igreja desde 1942, sendo a parte remanescente da área da fazenda Boca do Cauamé. “Ela foi comprada por um missionário batista, através da missão MID Mission e depois transferiu para a Igreja Batista Regular. Com a formação do município de Boa Vista, foi transferida para cá toda a documentação da Fazenda como da Boca do Cauamé, para o cartório local. Isso não é uma coisa nova”. Antes da criação do município de Boa Vista, a documentação estava no Estado do Amazonas, quando ainda município do Rio Branco, no território amazonense.
Robson ressaltou que a única construção feita no terreno foi um muro para proteção do patrimônio físico, como auditório, cozinha e refeitório. “A gente não via o risco imobiliário cercando, então a gente quis preservar o meio ambiente e estava natural. Não fizemos nenhuma obra de edificação. Estávamos sempre preservando para o livre tráfego dos animais e acesso de banhistas. Ocorre que, ao longo desses últimos anos, pessoas começaram a invadir, tentando vender a propriedade que é nossa. Lá é uma área rural, não é uma área urbana e é importante que se destaque isso”, acrescentou.
Antes de iniciar a obra, o responsável pelo patrimônio da igreja disse que protocolou na Prefeitura o pedido, que não há ilegalidade e que o objetivo era apenas a construção de um portal para identificação de limite de área, mas mantendo o acesso. “Se fosse permitido e não houvesse intenção de exploração social do banho do Caçari, é lógico que, futuramente, haveria o interesse da igreja de impedir acesso, mas não é o caso, porque lá estava sendo construído apenas um portal”, frisou.
Robson concluiu destacando que por causa de uma informação truncada, a população está acreditando que o acesso vai ser fechado. “Vamos construir o portal e o muro lateral. A gente não vai fechar o acesso. A gente quer que o público tenha acesso, mas que entenda que aquela área é privada. Quero destacar que nós não somos responsáveis pela construção de dois restaurantes e pela poluição do meio ambiente”, pontuou.