Cabine de projeção

Cabine de Projecao 08 10 2019 9066

Filme para o público se sentir bem, ‘Encontros’ é encantador   Por Luiz Carlos Merten

São Paulo, 06 (AE) – Cédric Klapisch escrevia DeuxMoi, que estreou quinta-feira (3), com o título Encontros – antes, era para ser (Des)Encontros -, quando soube da existência do filme argentino Medianeras. “Amigos me falaram que havia semelhança, e fui conferir.” Medianeras, de Gustavo Taretto, é sobre um casal que circula no mesmo espaço, em Buenos Aires, mas não se encontra. Encontros é sobre outro casal, em Paris. Moram em prédios contíguos, cruzam-se na rua sem se conhecer. Cada um carrega sua dor. Ele veio do interior, vive solitário. Colegas são demitidos no trabalho, ele fica. Sente-se culpado. Ela terminou uma história, mas não consegue fazer o luto por essa relação. Ambos se analisam (com terapeutas lacanianos, vale acrescentar).

“Embora tenham certa semelhança, o filme argentino é sobre urbanismo, sobre a cidade. O meu é sobre a palavra. Os dois terapeutas falam na importância de verbalizar. Vivemos uma época de muita exposição, em que as pessoas estão conectadas o tempo todo nas redes sociais, mas, na verdade, usamos as novas ferramentas para nos isolar. Sites de relacionamentos, por exemplo. Essa comunicação virtual não é a mesma coisa. Encontros é sobre a palavra que significa. Foi um filme que me deu muito prazer em escrever e filmar.”

Ela é filha de pais separados e consegue ser mais tolerante com o pai, que mora nos Estados Unidos, do que com a mãe, que vive perto. Ele visita pai e mãe, mas tem uma relação difícil, ligada a um luto que não foi feito. Soltar o verbo, conversar francamente pode ser o primeiro passo para uma transformação. “É um filme simples, mas como toda boa história simples, tem camadas. Uma coisa leva a outra, aprofunda a outra, e de repente a sensação é de navegar em águas mais profundas. É o cinema que me interessa. Humano, social. Não estamos falando de desigualdade, mas de uma forma muito particular de violência que isola e segrega as pessoas.”

Como todo Klapisch, o roteiro foi escrito e reescrito, mas, na hora de filmar, o diretor gosta de criar as cenas com os atores

“Vejo muitos filmes, gosto de descobrir novos talentos. Já havia filmado com François Civil e Ana Girardot, que são ótimos e me parecem ter um futuro brilhante. Discutimos cada cena, ouço o que eles têm para dizer, mas, de maneira geral, eles seguiram o diálogo escrito e não improvisaram muito. Já com François e Pierre Niney, a cena com o amigo no bar foi toda improvisada. François e Pierre são amigos, têm uma vivência juntos e eu quis que ficassem à vontade. É uma cena pontual, que não faz a história andar. Me permitia essa liberdade.”

Há mais de 20 anos, Klapisch já havia feito uma espécie de crônica parisiense, O Gato Sumiu, sobre um carinha que procura o gato que sumiu na vizinhança. Outro gato agora some. “O cinema toma muitas liberdades com questões de tempo e espaço, quase sempre enganando o espectador. Pode não significar muito, mas, quanto mais verdadeira for a realidade humana e geográfica, melhor será o filme, acho.” Um filme sobre a palavra, sobre o gesto – e o toque. Tudo converge para uma aula de dança, quando, finalmente…Olha o spoiler! A música é… brasileira. “Estive no Brasil pela primeira vez há 30 anos. Descobri a música e, desde então, sou fã dos grandes compositores de vocês. Se o tema é o amor, a palavra e a música ajudam no clima.”

‘O que a Marvel faz não é cinema’, diz Scorsese

Por Ubiratan Brasil, com agências internacionais

São Paulo, 06 (AE) – Martin Scorsese, um dos cineastas de maior prestígio da atualidade, provocou polêmica no meio cinematográfico na sexta-feira, 4, quando afirmou que os longas de super-heróis, como os dos estúdios da Marvel, “não são filmes”.

“Eu não os vejo. Tentei, sabia? Mas isso não é cinema”, disse Scorsese em entrevista à revista britânica Empire. “Honestamente, o mais perto que posso estar deles, por mais bem feitos que sejam, com atores que fazem o melhor possível nessas circunstâncias, são os parques temáticos”, brincou o diretor de 76 anos, ignorando os 23 longas já financiados pela Marvel.

“Não é o cinema de seres humanos que tenta transmitir experiências emocionais e psicológicas a outro ser humano”, continuou ele que, além de ser considerado um dos maiores cineastas americanos atuais, é um ferrenho defensor da sétima arte, financiando projetos de restauro de longas ameaçados de desaparecer, graças à ação da entidade Film Foundation, capitaneada por ele – o filme Limite, dirigido pelo brasileiro Mário Peixoto em 1931, por exemplo, é uma obra que foi restaurada pela organização.

Tais comentários tão incisivos abalaram a comunidade cinematográfica de Hollywood, onde o autor de filmes lendários como Taxi Driver, Touro Indomável ou Cassino é habitualmente idolatrado pelos profissionais do cinema.

“Martin Scorsese é um dos meus cinco cineastas favoritos. Fiquei indignado quando as pessoas se manifestaram contra um de seus filmes, A Última Tentação de Cristo, sem nem ter visto”, tuitou James Gunn, diretor de Guardiães da Galáxia. “Me entristece que agora esteja julgando meus filmes da mesma maneira”, continuou.

“Quem pensa que a Marvel está apenas tentando fazer passeios em parques temáticos é injusto e cínico”, disse Christopher Robert Cargill, roteirista de Doutor Estranho. “Creio que uma das maiores falácias do pensamento moderno é que o cinema precisa ser um desafio”, acrescentou ele, no Twitter.

“Isso não apenas exclui muitos filmes excelentes que a maioria chamaria de cinema, mas descarta a ideia de que o cinema pode ser acessível a todos, que pode capturar a imaginação de crianças de 8 anos”, finalizou.

Scorsese mexeu em um vespeiro ao minimizar um gênero que tem mantido a saúde financeira da indústria do cinema – Vingadores – Ultimato, por exemplo, tornou-se o maior sucesso de bilheteria da história, ao somar mais de US$ 2,79 bilhões, em julho.