Opinião

Artigos 11502

MÃOS DE NARCISO 

 Walber Aguiar*

É que Narciso acha feio o que não é espelho (Caetano Veloso)

Máquinas fotográficas, celulares e câmeras entravam em ação. Era mais um movimento de doação, de entrega de benefícios. Cestas básicas eram retiradas do carro e entregues aos homens e mulheres absolutamente necessitados. Redes sociais estavam ali, prontas a capturar  o cenário fisiologista da piedade, do verniz devocional, do externalismo farisaico.

Ora, a arte política estava em baixa. A economia enfrentava o caos e a corrupção, como que enterrada nos caixões baratos e nos cemitérios periféricos. Assim, o assistencialismo fazia brotar da aridez existencial e econômica minguados seiscentos reais para a patuléia que gemia e chorava diante do terror da fome, da solidão imposta pela quarentena, do vírus desgraçadamente invisível.

Não era o fim do mundo era apenas o escatológico frente ao delírio dos “evangélicos” sem graça e vazios;  do povo que, espremido nos templos sem vida, fazia contabilidade de terremotos,  mapas estatísticos da fome e da guerra, das pestes e catástrofes naturais. Ainda não era o fim , apenas um prenúncio, o começo do advento apocalíptico, a ponta do iceberg daquilo que estava por vir.

Destarte, no meio do cenário dantesco, alguns irmãos davam com a mão direita e fotogravam com a esquerda. Entregavam com um olhar piedoso, mas filmavam para postar no facebook , no instagram e nas diversas redes sociais.  Aproveitavam o advento da pandemia para espalhar as cestas básicas do alarde e da divulgação . O que era pra ser simples, bom e secreto ganhou contornos de sofisticação,  eloquência farisaica e toque estridente de trombetas, uma banda de música pronta para desfilar diante dos spots e do glamour assistido da miséria humana.

Assim, o sermão do monte, foi esquecido, deixado pra trás , trocado pelo brilho das telinhas, pelas mãos de Narciso, que, com o ego devidamente incensado, quebrava o princípio de Jesus, a ética do secreto e da discrição, entristecendo a Deus e ferindo de morte o espírito do evangelho.

Dar é  uma graça que poucos desejam, um exercício praticado por aqueles que receberam de Deus o privilégio de  derramar-se diante do próximo, de se doar ao outro, numa perspectiva de alteridade, esvaziando-se de todo salto alto e vaidade pessoal. Decerto, que a divulgação cabe nos projetos mais amplos, quando interessa a contribuição para alguém que está doente ou até mesmo para a compra de passagens ou  feijoadas beneficentes. Ainda mais em ano eleitoral, quando a bondade se confunde com a propaganda dos candidatos.

Ora, percebemos mais grandeza e solidariedade humana no samaritano, naquele que não tinha nenhum compromisso com a religião, com a divulgação de um Jesus pálido e descontextualizado da vida. O samaritano pareceu ser o próximo do que fora vitimado pelos ladrões de estrada, pois agiu sem nenhum interesse, sem os condicionamentos legalistas do farisaísmo, sem as trombetas daqueles que estendem tapete diante da dor e da miséria humanas.

Assim, no dia em que você der algo a alguém, mesmo que seja um abraço ou um sorriso, não esqueça de Mateus 6:2-4. As mãos de Narciso carregam vaidade e aridez. O  grande jardineiro rega as mãos que plantam a vida…

*Advogado, poeta, historiador, professor de filosofia e membro da Academia Roraimense de Letras [email protected]  – Telefone: 95 99144-9150

HIGIENE FAZ BEM À SAÚDE  

Marlene de Andrade*  

“O coração bem disposto é remédio eficiente, mas o espírito oprimido resseca os ossos.” (Provérbios 17:22)  

Alguns países tiveram baixo índice de contaminação pelo coronavírus e isto por quê? Boa alimentação, sistema imunológico saudável e acima de tudo higiene. Povo educado se estressa menos e tal fato contribui para obtenção de uma boa saúde.  

É inadmissível, ver pessoas espirrando e tossindo em cima dos outros e entrar em casa sem tirar o calçado dos pés. Até para lavar as mãos existe critério, pois as torneiras devem ser higienizadas antes de nós a fecharmos. Ser prevencionista dá certo, mas infelizmente, grandes partes das pessoas não acreditam em micro-organismos, ou seja, em bactérias, vírus e fungos. Aí, as pandemias chegam a passos largos devido à falta de higiene.   

