Jessé Souza

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Contrato milionário com aluguel de viaturas que dá a impressão de ser um ‘mais do mesmo’

Jessé Souza*

Quem faz caminhada ou frequenta os diversos locais do complexo poliesportivo Ayrton Senna, o principal ponto de lazer e encontro da Capital, percebe que há algo muito errado com a segurança pública. De cara, já é possível perceber a grande quantidade de viaturas da Polícia Militar, Polícia Civil e da Guarda Municipal passando por lá rotineiramente, principalmente à noite.

O movimento de viaturas é tão intenso a ponto de se perceber também que não há ocorrências policiais naquele setor da cidade devido não só a presença constante de policiais que por lá passam nas viaturas. Além disso, também naquele local fazem caminhada ou praticam cooper muitos policiais e guardas municipais quando estão de folga.

Significa dizer que o Centro de Boa Vista, que está longe de ser o setor mais movimentado da cidade, é o mais vigiado do Estado. E o público dali não é o assalariado, pois os preços praticados nos quiosques e restaurantes estão distante de serem populares, uma vez que o frequentador dali é a classe média em sua expressiva maioria.

E olha que, no coração do Ayrton Senna, está localizada a sede do Comando da PM, bem como guaritas da Guarda Municipal (as quais não funcionam, é verdade) e policiais de plantão na Praça do Centro Cívico, onde localizam-se as sedes dos três poderes (Executivo, Legislativa e Judiciário) bem no início do complexo poliesportivo.

Enquanto isso, a população dos bairros sofre as consequências da falta de viaturas quando precisa da presença policial. Porém, contraditoriamente, quando há um assassinato ou o achado de um corpo desovado em alguma parte da cidade, imediatamente lá surgem um grande número de viaturas possíveis e imagináveis, as quais deveriam estar em ronda pelos bairros e as quais desaparecem quando o cidadão mais precisa.

Então, dá para notar que há algo muito errado ocorrendo. E isso não é de agora. Vem de longas datas. Diante deste realidade que se apresenta, o governador Antonio Denarium (sem partido) não teve competência suficiente para organizar a Segurança Pública, apesar de ter nos quadros da Polícia Militar e da Polícia Civil profissionais competentes que precisam apenas do esfoço do governo para colocar ordem na casa.

A prova disso foi o anúncio da contratação da empresa amazonense Tecway Serviços e Locação de Equipamentos Ltda., com sede em Manaus (AM), que vai alugar para o Governo do Estado viaturas policiais com equipamentos destinados a conter a criminalidade em Roraima, O contrato tem o valor de R$ 13,5 milhões por um ano. Serão 120 viaturas, cada uma pelo valor de R$ 9.310,00, o que dará um gasto mensal de quase R$ 1,2 milhão.

Esse contrato cheira “mais do mesmo” de governos anteriores que adotaram o extinto programa “Ronda nos Bairros”, quando também foi contrada uma empresa manauara que consumiu uma montanha de recursos públicos sem apresentar o resultado desejado, que é conseguir conter o avanço da criminalidade. Naquele tempo, Boa Vista tinha um população ainda menor.

De lá para cá, a criminalidade só cresceu, a ponto de o crime ter se organizado enquanto o Governo do Estado seguiu com a desorganização na segurança pública. Até hoje as autoridades ainda tentam se impor diante do avanço das facções, a exemplo da Operação da Polícia Federal desencadeada na amanhã desta terça-feira.

É inconcebível que um governo, já beirando o terceiro ano de mandato, não tenha conseguido sequer organizar uma polícia com viaturas com combustível suficiente para rodar e efetivo estruturado para enfrentar a criminalidade dentro de um espaço geográfico semelhante a de um bairro de uma grande Capital brasileira.

Apesar dos precários recursos, as polícias vêm demonstrando que têm profissionais competentes e operacionais capazes de executarem um serviço exemplar, caso tiverem estrutura de qualidade e apoio político para seus planejamentos. Mas, ao que parece, a segurança pública tem servido mais para eleger políticos do que mesmo resolver o problema da insegurança da população.

Já quase chegando ao último ano de mandato, o governo resgata uma fórmula que comprovadamente já deu errado não somente em Roraima, em administrações anteriores que terceirizaram viaturas com equipamentos, mas também no Estado que deu origem a esse tipo de serviço, o Amazonas, para onde vai boa parte do dinheiro investido na empresa manauara contratada.

Se não houver uma ação mais ampla, que não apenas dar mais viaturas alugadas para a polícia, a criminalidade jamais será contida diante da imigração desordenada e crescente, bem como a extrema pobreza que advém não só dessa chegada em massa de venezuelanos desesperados, mas também de brasileiros empobrecidos depois da pandemia.

Sem um pacto que envolva toda a sociedade organizada, com investimentos do Governo Federal para socorrer Roraima diante desta crise, a PM só irá “enxugar gelo” com viaturas consumindo R$1,2 milhão por mês de recursos públicos saindo dos cofres estaduais. O crime está bem organizado. Falta o Estado agora se organizar para enfrentar os dias sombrios que se desenham.

E apenas investimento em polícia de nada adiantará. Servirá no máximo para as viaturas ficarem passeando pelo complexo Ayrton Senna, apresentando uma falsa sensação de segurança, enquanto a grande massa da população está trancada em casa e sequer consegue uma viatura para atender uma ocorrência no momento desesperador.

*Colunista