Cotidiano

Em 3 anos, 600 entraram por cotas na UFRR

As cotas são uma oportunidade para que os negros, pardos, índios e pessoas de menor poder econômico ingressem na universidade

Nos últimos três anos, desde que foi instituída a Lei de Cotas nas universidades federais do Brasil, pelo menos 5.500 novos alunos ingressaram nos 45 cursos de graduação ou de ensino tecnológico da Universidade Federal de Roraima (UFRR), dos quais cerca de 600 foram através da Lei de Cotas.

Segundo o presidente da Comissão Permanente de Vestibular (CPV), Antonio Giocondi, todas foram adotadas por meio do ingresso no vestibular tradicional, pelo Sistema Unificado (Sisu) e pela Escola Agrotécnica (Eagro) e Licenciatura em Educação do Campo (Leducar), seguindo as normas da Lei nº 12.711, conhecida como Lei das Cotas, que determina que 50% das vagas em universidades e institutos federais ficam reservadas a estudantes que frequentaram todo o ensino médio em escolas públicas.

“A lei de cotas é uma oportunidade que os negros, pardos, índios e as pessoas de menor poder econômico têm para poder ingressar na universidade”, disse Giocondi. Embora não tenha apresentado números, ele afirmou que entres os cotistas estabelecidos, os da cor parda são os mais beneficiados com cotas na UFRR, depois vêm os negros, menor poder aquisitivo e os índios. Explicou que, teoricamente, os indígenas deveriam ser os mais beneficiados pelas cotas por apresentarem um número significativo na população do Estado.     

“Os indígenas acabam não sendo contemplados por ter outros processos específicos de avaliação e com provas diferenciadas, como o Núcleo Insikiran de Formação Superior Indígena e outros processos de oportunizar os indígenas em vários cursos, além de que existem vários indígenas que entram para ampla concorrência”, disse.  

Isso é explicado pelo número de vagas para cotistas em determinado curso dividido pela quantidade de cotistas escritos. “Muitas vezes, o cotista percebe que na ampla concorrência existem mais vagas e ele prefere isso por entender que a chance de ingressar é maior. E ele [cotista] vê isso pela referência de concorrência do ano anterior”, frisou, ao ressaltar que os cursos mais procurados pelos cotistas são Medicina e Direito, em que as vagas são sempre preenchidas, enquanto que os menos procurados são Matemática, Física e Química, em que as vagas de cotas nem sempre são preenchidas.    

“Quando as vagas de cotista não são preenchidas, estas retornam para a ampla concorrência”, disse, sem afirmar números exatos. “A CPV executa o processo e encaminha os alunos selecionados para matrícula, mas sabemos que nem sempre quem passa no vestibular, mesmo os cotistas, acaba se matriculando no curso, por depois perceber que não apresenta o perfil para o curso que passou. Ou até acaba abandonando o curso dois ou três semestres depois”. (R.R)

Se ensino médio fosse de qualidade, não haveria necessidade de cotas, diz professor

O presidente da Comissão Permanente de Vestibular (CPV), Antonio Giocondi, avalia a l Lei da Cota como uma grande oportunidade para pessoas menos favorecidas ingressarem nas universidades, mas admite que não deveria ser usado eternamente como critério se houvesse um ensino de qualidade na rede pública, principalmente oportunizando estas pessoas no início dos estudos.

“A cota sempre é bem-vinda, mas seria melhor ainda de melhorássemos o ensino da rede pública. O problema está na má qualidade do ensino no país e, se isso melhorasse, poderíamos num futuro não distante, oportunizar aos negros, pardos, índios e pobres frequentar boas escolas com ensino de qualidade, sem precisar de cotas para entrarem numa universidade, mas disputando de igual para igual com todos”, disse.

Ele defende que a oportunidade que se está dando agora para estas pessoas fosse também oferecida nos primeiros anos de estudos nas escolas públicas. “Estas pessoas deveriam ter sido acolhidas e respeitadas no início dos estudos, nos primeiros anos na escola, pois muitos negros, pardos, índios e pobres acabam abandonando os estudos porque não tiveram as mínimas condições de frequentar uma escola com dignidade”, frisou.

ENTENDA – O estudante que quiser se candidatar às vagas das federais pelas cotas – no mínimo 12,5% das vagas devem ser reservadas nos vestibulares – terá de comprovar que não estudou nenhum ano do ensino médio na rede privada.

Quem cursou a Educação de Jovens e Adultos (EJA) ou obteve certificado de conclusão pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) também pode disputar, desde que não tenha no seu histórico escolar nenhuma passagem por escolas privadas.

A Lei prevê também critérios complementares de renda familiar e raciais para a distribuição das vagas. Na prática, são duas seleções diferentes nas cotas. A primeira para estudantes de escolas públicas com renda familiar mensal per capita igual ou inferior a um salário mínimo e meio. A outra é para alunos da rede pública com renda superior a esta.

Nos dois casos, as vagas ainda terão um recorte racial de acordo com a proporção de pretos, pardos e indígenas na população do Estado onde está a instituição. As universidades recebem um programa de computador que calcula a distribuição das vagas. (R.R)