E tem mais: pessoa saudável pode estar contaminada por um micro-organismo, o qual  nunca lhe causará doenças e isto por quê? Devido seu sistema imunológico estar preparado para se defender contra aquele micróbio, mas esse mesmo micro-organismo pode ser patológico para outras pessoas. Por isso, temos que ser higiênicos, usar máscaras de boa qualidade e ter todo cuidado para não expelir as gotículas de nossa saliva pelo ar. Mão na boca? É inadmissível! E tem mais: afirmar que o que não mata engorda é um ditado muito incoerente.   

Nossas cidades brasileiras? É só dar uma volta nelas para vermos o quanto de  sujeira existe no chão. Copos, restos de comida, sacos plásticos, latinhas de cerveja e refrigerante são campeões na contaminação do meio ambiente. Até quando inúmeras pessoas vão continuar sendo anti-higiênicas? Até quando? Este assunto é de grande relevância e todos nós devemos estar atentos e prestar bastante atenção que o Covid-19 e outros que poderão vir até nos, não virão a fim de brincar de ciranda cirandinha e sim para matar. Portanto, os cuidados com a higiene passam por uma tomada de consciência em relação à prevenção e não pelo lockdown. Evidentemente, que aglomerações têm que ser totalmente evitadas, contudo deve ser feito com critérios.  

É verdade, que é complicado encontrar saída para esta pandemia, porém  a economia brasileira não pode se derreter, os desempregos não podem ocorrer e a população não pode morrer  devido essa desgraça do COVID-19 e por outros micro-organismos que porventura cheguem. Sendo assim, o tratamento preventivo deve começar a partir de cada um de nós e não ficar esperando somente a vacina. A este respeito uma amiga, certa vez, me disse o seguinte: “Prevenir é a melhor escolha!” Que palavras sábias!   

Médica com Título de Especialista em Medicina do Trabalho/ANAMT-AMB-CRM  – Especialização em Educação na Saúde Pública/UNAERP – Técnica de Segurança do Trabalho pelo SENAI/IEL – CRM/RR-339 RQE-431   

  

  

NADANDO NA SAUDADE

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“A sensibilidade escorre dos teus olhos

Dois lagos

Duas lembranças

Na alma de cada manhã do teu quintal

Roraima…

Menina faceira

Nativa cunhantã

No branco deslizante deste rio

Navega uma saudade instrumental

(Walber Aguiar)

Como é bom e gostoso sentir saudade. Mesmo porque só sente saudade quem foi feliz. Durante os poucos anos que passei na Ilha Comprida, no extremo litoral sul de São Paulo, senti saudade de Roraima. Voltei pra casa e agora sinto saudade da Ilha. O que indica que sou uma pessoa feliz. Ainda há pouco eu estava aqui, pensando em tudo isso. De repetente a Salete interrompeu meus pensamentos, falando alegre com gesto e jeito de quem estava com saudade. E não somos dois saudosistas inveterados. Apenas temos motivos para sentir saudade.

A Salete estava lendo o livro “Reportagens que Ninguém Escreveu.” Um dos grandes livros do meu amigo Gilberto Freire de Melo. Um dos maiores escritores do Nordeste brasileiro, infelizmente falecido recentemente. Eu estava nadando no barco saudoso das lembranças, quando de repente a Salete quase gritou: “Puxa vida, Sinho… agora senti saudade de minha infância. Eu conheci algumas das pessoas que estão citadas neste livro.” Sorri e não puxei conversa para
não naufragar.

Parece tolice? Não, não é não. Quando somos felizes vivemos cada momento de nossas vidas como eles devem ser vividos. E não tente fazer disso uma fantasia. Apenas decida ser feliz, não perdendo tampo com coisas desagradáveis. Simples pra dedéu. É só você saber o que realmente deve fazer pra ser feliz. E o mais simples e importante é você se conhecer em você. Porque, acredite, a maioria das pessoas não se conhece, a si mesma.

Eu e minha família chegamos a Roraima em mil novecentos e oitenta e um. Assistimos com entusiasmo, o crescimento e desenvolvimento do Estado. A Boa Vista linda de se ver, foi vista, por todos os da família, no telescópio da felicidade. Amamos esta Terra como ela deve ser amada e respeitada. Faça isso você, também. Ame com amor e não com interesse. Vamos fazer o melhor, e dar o melhor de nós, para o crescimento e engrandecimento da Terra que amamos.

Puxa, eu ia me esquecendo de dizer o que mais me alegrou, no momento quando a dona Salete me chamou à atenção. É que coincidentemente, eu estava lendo o livro “Vias e Veias,” do nosso amigo Walber Aguiar. Enquanto eu passeava pelos encantos de Roraima, a Salete voava sobre Natal, nos encantos da saudade. A vida é realmente um palco onde podemos nos divertir e viver com amor. Olhe, veja e ame, a beleza da nossa cidade. Colaboremos para o seu desenvolvimento. Pense nisso.

*Articulista – Email: [email protected] – Telefone: 95-99121-1460