PRAGA DA LAGARTA 🐛

Lagartas desfolhadoras atacam plantações na zona rural de RR e prejudicam produtores

O Iater constatou um ataque de lagartas mais intenso nos municípios de Mucajaí, Iracema, Bonfim, Cantá, Boa Vista, Alto Alegre, Amajari e Caracaraí.

As lagartas se alimentam de folhagens, frutos, flores, caules e raízes (Foto: Arquivo pessoal)
As lagartas se alimentam de folhagens, frutos, flores, caules e raízes (Foto: Arquivo pessoal)

Além dos problemas enfrentados nos últimos meses pelos produtores rurais de Roraima, como a estiagem e as queimadas, surge uma nova preocupação: a praga da lagarta desfolhadora. Esse tipo de inseto promove a redução da quantidade e qualidade da vegetação, o que resulta na diminuição da forragem disponível para os animais.

O Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural (Iater) informou que, desde o início do período chuvoso no estado, foi constatado um ataque de lagartas, principalmente, nos municípios de Mucajaí, Iracema, Bonfim, Cantá, Boa Vista, Alto Alegre, Amajari e Caracaraí. Essas regiões são voltadas para a atividade pecuária, com áreas ocupadas por pastagens, que, conforme relatos de produtores, têm sido consumidas pela praga.

Conforme o Iater, o problema tem sido relatado por inúmeros pecuaristas das regiões de Paredão e Trairão, entre outras. Disse ainda que, devido ao período da estiagem e das temperaturas elevadas na região, o ataque de lagartas contribui ainda mais para a falta de alimento e, como consequência, a redução da produção animal.

Lagartas curuquerê-dos-capinzais (Foto: F.J. Celoto/Lab. MIP – Unesp/Ilha Solteira)

Espécies mais comuns no estado

O professor doutor em agronomia da Universidade Federal de Roraima (UFRR), César Lima, explica que a praga da lagarta consiste nas larvas das borboletas e mariposas. Por serem mastigadoras, se alimentam de folhagens, frutos, flores, caules e raízes.

“Muitas pragas estão presentes no cotidiano das culturas. Porém, acontecimentos climáticos podem favorecer o aparecimento ou aumento dessas lagartas no campo. Nesta época do ano, quando ocorrem as chuvas, as plantas acabam vegetando mais e as lagartas se alimentam dessas folhas. Depois de um verão intenso, as lagartas realmente se intensificam mais, principalmente se a plantação não for monitrada”, afirmou.

O pesquisador ressaltou que, a fim de evitar o surgimento das lagartas, o agricultor deve monitorar a lavoura, para que possa realizar o controle da praga ainda no primeiro ciclo da larva. Dentre as espécies mais comuns de lagartas observadas no estado, estão:

Lagarta-do-cartucho-do-milho (Spodoptera frugiperda)

Lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) (Foto: Marina Pessoa /Embrapa)

Segundo César, essa espécie de lagarta costuma atacar o centro da planta do milho, por isso o nome. Algumas características marcantes são a presença de um ‘Y’ invertido na região da cabeça e vários pontos pelo corpo.

Curuquerê-dos-capinzais (Mocis latipes)

Já a curuquerê-dos-capinzais, conforme o pesquisador, se destaca pela forma como se move. Quando se desloca, ela aproxima a parte de trás com a parte da frente do corpo. Com este movimento forma-se um arco, lembrando o ato de medir palmo.

O professor destacou que, apesar de ambas serem lagartas pequenas, têm alta capacidade de desfolhamento e podem devastar uma grande quantidade de vegetação. “Por isso, se aconselha o monitoramento da produção logo no início das chuvas. Se identificar a presença de lagartas, há várias formas de combater, a mais utilizada é o controle químico com inseticidas”, complementou.

Relatos de produtores rurais

Produtor rural mostra ataque de lagartas (Vídeo: Arquivo pessoal)

O dono de uma propriedade rural localizada em Alto Alegre registrou os danos causados pelas larvas à plantação. No vídeo, ele mostra que as lagartas atacaram duas melancias e até o caule das plantas. “Quando eu disser que o negócio está feio, não duvidem. Aqui é triste. É uma situação que eu nem pensava. [A lagarta] comeu o talo. Não foi só isso, ela comeu foi tudo”, disse o agricultor.

No mesmo município, na região do Roxinho, o sítio de Jakson Sousa Nunes também foi atingido pelas lagartas. O servidor público, de 34 anos, cria animais bovinos no local e relata que, devido à devastação do pasto, precisou vender uma parte dos bichos e transferir o resto para outra propriedade.

“No primeiro mês da chuva, depois das queimadas, começou a brotar um pouco de capim, mas aí começou essa praga e já acabou com tudo. Foi pior que o fogo. As lagartas comeram até a raiz, 60% do meu capim não brota mais. Perdi até uma vaca, que morreu de fome, porque não tem mais pasto. A gente não tinha onde colocar o gado, então tive que vender 40, dos 180 animais que eu tinha. A outra parte coloquei no pasto de um vizinho, que estava desocupado, e consegui alugar. Vai ficar lá por uns seis meses até brotar o capim de novo. Não tem mais nenhum gado na minha propriedade”, relatou Jakson.

Em Amajari, o pecuarista Lélio Mendes Peixoto, de 75 anos, afirma que a lagarta consumiu parte do capim dele, porém, de uma forma menos intensa, em comparação à situação das propriedades vizinhas.

“Durante as queimadas, mais de 60% da fazenda foi consumida pelo fogo. Justamente nessa parte queimada, que agora tem capim, as lagartas não chegaram ainda. No resto da área que sobrou a lagarta já comeu tudo. Mas têm vizinhos nossos que os gados morreram de fome, porque não tinham o que comer, e vieram pedir para alugar nossa propriedade. Tem gente que solta os gados por aí, na estrada, para os gados procurarem o que comer”, disse.

Ações para reduzir os impactos da praga da lagarta

No programa Agenda da Semana, desse domingo (9), o secretário estadual de Agricultura, Desenvolvimento e Inovação (Seadi), Dr. Márcio Granjero detalhou as ações do governo para mitigar o problema da praga.

Segundo ele, está sendo realizado um levantamento dos pequenos produtores que necessitam de maior ajuda nesse momento. Ele explicou que será disponibilizado crédito para o manejo dos pastos para esses produtores. Em nota, o Iater disse:

“As medidas adotadas incluem o monitoramento contínuo das propriedades afetadas por equipes técnicas, visando avaliar a extensão da infestação e determinar as estratégias de controle mais adequadas. Adicionalmente, serão fornecidos insumos agrícolas essenciais, como pesticidas e equipamentos de aplicação, assegurando que todos os pecuaristas tenham acesso às ferramentas necessárias para enfrentar a praga”, informou.