Jessé Souza

JESSE SOUZA 12532

Foram R$68 milhões para mobilidade urbana em uma cidade que sequer consegue instalar semáforos

Jessé Souza*

Até hoje continua sem uma explicação plausível o gasto de R$68 milhões em um projeto de mobilidade urbana executado pela então prefeita Teresa Surita (MDB), que prometia uma revolução em Boa Vista, com a construção de quatro pontes de concreto, 39 Km de corredor expresso para ônibus urbanos, 51 Km de ciclovias, 22 Km de calçadas e 825 paradas de ônibus.

Foi muita grana gasta, cujo recurso era oriundo de um empréstimo junto à Caixa Econômica Federal, o que significa que todo contribuinte boa-vistense está pagando esse dinheiro sem ter visto o resultado concreto do projeto aos moldes do que foi anunciado. Mas onde foi parar toda essa dinheirama, já que as obras anunciadas não foram realizadas?

A começar pelos quase 40Km de corredor expresso para ônibus. O que existe hoje são apenas faixas pintadas em algumas avenidas, que com certeza nem chegaram aos 40Km em tinta pintada no asfalto. Isso nunca foi corredor expresso, além de que o sistema de transporte coletivo sequer funciona adequadamente.

Só aí dá para ter uma ideia do que foi esse suposto projeto de mobilidade, que não incluiu viadutos muito menos passarelas para pedestres. A cidade até hoje é deficitária em semáforos para garantir segurança em cruzamentos perigosos nos bairros da periferia e até mesmo nos bairros nobres.

A Capital de Roraima padece de um projeto real de mobilidade urbana para impedir que o caos se instale no trânsito, cada vez mais ocupado por carros, motos e bicicletas sem que a cidade esteja preparada. Sequer existem ciclovias em avenidas de bairros populosos, a exemplo do Cidade Satélite.

A frota de veículos só aumenta e os semáforos, que são o básico em qualquer organização do trânsito, não conseguem mais atender ao grande fluxo em cruzamentos movimentados, a exemplo do “sinal do Ibama”, no cruzamento das avenidas Venezuela e Eduardo Gomes, para onde se dirige o grande fluxo de vários bairros populosos.

Aliás, não custa lembrar, Teresa se reelegeu prometendo construir um “mergulhão” ali, naquele cruzamento do sinal do Ibama, inclusive apresentando em horário eleitoral um projeto com animação e tudo. Mergulhão é um túnel que passa por debaixo das ruas para dinamizar o tráfego de veículos, liberando a passagem de pedestre em cima. Mas era apenas um “truque eleitoral”.

O desperdício dos R$68 milhões foi tanto que a Prefeitura chegou a construir prédios, em um quarteirão no bairro Cidade Satélite, ao lado da rotatória da Avenida Universo, estrutura esta que seria para abrigar o setor administrativo do projeto de mobilidade urbana. Mas os prédios nunca foram ocupados e contunuma abandonados até hoje, seis anos depois.

Como se pode notar, o projeto milionário foi um fiasco e serviu muito bem para construir duas pontes para interligar o bairro Cidade Satélite, as quais foram duplicadas logo em seguida (não custa lembrar que a ex-prefeita mora naquele bairro). De mobilidade urbana mesmo ficou faltando muita coisa para melhorar a vida da população, a qual corre o sério risco de, em curto espaço de tempo, ter um dos piores trânsito do país.

Como o empréstimo do recurso foi aprovado em 2003 pelos vereadores e o projeto foi anunciado pela Prefeitura em 2005, parece muito óbvio que ninguém mais está se importanto em dar resposta sobre o que foi feito realmente com essa dinheirama. Sequer os vereadores de hoje estão conseguindo investigar o contrato milionário sobre a coleta de lixo urbana, que está em vigor até os dias atuais, o qual consumiu mais de R$500 milhões.

Então, muito provavelmente, ninguém jamais saberá como foram aplicados os R$68 milhões que deveriam estar fazendo a diferença, hoje, no trânsito boa-vistense e na qualidade de vida das pessoas que andam de veículo próprio, usam transporte urbano ou precisam caminhar a pé pela cidade. Mas a conta está chegando mensalmente para o contribuinte pagar.

*Colunista