Filas quilométricas se formam para entrega de peixes gratuitos na capital

A distribuição gratuita de peixes anunciada pelo governo estadual gerou filas quilométricas em quatro unidades escolares estaduais na manhã desta quinta-feira (6), na zona Oeste de Boa Vista, capital de Roraima. Equipes do Detran-RR (Departamento Estadual de Trânsito) e da Polícia Militar estão nos locais para reforçar a segurança.

As doações de 45 toneladas de peixes são destinadas exclusivamente para as 15 mil famílias de baixa renda cadastradas pela Setrabes (Secretaria Estadual do Trabalho e Bem-Estar Social). A ordem era que cada família levasse a pulseira doada para receber o tambaqui de três quilos.

As pessoas eram divididas em duas filas, sendo uma preferencial. No entanto, houve quem fosse para as entradas dos locais e usasse até o nome da secretária do Trabalho e Bem-Estar Social, Tânia Soares, na tentativa de conseguir o alimento.

Foi assim no Colégio Militarizado Irmã Tereza Parodi, no residencial Vila Jardim, no bairro Cidade Satélite, onde um grupo de dez pessoas sem pulseiras formou uma fila paralela na entrada da unidade. A organização do evento chegou a pedir a dispersão da fila.

No local, a Folha encontrou pessoas que aguardavam por quase duas horas, a maioria do tempo sob forte calor. Embora não se importe muito com a tradição de comer peixe na Sexta-Feira Santa, o auxiliar administrativo Carlos Braga, de 68 anos, reclamou que, apesar de idoso, teve que ir para a fila geral. “Me enviaram de volta pra fila, dizendo que, quando eu chegasse, me deslocariam para uma fila preferencial”, disse. A equipe de controle, por outro lado, negou a informação.

A profissional do lar Leonilia Maria, de 44 anos, foi para a fila preferencial por causa do filho com deficiência e disse ter procurado o peixe porque não teria condições de comprá-lo no mercado. “A situação financeira tá péssima, horrível. Se não fosse isso aqui, eu não ia comer peixe na Semana Santa não. Ia ficar só na vontade”, destacou.

Na Escola Estadual Voltaire Pinto, que recebeu a visita do governador Antonio Denarium (Progressistas), a fila, cujo final já estava por trás da unidade, parecia andar em maior velocidade.

Sem pulseira, um homem aproveitou a chegada de Denarium para compartilhar seu drama pessoal e familiar com a intenção de implorá-lo para receber um peixe. E conseguiu convencê-lo. Após receber um abraço do governador, ele entrou na escola. A situação chateou outras pessoas que aguardavam próximo à entrada.

A doméstica Júlia da Silva Lima, 54, disse que entrou na fileira geral por volta das 7h30, quando ela estava por trás da escola. Segundo ela, a espera é motivada pela falta de condições em comprar peixes para a casa, onde vive com outras quatro pessoas. “Às vezes, a gente trabalha e não recebe na data certa. Por enquanto, agora eu não tou trabalhando, porque minha mãe tá doente e eu cuido dela”, disse. “Tá caro o peixe”.

O venezuelano Justino Fernandez, por exemplo, disse que concentra seu dinheiro para tratar de sua deficiência visual e, portanto, não teria condições de comer peixe nessa sexta. “Pra mim, tá difícil porque tenho que cuidar da minha saúde”, disse.

“Nesse período da Semana Santa, quando tem um grande consumo de tambaqui, de peixe, o preço aumento muito no supermercado e estou oportunizando para nossa população de baixa renda comer o peixe na Sexta-Feira da Paixão”, disse o governador de Roraima.

A distribuição, que começou às 8h, segue até às 14h, em quatro locais:

• Colégio Militarizado Irmã Tereza Parodi (Avenida Jardim, 802, bairro Cidade Satélite);
• Escola Estadual América Sarmento Ribeiro (Avenida Raimundo Rodrigues Coelho, bairro Pintolândia);
• Escola Rittler Brito De Lucena (Rua João Pessoa, bairro Nova Cidade);
• Escola Estadual Voltaire Pinto Ribeiro (Avenida Joaquim, 1584, bairro Dr. Silvio Leite).

*Por Lucas Luckezie