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UM ÍNDIO WAPIXANA INAUGUROU A PONTE DOS MACUXIS

Constantino Viana Pereira – da Comunidade indígena da Malacacheta

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            Na manhã do dia 29/08/1975, o então Presidente da República, General Ernesto Geisel, acompanhado pelo o Governador do Território Federal de Roraima, o coronel Fernando Ramos Pereira, e outras autoridades que acompanhavam sua comitiva, inaugurou a “Ponte dos Macuxis”, até então a maior ponte em sistema de aço já construída na América do Sul. Era uma sexta-feira, e muita gente se aglomerou no vão da Ponte para assistir a inauguração daquela que se tornaria o meio de ligação entre Boa Vista e às regiões do Cantá, Normandia, Bonfim e Lethem (na Guiana inglesa). As autoridades de Boa Vista, vereadores e empresários comerciantes, além do Bispo, foram convidadas para este importante evento.

            Mas, na ocasião, faltava o personagem que justificaria o nome: “um índio macuxi”. E, verificou-se que na solenidade, naquele momento, não havia nenhum macuxi presente. Mas, sim, um índio da etnia Wapixana, o senhor Constantino Viana Pereira – Tuxaua da Maloca da Malacacheta, situada no hoje Município de Cantá. E, foi ele, um autêntico Wapixana, que, junto ao Presidente da República Ernesto Geisel, descerrou a fita de inauguração da Ponte dos Macuxis. “Foi assim” – afirmou a filha do índio Constantino, a senhora Maria Nilda Viana Pereira (residente à Rua Alcides Lima, no Bairro Caimbé).

            Após o descerramento da Fita de inauguração, o Governador Fernando Ramos Pereira, proferiu o seguinte discurso de agradecimento:

“Excelentíssimo Senhor Presidente da República, General de Exército, Ernesto Geisel: A visita de Vossa Excelência ao Território Federal de Roraima, alcança neste momento o seu objetivo principal – presidir a inauguração da Ponte dos Macuxis sobre o rio Branco. Esta ponte foi iniciada por uma administração (do antecessor o coronel Hélio da Costa Campos) e concluída por esta (coronel Fernando Ramos Pereira), que lhe seguiu com pertinácia e espírito de grandeza por dois governadores revolucionários. Esta Ponte tem 1.200 metros de extensão, localizada no KM-2 da BR-401, e trata-se da maior Ponte em sistema de aço já construída na América do Sul.”

            A Ponte dos Macuxis atravessa o rio Branco em direção sudeste e sua principal função é integrar o Brasil, através de Boa Vista, Roraima, com o país vizinho, a República da Guiana (ex-Guiana Inglesa). O nome: “Ponte dos Macuxis” é uma referência à etnia Macuxi, considerada a de maior número de pessoas em Roraima. No entanto, mesmo que faça referência somente a uma etnia (Macuxi), é também uma homenagem a todos os povos indígenas que habitam Roraima, desde quando esta terra era apenas o vale do rio Branco.

            O personagem central desta reportagem de hoje, o índio Constantino Viana Pereira, nasceu no dia 20/01/1910 na maloca da Malacacheta (região do Cantá). Era filho do casal indígena Serafim e Elisa. E, por sua liderança junto à comunidade, foi escolhido para ser o Tuxaua, o chefe da tribo, função esta que ocupou por mais de 10 anos.

            Constantino era casado com a senhora Celina Mota Pereira, filha de índia wapixana com um branco cearense. O casal teve os filhos: Julião Viana (foi vereador no Bonfim), Justino Viana, Maria Nilda Viana, Felix Viana, Hudson Viana e Jonas Viana.

            Constantino comprou, juntamente com mais 10 pessoas moradoras na maloca da Malacheta, uma Fazenda situada dentro da área de sua comunidade,  e que antes pertencia à senhora Santinha, viúva de Sizenando Diniz (filho do lendário Sebastião Diniz, fazendeiro e o responsável pela contratação de uma equipe de homens que fizeram a primeira picada na selva, ligando Manaus a Boa Vista).

Mas, por incrível que pareça, o Constantino mesmo sendo indígena, numa terra indígena, a Fundação Nacional do Índio – FUNAI-, o desapropriou juntamente com todos os demais moradores da fazenda em 1975, com a alegação de que aquela fazenda era uma propriedade intrusa na terra indígena, já que antes pertencera a um fazendeiro (no caso, o senhor Sizenando Diniz).

Constantino até que lutou na Justiça para reaver a propriedade ou, no mínimo, ser indenizado pelas benfeitorias que fez na fazenda, mas foi em vão. Chegou a dizer, inclusive, que doou as pedras de sua terra, na maloca da Malacacheta, para fazer o calçamento e a pista do Parque Anauá. Mas, não levaram em conta, e ele teve que sair da fazenda.

            Constantino, então, veio para Boa Vista, onde passou a morar com a família numa casa no Bairro Rói-Couro (hoje o Bairro São Pedro).

            Constantino Viana Pereira, índio wapixana, da Maloca da Malacacheta, faleceu no dia 23/02/1999. E, a sua esposa Celina Mota Pereira, no dia 14/02/2002.