Cotidiano

Mães estudantes e bebês em sala de aula: a persistência no estudo

Muitas mães adiam a conclusão do curso ou da escola para se dedicar aos recém-nascidos, outras voltam com o bebê e o caderno nos braços

Qualquer pessoa sonha e tem objetivos na vida, entre eles, o de ter sucesso por meio dos estudos. As mulheres são decididas sobre isso, no entanto existe um caminho específico que às vezes distancia essa conquista: tornar-se mãe.

Pode ser uma mãe planejada ou surpresa, quando ela descobre a gravidez durante o período em que está se dedicando aos estudos profissionais, os primeiros pensamentos são ‘como é que vai ser?’, ‘como vou terminar o curso?’, ‘como vou cuidar do bebê e estudar?’, ‘vou ter que parar!’.

Muitas mães estudantes adiam a conclusão do curso ou da escola para se dedicar aos recém-nascidos, passam a trabalhar e depois retornam às salas de aula. Outras, como é o caso de quatro mães do ensino superior da Faculdade Cathedral, voltam com o bebê e o caderno nos braços. 

“Quando engravidei fui afastada da faculdade devido ao surto e alto índice das grávidas com covid. A neném nasceu quando eu ainda estava nas férias e retornei para faculdade um mês depois. Quando retornei, fiz as duas clínicas, do sétimo e do sexto semestre e  ela só mamava, sempre esteve comigo”, conta Jakelaine Lima, acadêmica de Odontologia e mãe da Isis Melinda.

A estudante conta que na maioria das vezes, Isis ficava com uma amiga que a acompanhava, além dos professores e servidoras que cuidavam da bebê durante o horário de atendimento na clínica. “Não foi fácil, muitas vezes estava sem ninguém que pudesse me ajudar, aí meus professores entravam na missão babá. Só tenho a agradecer a Deus e a todos que me ajudaram nessa jornada”, relembra a mãe estudante.

Isis Melinda esteve em sala de aula junto e na estrada de Caracaraí para Boa Vista com a mãe por dois anos e meio. Para Jakelaine, a bebê foi a multiplicação da força e coragem em 100 vezes “só por ela estar comigo”.


Nakata Khétura é mãe da Isabela, a acadêmica que vai se formar nova em Farmácia. (Foto: Arquivo pessoal/Nakata Khétura)

Bebês cursando o ensino superior
A história de persistência das mães estudantes tem sido cada vez mais comum no Brasil. Segundo o painel de monitoramento de nascidos vivos, do Ministério da Saúde, em 2022, mais de 6 mil bebês nasceram de mulheres com idade entre 20 a 29 anos em Roraima. Só da faixa etária que mais caracteriza o perfil universitário, de 20 a 24 anos, foram mais de 3.500 bebês.

Os bebês na sala de aula logo fazem sucesso entre os colegas de turma da mãe, mas o que mais deixa essas histórias divertidas é a ideia de que eles são os alunos mais novos que já passaram pelos cursos.

“Isabela já é conhecida na sala de aula como a ‘acadêmica que vai se formar bem novinha’. No momento da aula ela não atrapalha, fica sempre fazendo desenhos ou assistindo séries”, conta Nakata Khétura, acadêmica do sexto período de Farmácia e mãe da Isabela Queiroz


Jennifer, mãe de Francisca e Noah, se formou em fisioterapia com os dois filhos frequentando as aulas também. (Foto: Arquivo pessoal/Jennifer Gonçalves)

O caso de Jennifer Gonçalves, atualmente formada em Fisioterapia, é muito semelhante. No entanto, foram os dois filhos, Francisca Elloá e Noah Victor, que assistiram às aulas e quase receberam o diploma com a mãe.

“Me formei em 2022. Eles tem diferença de 2 anos de idade entre um e outro, e os dois foram para as minhas aulas e estágios. Mas sem a ajuda dos colegas e professores, não seria possível terminar a faculdade. Eles representaram minhas forças”, destaca a fisioterapeuta.

Rede de apoio


Colegas de turma de Thaís Braga sempre a ajudam a cuidar da Stella. (Foto: Arquivo pessoal/Thaís Braga)

É o suporte oferecido pelos colegas e professores que torna a realidade das mães estudantes mais tranquilas. Para Thaís Braga, acadêmica do sétimo semestre de Psicologia e mãe de Stella Thaís, é essa rede de apoio que faz ela e outras mães se sentirem acolhidas e confiantes para concluírem o ensino superior. “Me sentia bem assistida, pois meus colegas me ajudavam”.

Em caso de dificuldade, às mães podem apresentar um atestado médico, seguindo a Lei nº 6.202/75, para garantir o direito de realizar suas tarefas escolares e universitárias em domicílio, a partir do oitavo mês de gestação por até três meses.