Opinião

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CHEQUE EM BRANCO

Linoberg Almeida*

Minha vó dizia que só se levanta para ensinar quem sentou para aprender. E assistindo televisão nos últimos tempos tenho percebido nos intervalos comerciais a divulgação dos feitos de parlamentares daqui em Brasília. O conteúdo apresentado só aumenta a percepção de que a finalidade do voto dado ao deputado ou senador se perde no caminho.

É evidente que eleições para executivos atraem mais atenção que aos legislativos municipais, estaduais ou o Congresso em si. Isso reflete e reforça como andam as percepções sobre partidos, sistema, representação, atribuições, e de como esses eleitos ganham o potencial de serem lideranças políticas, para um lugar como Roraima.

Nosso Congresso Nacional se afasta cada vez mais do poder independente ideal capaz de defender pautas reais e direitos na democracia, visando avanços coletivos. Esse cenário de cachorro correndo atrás do rabo com crises intermináveis, polarização vazia, e muitas posições eleitoreiras ampliam a descrença na Política, e em especial no legislativo, com raras exceções.

Como explicar que somente dois parlamentares estaduais se posicionaram contra aquele projeto de lei, com flagrante inconstitucionalidade, que trata sobre a lavra garimpeira por essas bandas? Como explicar os constantes silêncios ou tímidas reações diante do caos que temos vivido na saúde pública? Os “trabalho continua” ou “cada dia melhor” captam a essência do jogo de empurra de responsabilidades que nos atola em mazelas anteriores à crise sanitária vigente.

Eu não desculpo desabafos de quem está à espreita por mandato cair no colo por incompetência alheia. Flexibilizaram decretos logo quando o pior está por vir, ou não sabem que Manaus é logo ali? Me entristece a generalizada incapacidade de se estabelecer uma comunicação significativa entre cidadão e eleito. Somos reféns dessas falhas de representação, pois há simbiose entre os de lá, os daqui, suas emendas e como são eleitos. Não é sobre você, cidade, estado, nação. É um vencer eleição e pronto, sem fim.

Não é direita, esquerda, conservador, progressista ou indiferente. Quando você mais precisa, a saúde pública está esfacelada, profissionais guerreiros cansados, planos de saúde privada com aumentos inescrupulosos e nós espectadores da disputa de poder em função de interesses. Os lobbies falam mais alto para que fragmentos de sociedade se imponham e nos deixem submersos nessa lama movediça com poder fiscalizador dos congressistas inexistente. Quem é por nós?

O luto tem ampliado minha compreensão sobre o exercício da esperança. Não é ter esperança; é fazer esperança, ser esperança. Já que muitos eleitos não são capazes de rever suas práticas, que nossa indignação e dor virem cheque nominal e cruzado a quem nos rume ao desenvolvimento efetivo. Que a outra Política seja arma de transformação. Ainda temos 319 dias para virar o jogo nesse ano novo.

*Sociólogo, professor da UFRR.

MÊS DA CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE O LÚPUS

Alessandro Castanha da Silva*

Atualmente, vemos que cada mês recebe uma cor buscando conscientizar a população sobre uma determinada doença, e em fevereiro, utilizamos a cor roxa para lembrar a população sobre as doenças incuráveis, dentre elas, o Lúpus Eritomatoso Sistêmico (LES).

O LES é uma doença autoimune multissistêmica, ou seja, que pode atingir qualquer parte do corpo, e sua gravidade e sintomas variam de acordo com a região afetada. O Lúpus é caracterizado por uma desregulação do sistema imune do indivíduo, a defesa contra agentes estranhos passa a produzir anticorpos contra células ou tecidos do próprio corpo, podendo assim apresentar-se sistêmica ou atingir somente um órgão. No Brasil, estima-se que aproximadamente 65 mil pessoas sejam portadoras do LES, a maioria são mulheres, sendo nove a 10 casos para cada homem. Mesmo ocorrendo em qualquer idade, é mais frequente por volta dos 30 anos, tendo incidência maior em pessoas de raça negra do que branca.

Existem inúmeros fatores que podem dar início à doença, como: hormonais femininos, radiação ultravioleta, predisposição genética, medicamentos e até mesmo infecções virais. Desta forma, observamos que cada paciente apresenta uma característica diferente com relação ao desenvolvimento.

