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BOA VISTA – VIDA POLÍTICA – SEQUESTRO E MORTES

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Bento Coelho e o primeiro sequestro político de Roraima:

O ano era 1920.

Em Boa Vista estava pra acontecer a eleição para a presidência da “Câmara dos Intendentes” (antigo nome da Câmara Municipal de hoje), numa época em que Boa Vista ainda pertencia ao Estado do Amazonas.

Pelos acordos feitos em bastidores nas conversas entre os grupos políticos, a  diferença entre os dois candidatos à presidência da Câmara era de apenas um voto. Bento Brasil Coelho, era um dos candidatos.

Um dia antes das eleições resolveu visitar sua sogra, a cearense Ana Teles que morava em um sítio próximo à Serra Grande. Sua sogra ao vê-lo, alertou-o para o fato de que na sua terra, o Ceará, em véspera de eleição, quando a diferença de votos é pequena, candidato não sai de casa, ou se sair deve está prevenido (armado)

Bento Coelho disse que estas coisas só aconteciam no Ceará. Em Boa Vista era diferente.

Bento Coelho estava enganado. Quando de sua volta à Boa Vista, a cavalo, fazia-se acompanhar do jovem Rubens Sampaio, que, sem Bento Coelho saber, estava encarregado de levá-lo para o local onde haveria o sequestro. Já era noite.

Quanto Bento Coelho atravessava a parte baixa do Igarapé São Lourenço, ouviu uma voz na escuridão dizendo-lhe para não se mover ou iria morrer.

Bento Coelho tentou sacar a arma que sempre levava na cintura, mas antes que fizesse qualquer movimento, notou seis canos de rifles apontados para ele. Foi desarmado e levado para o baixo rio Branco, onde ficou, sob ameaça por vários dias, até sair o resultado das eleições.

Como Bento Coelho era um dos candidatos da situação à Presidência da Câmara, a oposição ganhou a Presidência, com a diferença de apenas um voto. O voto, claro, seria o de Bento Coelho, que se encontrava sequestrado.

A família de Bento Coelho, ainda não havia tomado conhecimento do sequestro, até porque em 1920 aqui na cidade não existia telefone, rádio, televisão, aliás, nenhum meio de comunicação em Boa Vista, imagine no interior.

Para que se tenha ideia, uma carta vinda do interior para Boa Vista, levava até 20 dias para chegar. Vez por outra surgia um jornal, mesmo assim manuscrito ou rodado em mimeógrafo. Portanto, era compreensível que as coisas acontecessem e somente depois de vários dias é que a população viesse tomar ciência. 

Outro fato interessante, sobre esse seqüestro, é que no momento da emboscada, a ideia era de matar o Bento Coelho. A sorte é que ele reconheceu, entre os sequestradores, um membro de uma Instituição. Entre os membros dessa Instituição, existem alguns sinais, toques de mãos e palavras de identificação. E foi utilizando um desses sinais, que Bento Coelho pediu ajuda. O outro entendeu o sinal de socorro, e evitou que os demais matassem Bento Coelho.

A esposa de um dos seqüestradores, ao saber do fato, procurou o padre prior beneditino e contou tudo. O padre tomou as providências de contatar os seqüestradores e exigir que Bento Coelho fosse liberado imediatamente. Foi obedecido e Bento Coelho voltou para sua família.

Este foi o primeiro sequestro político em Boa Vista.

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MAMÃE, EU NÃO QUERO SER PREFEITO.

O cantor Raul Seixas, na música “Cowboy fora da lei”, já dizia: ♪♫ “Mamãe eu não quero ser prefeito, pode ser que eu seja eleito e alguém pode querer me assassinar (…)”. ♫♪.

Em 1919 o Prefeito de Boa Vista, ou melhor, o Superintendente de Boa Vista, era o senhor Luiz Gomes Freire de Quadros, de nacionalidade portuguesa, porém já radicado há muitos anos nesta região. Mesmo demonstrando que já havia se naturalizado brasileiro e que tinha família e comércio em Boa Vista, ainda assim, as “forças políticas” local, trataram de depô-lo do cargo de Superintendente. A fim de evitar maiores problemas, Luiz Quadros renunciou.

PREFEITO VÍTOR DA SILVA MOTA:

Para substituir Luiz Quadros, foi escolhido o cidadão boa-vistense Vítor da Silva Mota, filho do Coronel Mota (João Capistrano da Silva Mota, o primeiro Superintendente/Prefeito).

Em fevereiro de 1923, o prefeito Vítor Mota soube de uma invasão de guianenses, adentrando Roraima para retirar balata e minérios. Vitor Mota, com o apoio do amigo Pedro Rodrigues (último Administrador do Forte São Joaquim e pai do Tuxaua Pereira), e mais seis companheiros, foi recebido à bala pelos guianenses. O prefeito Vitor Mota foi o primeiro a morrer, depois os outros que o acompanhava. Só se salvou o Pedro Rodrigues, porque tomou a arma de um guianense e eliminou os demais.

PREFEITO JAIME BRASIL.

– Passados cinco anos depois daquele episódio, a cidade estava novamente na campanha para prefeito. Jaime Brasil queria continuar mais um mandato. Faltando apenas três dias para as eleições, saiu de casa pela manhã e entrou num comércio na avenida que hoje leva seu nome (Avenida Jaime Brasil), onde estavam dois irmãos (A.P. e L.P). Houve uma discussão e, nesse entrevero, houve luta com punhal e, no final, estava morto o Prefeito de Boa Vista, Jaime Marques Brasil. Era 12 de novembro de 1928.

Cinco anos após este episódio, resultou noutro na sequência da morte de Jaime Brasil. Em 1933, foi morto Antônio Pinheiro e outros, cujo episódio recebeu o nome de: “O crime da Nova Fazenda”. Esta Fazenda está situada próxima ao rio Parimé, no Norte de Roraima.

PREFEITO SÍLVIO LEITE.

E, por último, foi morto na noite de 09 de outubro de 1987, com uma saraivada de balas, em frente ao Parque Anauá, o primeiro Prefeito eleito de Boa Vista o advogado Silvio Sebastião de Castro Leite.

Hoje já não se usa mais o punhal nem o fuzil para se matar um adversário político, invés disto lança-se mão de uma arma mais poderosa e muito mais eficaz: a “LÍNGUA HUMANA”. Criva-se o sujeito com balas de acusações, ferindo-lhe a alma, matando sua reputação. O resultado é que o sujeito atingido pela acusação passa a agonizar no leito de morte da sua vida política. O sofrimento é lento, mas gradual, aumentando a dor a cada acusação. E, o sofrimento torna-se maior quando o sujeito acusado, supostamente dá motivos.

O cantor Raul Seixas (conhecido também com o nome “Raulzito”) estava certo quando disse: ♫♪“Mamãe
, eu não quero ser Prefeito…”. ♪♫

O salário de Prefeito (a) pode até ser bom, mas certamente não compensa os riscos.