Opinião

ARTIGOS 11053

A ÚLTIMA CONVERSA

Walber Aguiar*

Quem vive da busca não morre

…vai garimpar estrelas… (Drummond)

Estava ali, no escritório, conversando com o meu amigo causídico, Marco Pinheiro. Mas não era um longo diálogo, como breve a vida. Geralmente, nossas conversas eram curtas. Só nos demorávamos um pouco mais quando o assunto descambava pra poesia e música. Principalmente, se o lúdico percorresse os caminhos da música de Gonzaguinha e Cartola.

Conversávamos amenidades. Coisas do cotidiano, da vida, dos dias apressados. De vez em quando um poema era solto no ar. Uma pausa para o lírico, romântico, poético, ainda que as letras jurídicas nos perseguissem, como de costume. Um romance criminal, um caso tenebroso, o desejo de trabalhar para os mais pobres, embora o direito/ advocacia fosse a ferramenta do dinheiro, o meio usado para capitanear os recursos necessários ao existir.

Não conheci pessoalmente seu Antônio Pinheiro de Oliveira nem dona Francisca da Silva Pinheiro. Mesmo assim, Marco foi a grande somatização dessa gente boa, uma semente germinada nesse tempo árido, num universo frio, mudo e assustador.

Um dia ele me falou de seu pai, antigo e brilhante advogado de Manaus, do Estado do Amazonas. Também foi trazido à memória, um dos maiores advogados da pátria das águas, o Dr. Caio Fábio de Araújo, por mim conhecido como “velhinho da fé”. O homem que deixaria a seara jurídica e mergulharia de cabeça na grandeza da fé e na pregação do evangelho de Jesus.

Naquele tempo, na antiga Manaus, os dois grandes juristas, viram seus filhos fazerem parte da geração dourada, com suas motos barulhentas, seus tamancos, seu estilo hippie, suas lutas praticadas nas ruas, praças e avenidas.

Marco fez parte da geração dourada, mas, um dia foi apresentado ao direito. Já o Caio Filho saltou vertiginosamente na misteriosa e estranhamente deliciosa direção de Deus. Uma de nossas últimas conversas girou no sentido da ética e da espiritualidade. Do “ethos”, da cobertura, do telhado que encobria a casa individual, que emprestava caráter ao cidadão, ao homem que não precisava fazer parte da maioria moral, de uma média ponderada, para ser visto pelos homens.

Marco Antônio, um nome de imperador. De gente séria, augusta, livre, soberana. Gente que, apesar de carregar todo esse acervo de vida no nome, tinha tempo pra cantar, servir, gargalhar e desfraldar toda sua humildade.

Naquela manhã ele fez uma foto e nos despedimos. Depois nos veríamos, para tratar de todas as coisas do coração, da lei e do cotidiano. Para rir das piadas do Guedes, do Públio e Samuel Moraes, do punk, das tiradas da Gláucia e de tantos outros.

Marco vivia pra lá e pra cá com sua Dani, com sua menina Julia. Os outros filhos eu não conheci. Mas, conheci o “Dude”, Márcio, uma figura cômica e interessante, seu irmão.

Não, não vai ter como não chorar. Afinal, não somos tão duros quanto parecemos. Ainda mais, se a brincadeira de Marco um dia nos alcançou.

Vá em paz, mano. Um dia nos encontraremos debaixo das frondosas mangueiras do infinito, sob os campos de morango da eternidade…. e não haverá nem grito, nem pranto, nem dor….

*Advogado, poeta, historiador, professor de filosofia, membro do Conselho de Cultura e membro da Academia Roraimense de Letras.

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TÍTULO DE ESPECIALISTA EM MEDICINA 

Marlene de Andrade*

“Não se deixem enganar: de Deus não se zomba. Pois o que o homem semear isso também colherá.” (Gálatas 6:7

Registro de Qualificação de Especialista em Medicina/RQE é um documento importante que o médico recebe ao registrar sua especialidade no Conselho Regional de Medicina/CRM, pois assim, o paciente pode ter mais confiança naquele profissional, o qual o está acompanhando no seu tratamento ou no Médico Perito, que esteja realizando uma perícia naquele seu cliente. 

E quem tem direito ao RQE? Faz jus a esse registro o médico que fez Residência Médica Credenciada pela Comissão Nacional de Residência Médica/CNRM ou quem se submeteu a prova de título numa determinada especialidade. Nesse contexto, a prova de título tem que ser elaborada pelas várias Sociedades de Especialidades Médicas. Essa prova de título também tem que ser reconhecida pela Associação Médica Brasileira/AMB. 