As manifestações clínicas do LES são variadas, dependendo muito das regiões afetadas. As pessoas acometidas, podem apresentar lesões de pele e articulações, diminuição de células sanguíneas causando anemia, leucopenia e trombocitopenia, inflamações de sistema circulatório (pericardite e vasculite), nefrites que podem causar a perda da função renal, dentre outras tantas que podem ser desencadeadas.

Atualmente a Hidroxicloroquina, medicamento muito falado durante a pandemia de covid-19, é o mais indicado para o tratamento em todos os casos relacionados ao Lúpus. Corticosteroides são amplamente utilizados em casos agudos da doença na busca da remissão, entretanto, a indicação de imunossupressores também podem ser uma ótima alternativa nos casos mais graves.

Com o avanço da medicina e a criação de métodos mais individualizados, num futuro próximo acredita-se que os tratamentos tragam resultados mais eficientes contra doenças como essa. Como a informação é a melhor ferramenta no caso de tantas doenças existentes em nosso meio, divulgar é a mais perfeita forma de cuidar de quem você quer bem, por isso participar das campanhas desenvolvidas mensalmente que trazem conhecimento é um ato de amor ao próximo e a você mesmo.

*Biólogo, especialista em Microbiologia Clínica e professor dos cursos da Área de Saúde do Centro Universitário Internacional Uninter.

RETORNO ÀS AULAS PRESENCIAIS, E AGORA?

Viviane Schueda Stacheski*

Além de todas as incertezas, mudanças, insegurança e medo que o momento atual gerou em grande parte da população mundial, os pais de alunos com idade escolar enfrentam outro dilema nesse início de ano – aula presencial: sim ou não? Decisão difícil a ser tomada imbuída de presenciar o cansaço dos pequenos em estarem em casa e a longa espera para voltarem à escola.

Da mesma forma encontram-se as escolas que novamente se adaptam aos impactos que a sociedade impõe. Marcar os espaços para distância segura recomendada pelo órgão de saúde, calcular quantos alunos podem permanecer em sala de aula, organizar o rodízio de presença na escola, aferir temperatura, clamar pelo uso de álcool em gel e lavagem constante das mãos, vigiar para que não haja contato físico entre as crianças, estes entre tantos outros cuidados passaram a fazer parte da nova rotina.

As escolas neste início de ano tiveram que dar espaço, em suas semanas pedagógicas, para a discussão acerca da prevenção à saúde de toda a comunidade escolar. Além de planejarem as atividades anuais, semestrais, semanais e diárias minuciosamente, pois todo planejamento teve que ter previsões para o que ocorre presencialmente na escola e presencialmente nos lares dos alunos. O ensino híbrido, discutido a tanto tempo nos ambientes de educação, passou a ser realidade em todas as escolas e famílias, gerando ainda mais a certeza de que o aprender se faz em todos os espaços.

Não há dúvidas de que o espaço escolar não é apenas o local para formalizar o conhecimento, é também o local em que se aprende com a interação com as outras crianças e toda a equipe de educadores, mas será que as crianças saberão se portar diante do novo “normal”? Para que possam frequentar a escola presencialmente precisam saber que além de cuidar do lápis e borracha novos, precisam cuidar das máscaras. Sim, agora temos um outro artigo que faz parte do ve
stuário diário obrigatório, mas este, diferentemente dos demais, requer muita atenção e cuidado. Logo, as famílias e escola agora também ensinam como colocar e tirar a máscara, onde armazenar a que já foi usada e onde encontram-se as limpas.

Enquanto isso os professores se desdobram em cuidados e preocupações. Cuidado com a saúde e aprendizagem dos seus alunos, porém diante de duas realidades: os que estão presencialmente em sala de aula e os que acompanham tudo por meio digital de suas casas. Cabe, então nos perguntar, como está a saúde física e emocional do professor? Quem tem olhado por ele? Indagações para as quais não temos respostas, mas nos cabe a reflexão acerca da sobrecarga emocional e psicológica dos profissionais de educação com a certeza de que merecem todo respeito e apoio ao seu fazer pedagógico.

A única certeza que temos é de que, por enquanto, a escola do abraço dos amigos e dos professores, da troca de lanche na hora do recreio, das brincadeiras em que os corpos ficam próximos, da apresentação no auditório com todos os alunos presentes, entre tantos outros momentos afetivos que ela nos promove, ficarão na memória e permanecem na esperança de que isso tudo possa fazer parte novamente do cotidiano escolar.

*Professora do curso de Pedagogia do Centro Universitário Internacional Uninter.