Cotidiano

Em RR, 25% dos partos são de adolescentes

Somente no primeiro semestre deste ano, foram registrados 1.142 partos em meninas de 10 a 19 anos de idade

Números da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) revelam uma situação alarmante: a média de partos realizados em meninas de 10 a 19 anos, entre os meses de janeiro e junho de 2015, corresponde a 25,93% do total de procedimentos. Dos 4.403 partos realizados no Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth (HMINSN) neste período, 74 foram em meninas de 10 a 14 anos e 1.068 em adolescentes de 15 a 19 anos.

A Secretaria Municipal de Saúde de Boa Vista informou que, entre os meses de janeiro e agosto deste ano, 60 gestantes com idade de 10 a 14 anos e 1.025 na faixa etária de 15 a 19 anos estavam realizando o pré-natal nas unidades básicas de saúde do município. Em breve, elas irão engrossar a lista de meninas que são mães na adolescência.

Segundo a coordenadora do Programa Municipal de Atenção à Saúde da Mulher do município, Gabrielle Almeida Rodrigues, o alto índice de adolescentes grávidas se deve a uma questão cultural. “É muito comum a gravidez entre meninas indígenas. Elas começam a ter filhos muito cedo e, em alguns casos, antes dos 19 já estiveram grávidas por mais de uma vez”, explicou.

Nos casos de meninas não indígenas, um dos fatores que colaboram para uma gravidez precoce é a falta de orientação tanto na escola quanto na família. “Muitas adolescentes começam a ter relações sexuais sem conhecer os preservativos, métodos contraceptivos e sem saber dos riscos do sexo desprotegido. Na maioria dos casos, o ambiente familiar não proporciona uma abertura para que o tema seja debatido”, disse Gabrielle.

A coordenadora destacou ainda que a educação sexual deve ser ensinada nas unidades de saúde, no ambiente familiar e na escola. “Existe um tabu em relação a esse assunto. A adolescente tem medo de perguntar e ser repreendida. Já a família acredita que adiar a conversa irá fazer com que elas iniciem a vida sexual mais tarde”, pontuou.

Gabrielle afirmou que quando uma adolescente engravida, passa por uma série de dificuldades. Ela frisou que o problema não é apenas social, pois também atinge a estrutura psicológica e econômica das famílias onde a adolescente está inserida.

“Na maioria dos casos, elas estão em vulnerabilidade social, principalmente nas classes econômicas mais baixas. A gestação causa prejuízo no desenvolvimento pessoal e profissional. Muitas abandonam a escola, o que no futuro pode causar uma situação econômica desfavorável”, declarou.

A situação também representa riscos à saúde das gestantes, pois quanto mais precoce a gravidez, maiores as chances de complicações obstétricas. “Se não acompanhada de perto, a gravidez em meninas de 10 a 14 anos pode causar sérios danos à saúde, pois, em muitos casos, o corpo não estava tão preparado para gerar um bebê. É de fundamental importância o acompanhamento médico por meio do pré-natal”, observou.

Gabrielle Almeida lembrou que a rede municipal de saúde realiza um trabalho diferenciado com as adolescentes gestantes por meio do programa Família que Acolhe (FQA), que faz o acolhimento com foco na orientação sobre a gestação, parto, nascimento e planejamento familiar em uma clínica com atendimento ampliado, trabalhando questões psicológicas e de envolvimento familiar.

“O FQA integra todos os serviços básicos necessários para mãe e filho, garantindo, de uma só vez, a marcação e acompanhamento de todas as consultas, exames e procedimentos médicos. Ele também desburocratiza o acesso à educação. Antes mesmo do nascimento, a criança já tem sua matrícula efetivada na creche e na escola até os 06 anos de idade, quando inicia o Ensino Fundamental”, frisou.

A coordenadora informou ainda que, no FQA, as mães contam com a Universidade do Bebê. Lá, as gestantes, novas mães e seus familiares se encontram com profissionais e têm acesso a informações sobre o desenvolvimento psicossocial das crianças. As famílias também participam de oficinas de musicalização, coral e leitura.

DADOS – O Família que Acolhe atende, atualmente, mais de 3 mil mães. O programa é multissetorial, gerido pelo gabinete da prefeita e secretários de Gestão Social, Saúde, Educação, Comunicação e Finanças. (I.S)