Jessé Souza

JESSE SOUZA 12564

Cenas dos Yanomami na cidade e a necessidade de uma ação rápida da Funai

Jessé Souza*

Depois de várias denúncias e pedidos formais, a Fundação Nacional do Índio (Funai) decidiu agir diante da situação dos indígenas da etnia Yanomami que ficam na cidade em situação de vulnerabilidade, muitos entregues ao alcoolismo, quando rotineiramente protagonizam cenas deprimentes.

Ainda esta semana, foi compartilhado vídeo de um grupo de Yanomami flagrado saindo de um comércio onde entraram para furtar garrafas de cachaça, as quais foram escondidas dentro de suas roupas. Visivelmente alcoolizados, eles foram cercados, sob xingamentos e ameaças, e agarrados para que devolvessem os produtos.

Recentemente, houve cenas de tragédias, a exemplo do que ocorreu no mês passado, quando uma mulher Yanomami, carregando seu filho de colo, foi morta ao ser atropelada quando atravessava um trecho movimentado da via pública, à noite, o que causou indignação pública.

Há muito tempo são divulgados vídeos com indígenas jogados em praças, calçadas e meio-fios depois de ingerirem bebidas alcoólicas. São recorrentes vídeos de homens, mulheres e crianças completamente embriagados brigando entre si, especialmente em postos de gasolina.

O problema é antigo, inclusive foi motivo de um pedido formal feito pela então recém-eleita deputada Joenia Wapichana (REDE) para que a Funai e o Ministério Público Federal (MPF) agissem. A morte da mulher Yanonami serviu para que a parlamentar voltasse a se posicionar e pedisse uma reunião de lideranças indígenas, MPF, Funai e entidades de defesa dos indígenas.

Neste encontro já fora feito um diagnóstico da situação, inclusive apontado o encaminhamento da instalação de um posto de saúde na região do Ajanari, no Municío de Mucajaí, de onde partem os indígenas que montam acampamentos de lona em Boa Vista, evitando que eles caminhem para a cidade em busca de atendimento.

A Funai tinha conhecimento da gravidade da situação e participou efetivamente dessa conversa em que foram apontadas possíveis soluções. Então, o que se espera dessa força tarefa da Funai, que está em Boa Vista, é que encaminhe ações rápidas, pois praticamente já existe um diagnóstico.

Inclusive, nesta mesma reunião, foi destacada a necessidade de a Funai ter um local seguro, uma casa de apoio, para que os Yanomami pudessem ficar quando viessem à cidade. Afinal, muitos se deslocam para a cidade não como pedintes, mas para receberem benefícios sociais, quando acabam usando o dinheiro para bebidas alcoólicas.

Por isso, é preciso que haja também orientação por parte dos órgãos e entidades para que façam acompanhamento e orientações sobre o uso desse dinheiro, além de um trabalho social sobre o problema do acoolismo. Nunca houve nada organizado neste sentido para enfrentar este grande desafio.

O problema requer também compromisso da sociedade, especialmente donos de bares e comércios em não venderem bebidas alcoólicas, uma vez que é proibido pela legislação, além do papel de denunciar essa venda ilegal. Mas o que se vê são vendedores de toda espécie se aproveitando dos indígenas, os quais não sabem lidar com dinheiro.

Quem quiser observar um pouco como os indígenas são tratados , quando vêm à cidade receber dinheiro, é só ficar um instante no Centro Comercial Caxambu, onde os indígenas são assediados de todas as formas por vendedores. Essa esperteza também ocorre no comércio da periferia, inclusive nos bares.

Então, por aí observa-se a necessidade do engajamento de toda sociedade para encarar suas responsabilidades diante dos problemas que resultam na vulnerabilidade dos Yanomami, os quais são parte mais frágil por terem pouco contato com a sociedade envolvente.

Além de não falarem o português, esses indígenas têm hábitos e cultura diferentes, sujeitos a qualquer tipo de esperteza por não conhecerem dinheiro ou não saberem se defender das artimanhas de quem quer o dinheiro fácil. A sociedade têm sua parcela de culpa quando eles vão para a sarjeta.

Diante dos fatos, não há mais desculpa para a Funai se esquivar de suas responsabilidades, órgão a quem compete a política indigenista do Governo Federal. Se faltava conhecer de perto o problema, então a força tarefa agora dispõe de todos os elementos necessários para agir. Todos agora devem ser chamados à responsabilidade.

*Colunista