Cotidiano

Roraima vai combater a praga na Guiana

Como a praga vem do país vizinho, onde o combate não é efetivo, a saída é realizar ações preventivas do lado de lá da fronteira

O Estado de Roraima apresenta um dos principais empecilhos à expansão e fortalecimento da fruticultura local. Isso em razão da presença da mosca da carambola, praga que deixa o Estado limitado na comercialização de frutos, principalmente a exportação para outros estados e países vizinhos, como a Venezuela e a Guiana. Para minimizar estes impactos, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) liberou recursos na ordem de R$ 850 mil para o combate.

Segundo o superintendente da Secretaria Federal da Agricultura em Roraima (SFA/RR), Plácido Alves, um plano de ação no combate à mosca da carambola diretamente na Guiana (local de origem da praga, a Leste do Estado) está sendo montado pela SFA em parceria com o Mapa, Agência de Defesa Agropecuária de Roraima (Ader), Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) e da Secretaria Estadual do Índio (SEI).    

Alves confirmou que o valor já foi liberado para trabalhar no combate, controle e erradicação da mosca no Estado, mas precisa ainda da autorização do Ministério das Relações Exteriores para adentrar em território guianense. “Já entramos em contato com o Ministério da Agricultura, que oficializou o Ministério das Relações Exteriores da necessidade da ação e estamos aguardando a confirmação para dar início aos trabalhos”, disse.

O superintendente afirmou que as ações de combate no país vizinho devem iniciar em outubro. Ele ressaltou que enquanto não se fizer esse trabalho na Guiana, que é de onde vem a mosca, não será possível erradicar a praga em Roraima. Dentro do planejamento de ação, Alves informou que será feito um levantamento na estrutura de governo da Guiana para saber se o país tem técnicos capacitados para o combate. “Precisamos saber com quem poderemos contar dentro da estrutura de governo da Guina e fazer um mapeamento humano do que eles têm com o que nós podemos utilizar das secretarias de Agricultura e do Índio, além da Ader, e, a partir daí, vermos a necessidade de capacitar os técnicos para atuar nesse trabalho”, frisou.   

Alves informou que o recurso de R$ 850 mil será gasto com combustível e diária dos técnicos, além de compra de equipamentos, dentre eles 15 veículos, alimento atrativo das moscas, veneno e armadilhas, bem como materiais essenciais ao combate e de divulgação junto à população, especialmente do interior do Estado. “Vamos trabalhar para erradicar essa praga, que tem trazido muito prejuízo para os agricultores de Roraima, que ficam impedidos de comercializarem seus frutos em outros estados e países”.

INFORMAÇÃO – Paralelo aos ofícios entre os ministérios, Alves disse que já adiantou conversação com o Consulado guianense em Roraima sobre a disponibilidade de visitas nas escolas daquele país que fazem fronteira com Roraima a fim de repassar informações sobre as formas de levar o hospedeiro da carambola de um local para o outro através dos frutos regionais.

“O Consulado já se colocou à disposição para nos ajudar a fazer essas palestras nas escolas fronteiriças e isso será importante para que os alunos sejam agentes multiplicadores dessas informações e que isso colabore em barrar o transporte de frutos entre os dois países por locais de difíceis acessos de fiscalização”, disse o superintendente Plácido Alves.

A PRAGA – A mosca da carambola, a Bactrocera carambolae, é originária da Indonésia, Malásia e Tailândia. Em 1996 foi registrada pela primeira vez no Brasil e entrou em Roraima no fim do ano de 2010, gerando grandes prejuízos a produtores de frutas que eram comercializadas para fora do Estado, como é o caso da manga.

O inseto contamina frutos e plantas como carambola, manga, goiaba, amendoeira, tangerina, maçaranduba, laranja, taperebá (cajá), jaca, abiu, jambo, caju, acerola entre outros. Os insetos adultos colocam os ovos nos frutos e as larvas penetram o fruto e alimentam-se do interior, podendo destruí-lo completamente.

A mosca da carambola é considerada uma das piores pragas que podem existir dentro da fruticultura. Uma mosca, depois de fertilizada, coloca em média de 1.200 a 1.500 ovos durante a sua vida, que dura cerca de 126 dias.

 
Vento e viajantes levaram praga para três municípios

O superintendente da SFA/RR, Plácido Alves, disse que o período de julho até o final de setembro é o mais crítico para a entrada de moscas da carambola no Estado. “Os ventos vindos da Guiana, neste período, têm maior incidência e trazem mais moscas. E isso aconteceu agora, com a presença detectada de moscas nos municípios de Uiramutã, Normandia e Pacaraima”, disse.

Em relação ao aparecimento da mosca em Pacaraima, na fronteira com a Venezuela, Norte do Estado, Alves explicou que além do vento, o trânsito de pessoas deve ter sido outro fator que contribuiu para a presença da praga naquele município fronteiriço. “Não temos como afirmar, mas acreditamos que o trânsito de pessoas, especialmente de indígenas, devido às muitas reuniões de festejos que estão acontecendo nas regiões de Sorocaima, Surumu, Perdiz e Boca da Mata, contribuiu para o aparecimento da mosca naquele município”, frisou.

Alves informou que aproveitou a presença dos tuxauas de muitas comunidades e explicou a necessidade de repassar esse conhecimento sobre a proibição de trânsito de frutas de uma comunidade para outra. “Falamos da importância de não transitar com frutos de regiões endêmicas de uma aldeia para outra, para assim termos um combate mais eficaz à proliferação da mosca da carambola”. (R.R)

Produtores de manga deixam de lucrar R$ 80 milhões por ano

O superintendente da SFA, Plácido Alves, destacou a ação de combate à mosca da carambola diante dos prejuízos que a presença da praga tem provocado aos fruticultores de Roraima. Ele apontou os produtores de manga no Estado como um dos mais prejudicados com prejuízo anual em torno de R$ 80 milhões.  

Outro produto que está sendo muito afetado pela praga é o tomate, que, segundo Alves, já é uma produção que vem caindo a cada ano. “Não calculamos ainda o prejuízo no tomate, mas posso dizer que já estamos até deixando de produzir. Tem produtor que tinha plantação de 20 hectares de tomate e este ano está com apenas seis hectares devido à presença da mosca, pois não tinha como escoar a produção”, frisou. Esse prejuízo é para os produtores e para o Estado também, porque gera desemprego e queda na renda”.        
(RR)