Jessé Souza

JESSE SOUZA 12571

O poder das fake news nos compartilhamentos cada vez mais ágeis na internet

Jessé Souza*

As manifestações que ocorreram no dia 7 de Setembro, Dia da Independência do Brasil, embora poucos tenham comentado a respeito disso, serviram para demonstrar o nível do perígo das fake news para a democracia brasileira, a partir do compartilhamento de vídeos e textos com informações falsas.

O que marcou o fim do dia daquelas manifestações foram dois vídeos gravados por três manifestantes, que estavam na mobilização dos caminhoneiros, em Brasília, os quais anunciavam que acabara de ser decretado o estádio de sítio no Brasil pelo presidente Bolsonaro (sem partido).

Um deles gravou o vídeo em tom emocionado, simulando um choro. Enquanto outros dois gritavam e saltitavam abraçados anunciando um suposto estado de sítio como se fosse o início de um suposto golpe para arrancar os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Os vídeos serviam tão bem a quem estava com ânimo golpista, que os vídeos viralilzaram imediatamente país afora ao serem compartilhados em grupos de WhatsApp, apesar da informação estapafúrdia que os vídeos continham, como o fato de um estado de sítio precisar da aprovação do Congresso.

Aqui está a grande questão. As pessoas estão sendo manipuladas a partir do compartilhamento de informações por meio de telefone celular, onde não há o mínimo de filtro e onde as pessoas respiram um ar de “vale tudo”, pois até aqui ninguém foi punido por compartilhar mentiras como aquelas, que incitavam as pessoas à desordem.

Os vídeos passavam uma sensação de “verdade”, a qual certa parcela da população tanto almejava, a ponto de muitos sequer terem se dado ao trabalho de checar a veracidade junto aos sites de notícias. Ou ao menos desconfiassem do absurdo que era um presidente ter o poder de assinar um estado de sítio por uma canetada.

Ali serviu como um teste definitivo sobre a força das fakes news e a verdadeira intenção de quem comemorou imediatamente o que se achava ser o início de um golpe. Era a fome com a vontade de comer. Era a supremacia das notícias falsas se revelando a partir de um momento de tensão que se armou no país.

Outro vídeo, divulgado dias depois do 7 de Setembro, também foi revelador. Alguns manifestantes foram entrevistados enquanto estavam na mobilização que estava em curso, entre eles uma senhora que segurava um cartaz manuscrito que pedia o “saneamento das instituições”.

Ao ser questionada sobre o que significava aquela frase, a mulher titubeou e disse que ainda iria consultar o grupo do WhatsApp do qual ela participava para saber o significado, revelando que esses grupos se tornaram não só a principal fonte de informação de muitos, como também local onde repousa suas certezas.

É por isso que existe uma campanha pensada estrategicamente para desacreditar a mídia, a fim de deixar um campo livre para a proliferação de notícias falsas, disseminadas massivamente com a finalidade desta vez não apenas de confundir apenas, mas de criar uma nova realidade manipulada, onde a mentira massivamente repetida se torna “verdade”.

A tentativa de se oficializar as fake news foi a Medida Provisória 1068, que alterava o Marco Civil da Internet, dificultando a exclusão de perfis nas redes sociais e a remoção de conteúdos publicados na internet. Foi a chamada MP das Fake News, editada na véspera do dia 7 de setembro, mas que foi devolvida pelo Congresso no mesmo momento em que foi suspensa pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

O momento precisa ser de vigília, apesar de que a principal luta seja contra a pandemia, o desemprego e a garantia de comida na mesa das famílias. Porque as fake news mostraram seu poder logo no início da popularização da internet, quando pessoas foram linchadas devido a mentiras lançadas nas redes sociais. Agora é o país que pode ser lançado na fogueira.

*Colunista