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SINCRETISMO RELIGIOSO – Iansã/Santa Bárbara e Nossa Senhora/Oxum

O termo “Sincretismo” veio da ilha grega Creta, e significa “mistura de crenças”, ou seja, elementos de uma religião na outra, ou a união delas.

No dia 04 de dezembro, nos cultos afros, foi comemorado o “Dia de Iansã” – a orixá dos ventos e dos raios, sincretizada no catolicismo como “Santa Bárbara”.

Dizem os umbandistas e especialistas em cultos afro-brasileiros, que quem nasce em dezembro é “filho” de Iansã e, como tal, tem porte poderoso, costuma ter temperamento indomável, direto nas palavras e exagerado em tudo aquilo que lhes pareça importante. Além do mais é competitivo, difícil de lidar e intenso em suas paixões.

Já no dia 8 de dezembro, Boa Vista tradicionalmente comemora o dia da sua padroeira, “Nossa Senhora do Carmo”, que também é o “Dia de Nossa Senhora da Imaculada Conceição”. A procissão em homenagem as duas santas, sai sempre às 17h, da Igreja Matriz, situada na Rua Floriano Peixoto, no Centro Histórico de Boa Vista, e percorre as ruas da cidade. O Atual Bispo de Roraima é Dom Mário Antônio da Silva.

História:

De acordo com o Inventário do Patrimônio Cultural de Boa Vista, em 1692 a Câmara de Belém fez uma petição ao Rei de Portugal (Pedro II) para que colocasse missionários no vale do rio Branco. Em 1725, um grupo de frades Carmelitas fundou nas Missões do Rio Branco uma Capela de madeira e terracota (material feito de argila cozida no forno e utilizada em construção de casas, prédios, etc).

Em 1775, o ouvidor da capitania de São José do Rio Negro, Ribeiro Sampaio descreveu: “Na margem ocidental do rio Branco se encontra a missão Nossa Senhora do Carmo, com 118 almas (*pessoas)”. Doze anos depois, Lobo D’Almada na sua descrição relativa ao Rio Branco e seu território, de 1787, informou: “Na povoação do Carmo no Rio Branco, existe uma capela, 16 fogos e um vigário que assiste as 215 almas”.

A Freguesia (vila habitada), sob a invocação de Nossa Senhora do Carmo, foi criada em 1856 e a paróquia em 1858, elevando a pequena capela à condição de igreja Matriz. Este foi o primeiro templo religioso de Boa Vista e sofreu muitas reformas em sua estrutura física.

A Igreja Matriz Nossa Senhora do Carmo do Rio Branco é, provavelmente, a construção mais antiga do Centro Histórico de Boa Vista, pois a presença dos padres Carmelitas no Rio Branco data de 1725. Quando os Beneditinos aqui chegaram em 1907, a Igreja era apenas um oratório meio pequeno, a capela era simples necessitando de reforma.

A partir de 1917, os Beneditinos começaram as reformas, dando-lhe um aspecto germânico (alemão). Ao longo dos anos, a Igreja sofreu várias transformações, mas seria restaurada para os padrões germânicos originais a partir de 2005.

A santa “Nossa Senhora” (do Carmo/Imaculada Conceição) é cultuada pela Umbanda, religião original do Brasil e cultuada pelos afro-brasileiros, fundada em 1908 por Zélio de Morais. Enquanto os católicos homenageiam a nossa Senhora do Carmo, na Umbanda, esta santa seria a orixá Oxum, orixá da fertilidade, da riqueza, do amor e da proteção.

Da mesma forma que se seguem os cultos aos santos, os umbandistas cultuam os orixás, sendo estes com as mesmas semelhanças e datas dos santos católicos, mudando apenas a forma de se reverenciar. Essas religiões têm muito em comum.

No período colonial, em que os negros africanos foram trazidos e escravizados no Brasil, eles foram proibidos de cultuar sua própria religião. Os negros acharam nos santos católicos, semelhanças com os orixás africanos e, através do sincretismo, os negros escravizados camuflavam seus orixás nesses santos.

Orixá (Ori + Xá). “Ori” significa cabeça. E, “Xá”, senhor ou luz. Podemos então entender que Orixá é o mesmo que Senhor de sua cabeça ou luz de sua cabeça. Por isso, quando existe a recomendação para algum banho, ele deve ser tomado do pescoço para baixo.

Oxum, Osun, Oshun ou Ochun, na mitologia Iorubá, é um orixá feminino filha de Iemanjá e Oxalá. O seu nome deriva do Rio Osun, que corre na Iorubalândia, região nigeriana de ijexá e Ijebu. Identificada no jogo do “merindilogun” pelos odu ejioko e Ôxê, é representada pelo candomblé, por meio do assentamento sagrado denominado igba oxum.

Quando Orumilá (o “Deus” criador) estava criando o mundo, escolheu Oxum para ser a protetora das crianças. Ela deveria zelar pelos pequeninos desde o momento da concepção, ainda no ventre materno, ate que pudessem usar o raciocínio e se expressar em algum idioma. Por isso, Oxum é considerado o Orixá da fertilidade e da maternidade. É a mais bela das divindades e a própria malícia da mulher.

Neste ano de 2018, o Orixá regente é “Xangô”, justo e impiedoso com aqueles que promovem traição e injustiça. Estamos em dezembro, e pelo cenário político que vimos, pode-se dizer que foi um ano marcado por mobilizações populares e reestruturação social e política.

“Há mais coisas entre o céu e a terra do que pode imaginar a nossa vã filosofia”. (frase do dramaturgo inglês William Shakespeare,*1564 – +1616).