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A MISS MORANGO E A COLIGAÇÃO POLÍTICA EM RORAIMA.

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A Miss Brasil e vice Miss Universo, Therezinha Gonçalves Morango, faleceu de parada cardíaca no dia 14 de março de 202 no Rio de Janeiro, aos 84 anos de idade.

Therezinha nasceu no interior do Estado do Amazonas, no município de São Paulo de Olivença. Atualmente morava no Rio de Janeiro com a família. Ela venceu o concurso de Miss Brasil em 1957 e ficou em segundo lugar no concurso Miss Universo do mesmo ano.

A miss Brasil Therezinha Morango veio a Boa Vista/Roraima em 1958, a convite do governador José Maria Barbosa. Foi uma festa. O boa-vistense ficou maravilhado com a beleza da Miss Morango. Houve até baile em homenagem à miss.

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HISTÓRIA:

Em outubro de 1958 estava havendo em Boa Vista uma campanha política para a eleição do cargo de Deputado Federal. Naquela época, só tínhamos direito a eleger apenas 1 (um) representante político junto à Câmara Federal.

Ainda não havia para nós a figura do vereador (passou a existir somente a partir de 1969, com a criação da Câmara Municipal de Boa Vista), nem tampouco havia a figura do deputado estadual (só quando foi instalada a Assembleia Legislativa no dia 1º de janeiro de 1991). Até o “governador” não era eleito pelo povo roraimense. O presidente da República o indicava, mediante pedido do deputado federal eleito em Roraima. Elegíamos apenas 01 (um) deputado para representar o Território.

Pois bem, estávamos em 1958, e um dos candidatos ao cargo de deputado federal era o general Felix Valois (pronuncia-se “Valuá”) de Araujo.

Félix Valuá era maranhense, nascido em 20/11/1906 na localidade de “Pastos Bons”. Era filho de Antônio Alves de Araújo e Corina Góes de Araújo.

Felix Valuá foi Deputado Estadual à Assembleia Legislativa do Maranhão (no período de 1934 a 1937), e membro da Assembleia Constituinte do Maranhão, em 1935.

Em 1946, recebeu o convite do então presidente da República Eurico Gaspar de Dutra, para ser o novo Governador do recém-criado Território Federal do Rio Branco (Roraima). Valuá foi o segundo governador deste Território (governou no período de 22/02/1946 a 28/05/1947). Foi ele quem comprou o prédio onde hoje é Palácio da Cultura, na Avenida Jaime Brasil, esquina com a Rua Sebastião Diniz, e o adaptou para se tornar a “residência oficial dos governadores”. Naquele prédio moraram 16 governadores. O primeiro foi o próprio Felix Valois; e o último foi o Hélio Campos.

Após deixar o governo do Território em 1947, o Felix Valuá voltou para o Maranhão. Mas, em 1951, retornou a Boa Vista e se candidatou a deputado federal, sendo eleito para a legislatura de 1951 a 1955. No ano seguinte, candidatou-se novamente. Venceu. Foi deputado federal no período de 1955 a 1958.

Em 1958, Felix Valois candidatou-se novamente, aproveitando que o governador do Território era o seu genro o major José Maria Barbosa (que tinha sido sua indicação para o governo). Mas, nesta campanha para deputado federal, o Felix Valuá enfrentou uma barreira política: a “Coligação” de partidos, contrários à sua reeleição.

Para enfrentar a “situação”, alguns membros das famílias Brasil, Magalhães e Mota, se uniram em partidos, formando uma barreira de contenção, a chamada “Coligação”, em oposição ao candidato Felix Valois (com seu suplente Aluísio Neves).

E, então, começaram os ataques mútuos. Os da oposição (que eram da Coligação) chamavam de “Ratos”, o grupo do candidato Felix de “Ratos”. Em contrapartida os apoiadores da “situação”, chamavam os opositores de “Macacos”.

O pleito político do ano de 1958 em Boa Vista, ficou registrado na história como um dos mais violentos. Houve agressões físicas, calúnias, difamações, entre ambas as partes; e até mortes (do Francisco Caetano Filho/Beiral e do Claudionor/Segurança do candidato Felix Valois).

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O genro do Felix Valois (Valuá), o então governador, José Maria Barbosa teve a ideia de trazer de Manaus a Miss Brasil Therezinha Gonçalves Morango, para agradar o povo e, claro, pedir votos para o seu sogro Felix Valuá.

A Miss Brasil Therezinha Morango, veio. Mas, ela não sabia que era para servir de atrativo de votos. Até porque ela nunca se envolveu com política. Veio, porque pensava que era uma homenagem que a cidade iria lhe fazer. E, realmente, o povo a homenageou, a aplaudiu, tanto pela beleza que ela tinha, como pela educação esmerada que demonstrou para com todos que a cercavam. Foi uma festa em Boa Vista.

Na semana seguinte depois da visita da Miss Brasil, chegou o dia da Eleição para deputado Federal.

A lembrança da vinda da Miss Brasil Therezinha Morango, ainda estava na memória de muita gente. E, claro, a beleza da miss havia conquistado muitos votos (mesmo sem ser este o objetivo da Therezinha Morango).

No entanto, o povo pensou: “A miss Brasil veio, mas já foi embora. E, o candidato que elegermos, ficará”.

Houve a eleição e saiu o resultado:

Foi eleito o candidato da oposição ao Felix Valois, o roraimense Valério Caldas de Magalhães, tendo como suplente o ex-governador Clóvis Nova da Costa.

Ficou a lição (que ainda não foi entendida por inteira), a de que: “Não é com morango que se conquista o voto, mas com esperança e trabalho a ser realizado para o povo, pelo o povo, junto ao povo”.

A Miss Brasil Therezinha Gonçalves Morango nasceu no dia 26/10/1936. Ela era casada com o empresário Alberto Pittigliani (1918-2003). Ao casar, acrescentou o sobrenome do marido. O casal teve dois filhos, Alberto e Andrea, e uma neta, Bárbara.

Therezinha Gonçalves Morango Pittigliani faleceu no dia 14/03/2021.