Qualquer médico pode “atuar” em qualquer especialidade, mas sem se autodenominar especialista naquela área em que estiver atuando caso não preencha os requisitos acima explicitados. Ocorre que tem um detalhe: existem duas especialidades que exigem que o médico tenha feito residência médica ou se submetido à prova de título e são elas as seguintes: Medicina do Trabalho e Medicina de Tráfego.  

Na Medicina do Trabalho tem como o médico, não especialista nessa área, atuar. Porém, somente como médico examinador, no entanto ele tem que possuir experiência bastante significativa com essa especialidade, todavia nunca assinando como especialista, ou seja, ele pode atender trabalhadores em seus exames admissionais, periódicos, mudança de função e entre outros de demissão e mais nada. E tem mais: o Médico do Trabalho tem que estar atento ao trabalho executado pelo médico examinador e assinar o Atestado de Saúde Ocupacional/ASO, juntamente com o médico examinador, como responsável pelo referido exame. 

Não podemos nos esquecer de que a Medicina do Trabalho e a Medicina de Tráfego têm, como foco, a prevenção. No entanto, é indiscutível que o Médico Examinador não pode atender como se médico do trabalho fosse, pois ele não tem as prerrogativas descritas acima. O mesmo ocorre na Medicina de Tráfego. Mas como no Brasil, muitas situações passam como se fosse uma onda do mar, acaba não acontecendo nada com o profissional que insiste em atuar numa área que não lhe foi concedido o direito de atuar. Dessa forma, o empresário é quem deve escolher, com critério, o seu médico do trabalho solicitando, inclusive, o currículo. Já com a Medicina de Tráfego não tem nem perigo de ocorrer esse problema, visto que o DETRAN controla com brilho essa prática adulterada em Medicina do Trabalho.  

*Médica Especialista em Medicina do Trabalho/ANAMT-AMB

CRM/RR-339 RQE-431 

VOCÊ, OU SUA COR?

Afonso rodrigues de Oliveira*

“Enquanto a cora da pele for mais importante do que o brilho dos olhos, haverá guerra”. (Bob Marley)

Não compre essa arenga. Apenas reflita sobre o direito de arengar. Porque é isso que você vai sentir, se for um dos que sabem se valorizar. Se você for um preconceituoso, fique na sua. Mas não deixe de pensar nisso. É aí que você vai perceber o quanto nos valorizamos ou pensamos que nos valorizamos. Quando você rejeita ou despreza alguém porque a cor da pele dele difere da cor da sua pele, você está dando uma de tolo. Porque você está valorizando mais a cor de sua pele do que a você mesmo. 

O que realmente você vê quando olha para uma pessoa negra? Você analisa uma pessoa ou enoja-se com a cor da pele dela? Talvez ela seja uma pessoa mais inteligente do que você. Pode também ser muito mais preparada intelectualmente do que você. Talvez você ganhasse muito com a amizade dela, na convivência com ela. Quando você deixa de admitir uma pessoa por achar que seus empregados podem não gostar dela porque ela é negra, você está desvalorizando-se, e desvalorizando seus empregados. Simples pra dedéu.

Vamos nos civilizar. Vamos nos dar o valor que merecemos como cidadãos civilizados. E nunca alcançaremos o degrau da civilidade enquanto não formos um povo educado. E a pessoa edu
cada não discrimina. Ela sabe que somos todos iguais nas diferenças. E que a igualdade está no respeito. Então vamos respeitar. E comecemos com a busca da igualdade no nível do desenvolvimento racional. Ninguém é superior a você porque você é negro ou negra. Ninguém é inferior a você porque é branco ou branca. Juntemo-nos, os dois, e vejamos quem está se separando. Porque é aí que está a inferioridade.

Já sabemos que, “No Brasil só há um problema nacional: a educação do povo.” E estou falando de nós, brasileiros. O mundo todo vive nesse lamaçal da discriminação. Mas não devemos acompanhar os passos dos que não sabem caminhar na racionalidade. Somos um País com tudo para ser um exemplo para o mundo. E podemos ser, desde que nos respeitemos e sejamos o que realmente somos, sem saber que somos. Vamos nos valorizar saindo desse círculo de elefante de circo, da discriminação e do preconceito.       

Valorize-se mais, independentemente da cor de sua pele, seja ela branca ou preta. Sua superioridade está em você, no que você realmente é, dentro do mundo racional. Vá refletindo sobre esse assunto simples, mas importantíssimo para os que querem realmente ser grandes. A grandeza está no amor. E o amor não tem tamanho. Amor é simplicidade, dedicação, respeito, e sinceridade. Pense nisso.

*Articulista

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95-99121-1460