Polícia

Família cobra solução de crime sem saber que caso está solucionado

Três indivíduos entraram no imóvel, renderam Lúcio e a companheira, roubaram itens e, antes de fugir, deram um tiro na cabeça da vítima. Os três autores do crime foram identificados e um deles está preso.

Familiares de Lúcio Evangelista da Silva procuraram a FolhaBV para cobrar uma solução para o latrocínio que ocorreu no dia 03 de janeiro de 2021, quando indivíduos entraram em sua residência, no bairro Cidade Satélite, zona Oeste da Capital, e atiraram contra a vítima que tinha 53 anos e era um ex-servidor da Companhia de Águas e Esgotos de Roraima (CAER). Na noite do crime, a mulher que estava na companhia de Lúcio também foi violentada pelos criminosos.

Segundo o filho, até o momento, não sabia se alguém havia sido preso e temia tanto por sua vida, por isso não quis se identificar, quanto pela possibilidade de que o caso caísse no esquecimento e deixasse de ser investigado. A reportagem da Folha entrou em contato com a Polícia Civil para saber do andamento do processo de investigação, se havia definição de autoria do crime e as respectivas prisões dos autores.

Em nota, a Polícia Civil informou que o crime de latrocínio foi investigado pela Força Tarefa no âmbito da Delegacia Geral de Homicídio (DGH) e totalmente esclarecido, inclusive que três pessoas foram identificadas como autoras do crime. Conforme a conclusão dos investigadores, dois dos autores do latrocínio deviam dinheiro à vítima e praticaram o crime com a intenção de roubar e, ainda, matá-la para não pagar a dívida.

Na ocasião, roubaram da residência aparelhos de telefone, laptops, cartões e aproximadamente R$ 6 mil em espécie.

“O inquérito Policial com o relatório da autoridade policial foi encaminhado à Justiça e o Ministério Público ofereceu denúncia contra os três”, destacou a Polícia Civil.

Na denúncia, o Ministério Público do Estado de Roraima (MPRR) reforçou que um dos criminosos está preso na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc), enquanto outro autor do crime está recolhido na Cadeia Pública de Boa Vista (CPBV). O terceiro envolvido no roubo seguido de morte foi identificado, mas está foragido da Justiça.


Lúcio Evangelista foi morto com um tiro na cabeça dentro do banheiro da residência. (Foto: Arquivo/Folha)

O CASO – A Folha teve acesso aos detalhes do caso, no qual a investigação constatou que Lúcio era conhecido na capital por realizar empréstimos a juros a pessoas diversas, dentre eles integrantes do Exército. Nesse contexto, havia uma dívida dos autores do crime, ambos ex-militares, com a vítima e que eles não tinham condições de pagar. Por isso, no dia e horário dos fatos, estavam as vítimas na residência quando Lúcio recebeu ligação telefônica que o levou a abrir o portão da casa.

Dois indivíduos entraram com arma de fogo em punho, partindo em direção às vítimas para rendê-las, obrigando-as que deitassem no chão e não levantassem a cabeça. A mulher e Lúcio foram levados para um quarto. Ela foi obrigada a deitar de bruços na cama enquanto tinha as mãos amarradas e uma peça de roupa colocada por cima de sua cabeça, além de sofrer ameaça de morte, caso denunciasse o crime. Lúcio foi colocado de joelho e questionado sobre a senha do cofre da casa, bem como a senha dos cartões, exigências que foram atendidas. Somente após a rendição de ambas as vítimas é que o terceiro envolvido entrou na casa e auxiliou os demais a revirar o imóvel em busca de bens de valor.

Ao avistar o caderno de Lúcio com registro de todas as dívidas de empréstimos, um dos assassinos arrancou algumas páginas para apagar suas transações para com a vítima. Depois disso, um deles anunciou que o trio não poderia deixar Lúcio vivo, uma vez que ela poderia facilmente identificá-los. Lúcio foi levado ao banheiro, onde recebeu um tiro na cabeça, causando morte instantânea. A mulher sofreu novas ameaçadas dos autores, informando que se não conseguissem acesso às contas bancárias de Lúcio, retornariam à casa para “terminar o serviço”. O trio fugiu num veículo VW/Gol de cor vermelha.

A sobrevivente conseguiu se desvencilhar das amarras e saiu do imóvel para pediu ajuda aos vizinhos. Ela entrou em contato com a Polícia e também com o filho da vítima. O rapaz foi o responsável por bloquear as contas bancárias do pai.

Ao ser preso, após quebra de sigilo telefônico, um dos sujeitos confessou o crime e indicou quem seriam seus comparsas: o colega de corporação, pessoa que ele sabia que também teria dívidas pendentes com Lúcio. O segundo foi escolhido por ser um conhecido e que receberia o pagamento de R$ 1 mil. O carro foi emprestado por um indivíduo denunciado por receptação. Um dos elementos foi o único a negar o crime e disse que jamais tomou dinheiro emprestado da vítima e que só conhecia o autor confesso do crime dos tempos de serviço militar.

O Ministério Público ainda pediu que, para atender eventual prejuízo material experimentado pelas vítimas, é preciso fixar uma indenização.