Cotidiano

Professores indígenas aceitam fim da greve

Movimento indígena ficou rachado, mas a maior parte dos professores indígenas aceitou o acordo feito com o governo

Após 36 dias de movimento grevista, a maior parte dos professores indígenas aceitou as proposta do Governo do Estado e anunciou a volta à sala de aula ainda esta semana. A decisão foi tomada após reunião, durante toda a noite de terça-feira, que contou com a presença de 70 representantes, entre professores e lideranças de 13 regiões indígenas. Caso o acordo não seja cumprido pelo governo, em 15 de outubros os índios retomarão a greve.

Como os entendimentos com o governo foram levados para apreciação da assembleia, na manhã de ontem, o movimento indígena ficou rachado. Dez regiões aceitaram retomar as aulas e apenas duas, Serra da Lua e Wa-Wai, decidiram seguir de braços cruzados. Os demais professores da Capital e interior continuam em greve. Alguns professores das etnias Yekuana e Yanomami, desobedecendo à determinação dos tuxauas, vão permanecer paralisados.

Eram os professores indígenas que reforçaram a greve dos professores da rede estadual de ensino, engrossando o número de acampados na Praça do Centro Cívico desde o dia 10 do mês passado. Nesta semana, mais lideranças foram chamadas para acampar em frente ao Palácio do Governo. Anteriormente, um acordo foi anunciado pelo governo, na semana passada, mas os índios decidiram pela continuidade. Depois, em outra tentativa, os índios se retiraram da reunião. Finalmente na terça-feira houve entendimento.

Neste último encontro com a governadora Suely Campos (PP), no Palácio Senador Hélio Campos, os indígenas apresentaram uma pauta resumida com 26 pontos reivindicados pelas comunidades e que foram discutidos, debatidos e aprovados, na íntegra, pela chefe do Executivo estadual.

Uma ata da reunião contendo todos os pontos acordados foi redigida e assinada por todos os presentes. Uma cópia do documento foi entregue para cada um dos 13 tuxauas que participaram do encontro. As lideranças deram o prazo de 30 dias para que o governo cumpra com o acordo. Caso contrário, farão nova paralisação.

Dentre os pontos exigidos para que os professores retornassem às salas de aula está a entrega de material escolar e da merenda nas unidades de ensino, além do pedido para que as faltas dos professores não fossem descontadas da folha de pagamento e a contratação imediata de 260 funcionários para o quadro de apoio das escolas, como coordenadores pedagógicos e diretores.

Segundo o coordenador do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Mario Nicacio, uma comissão foi formada para acompanhar de perto o processo de cumprimento do acordo. “Temos uma comissão que vai acompanhar a entrega do material escolar e merenda junto às empresas contratadas. Demos o prazo de 30 dias para que as reivindicações fossem atendidas”, disse.

Sobre a situação da estrutura física das escolas indígenas de Roraima, Nicacio informou que, na ata feita entre as lideranças e o governo, será realizado um levantamento nas comunidades para iniciar as obras de reforma, construção e ampliação das unidades. “Também pedimos 30 dias para fazer esse levantamento, que será minucioso”, contou.

O presidente comemorou o fato de a maioria dos itens que constavam na pauta de reivindicações dos indígenas ter sido atendida. Conforme ele, 2,2 mil professores indígenas que estavam paralisados retomaram as atividades nas 255 escolas que atendem, ao todo, 14 mil estudantes. “A gente vai voltar para as comunidades e esperar que o acordo seja cumprindo. A partir desta semana as aulas voltarão ao normal”, afirmou.

Para o coordenador da Organização dos Professores Indígenas de Roraima (Opirr), Misaque Antone, o atendimento às reivindicações pode ser considerado como uma conquista dos povos indígenas. “O foco sobre o Plano Estadual de Educação [PEE] foi superado, porque conseguimos ser incluídos. Temos necessidades em manter as escolas com parte logística e pessoal de apoio e administrativo, então foi uma conquista”, destacou.