MPC pede afastamento de presidente do Iteraima por suspeita de grilagem e prejuízo de R$ 1,3 bilhão

Dilma Costa teria emitido um memorando permitindo concessões sem a exigência do georreferenciamento adequado ou cumprimento integral da legislação

Dilma Lindalva é a presidente do Iteraima (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)
Dilma Lindalva é a presidente do Iteraima (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

O Ministério Público de Contas de Roraima (MPC-RR) encaminhou ao Tribunal de Contas do Estado (TCE-RR) uma representação solicitando o afastamento da presidente do Instituto de Terras e Colonização de Roraima (Iteraima), Dilma Lindalva Pereira da Costa. A denúncia aponta supostas irregularidades na regularização fundiária da Gleba Baliza, que abrange aproximadamente 904 mil hectares, com possíveis prejuízos de até R$ 1,3 bilhão aos cofres públicos.

O pedido foi divulgado nesta segunda-feira (17) e assinado pelo procurador de Contas Paulo Sérgio Oliveira de Sousa, titular da 1ª Procuradoria. Segundo o MPC, denúncias apontaram que a gestora teria desconsiderado normas técnicas e legais ao conduzir o processo de regularização da área, localizada no município de Caroebe, no sul do estado.

De acordo com relatório técnico do Iteraima, a Gleba Baliza tem cerca de 904.520 hectares, dos quais 415 mil estão sob domínio do Estado. O documento recomendava a adoção de critérios rigorosos para a regularização fundiária, incluindo licitações públicas e destinação de terras para projetos de colonização. No entanto, a presidente do órgão emitiu o Memorando-Circular nº 47/2024, permitindo concessões sem a exigência do georreferenciamento adequado ou cumprimento integral da legislação.

Procurador de Contas Paulo Sérgio Oliveira de Sousa, titular da 1ª Procuradoria. Foto: reprodução/MPC/RR

Para o MPC, a decisão abriu margem para ocupações irregulares e facilitou a consolidação de grilagem na região. “Mesmo após o Iteraima ter elaborado relatório técnico orientando o cumprimento da Lei n. 976/2024 quanto aos requisitos necessários para regularização, a presidente manteve-se inerte, sem apresentar qualquer manifestação sobre as recomendações feitas”, afirmou o procurador Paulo Sousa.

Possível conluio e organização criminosa

A documentação apresentada pelo MPC também levanta suspeitas de um possível conluio entre Dilma Costa e o advogado Reginaldo Alencar da Silva, presidente da Associação dos Produtores Rurais do Sudeste de Roraima (PROSERR). Segundo a denúncia, poucos minutos após assinar o memorando que flexibilizava as concessões, a gestora teria enviado mensagem ao advogado afirmando que o documento “ajudaria nos casos de Caroebe”, sugerindo um possível favorecimento indevido.

O órgão destaca que a revogação de decretos anteriores, que estabeleciam critérios mais rígidos para a regularização fundiária, reforça a suspeita de um esquema para beneficiar ocupações ilegais. Além disso, a ausência de fiscalização adequada pode resultar em disputas territoriais e conflitos agrários.

“A prática de grilagem favorece disputas que podem culminar em violência extrema. O caso do casal de agricultores Flávia Guilarducci e Jânio Bonfim de Souza, assassinados no Surrão devido a conflitos fundiários, é um exemplo alarmante do impacto dessas ações irregulares”, destacou o procurador.

Impacto financeiro e medidas solicitadas

O laudo técnico do Iteraima apontava que a venda pública de 250 mil hectares da Gleba Baliza poderia arrecadar cerca de R$ 1,3 bilhão para o Estado. No entanto, segundo o MPC, ao permitir ocupações sem critérios claros, a presidente do órgão inviabilizou essa arrecadação, resultando em prejuízos milionários.

Diante das irregularidades identificadas, o MPC solicitou ao TCE-RR medidas urgentes, incluindo:

  • O afastamento imediato da presidente do Iteraima;
  • A suspensão dos efeitos do Memorando-Circular nº 47/2024;
  • A responsabilização da gestora por prevaricação e advocacia administrativa;
  • Oitiva do advogado Reginaldo Alencar da Silva para esclarecer sua participação no caso;
  • Investigação aprofundada sobre a possível existência de uma organização criminosa voltada para grilagem de terras públicas em Roraima.

O caso segue em análise no Tribunal de Contas do Estado, que avaliará as providências cabíveis. Caso sejam confirmadas as irregularidades, a presidente do Iteraima poderá responder por improbidade administrativa e descumprimento da legislação fundiária.

Outro lado

A reportagem procurou o Governo de Roraima, o Iteraima, a presidente, Dilma Costa. O espaço segue aberto.