
Durante o evento Viva Roraima, realizado pelo Sebrae em parceria com o Governo do Estado no último final de semana, Vera Lucy Brandão, empresária e agrônoma, compartilhou a trajetória que a levou a empreender com produtos agroecológicos na comunidade Kauwê, localizada em Pacaraima.
“Minha decisão de começar foi lá atrás, quando eu quis voltar para minhas origens”, contou Vera.
Indígena de nascimento, ela explicou que passou a infância na cidade, levada ainda pequena, com a promessa de uma vida melhor.
“A gente sempre teve aquela falsa ilusão, achando que na cidade a vida seria melhor. Mas a gente acaba se enganando, e depois que cresce, vê a realidade.”
Com essa consciência, decidiu retornar à comunidade. Mas sabia que precisava estar preparada.
“Decidi fazer Agronomia pra trabalhar na terra. Sempre falava pros meus coleguinhas na faculdade: ‘Eu não sou concorrência pra ninguém, não quero concurso nem emprego, eu quero trabalhar na minha comunidade.'”
Durante o curso, Vera encontrou seu caminho ao estudar agroecologia. “Foi aí que eu me achei”, disse. Ela se comprometeu a trabalhar com o sistema agroflorestal, buscando resgatar práticas indígenas verdadeira.
“A verdadeira roça indígena é manter a floresta em pé e usar os recursos que ela nos oferece. Não é derrubar, queimar, maltratar para depois usar”
Na comunidade Kauwê, que foi homologada como terra indígena apenas em 2008, Vera encontrou antigas roças abandonadas, inclusive com pés de café.
“Não fazia parte da cultura indígena trabalhar com café, o indígena não conhece. Um dos motivos que me levaram a estudar Agronomia foi esse”
Hoje, o carro-chefe de seu trabalho é o café, mas enquanto as plantações amadureciam, ela começou a produzir jujubas de cupuaçu, valorizando os frutos da floresta. Toda a produção é processada dentro da própria comunidade, sem o uso de agrotóxicos ou insumos químicos.

“É tudo do jeito que a natureza nos oferece. A gente tem uma grande parceria com ela. Hoje a jujuba, por exemplo, chega a outros estados do Brasil e até outros países como Japão e Estados Unidos”
Ela destacou que quebrar preconceitos é parte essencial de sua missão como empreendedora. De acordo com ela, desconstruir o mito de que os povos indígenas não gostam de produzir é parte de sua missão.
“Vamos quebrar aquele misticismo de que o indígena é preguiçoso. É falta de oportunidade, apenas. Quando a gente adquire conhecimento, vai se descobrindo e vê que pode sim produzir alimentos de qualidade dentro da comunidade.”
Ela também lembrou que, por não terem acesso a recursos financeiros para adquirir agroquímicos, foram levados naturalmente a produzir de forma orgânica.
“Não tem um mal que não venha para o bem. A gente se adaptou a trabalhar com o que a natureza nos dá. Por consequência disso, nossos produtos não possuem qualquer tipo de agroquímico”
Vera fez questão de agradecer o apoio que recebe do Sebrae. “É maravilhoso. O Sebrae nos abriu portas, não só em Roraima, mas nacionalmente. Estamos participando de missões fora do estado, levando nossos conhecimentos. Não é só um produto, é uma história, é uma luta, finalizou.