Minha Rua Fala

Minha Rua Fala 16 01 2019 7531

RESGATANDO A MEMÓRIA PARA PRESERVAR A HISTÓRIA

Personagens da nossa História na integração índio-não índios

À época de Rondon, Severino Pereira da Silva (Severino Mineiro), que guarnecia as fronteiras do Brasil pelo rio Maú, já havia fundado a vila Socó, em 1908, e a Vila Uiramutã, em 1911. Era um paraibano de fibra e em perfeito exemplo de integração, tinha casado com a índia macuxi Semari e, viúvo, casou com a sobrinha desta, chamada Vitória. Na vila Socó, a maioria das pessoas apresentava características de Severino: brancos e de olhos claros, com parentes na maloca Maturuca e nas outras que foram surgindo: maloca Ticoça, maloca Maracanã, maloca Camararem e maloca Pedra Branca.

Outro exemplo de integração é a história do velho Dandãe (João Evangelista de Pinho). Ele nasceu na cidade de Uruburetama, no Estado do Ceará no dia 27/12/1885.

Em 1896 seus pais (o português Manoel Joaquim de Pinho e a cearense Marcelina Bento de Pinho) vieram para a Vila de Nossa Senhora do Carmo de Boa Vista, como era chamada a nossa cidade e que ainda pertencia ao Estado do Amazonas.

A família, ao chegar à Boa Vista foi para o interior trabalhar, primeiramente plantando tabaco para a produção do fumo, e depois com a lida de gado na própria fazenda.

O velho Dandãe casou com a índia Amélia e depois com a índia Paula. O Dandãe foi dono da Fazenda São Raimundo, no Surumú. Faleceu em Boa Vista em 20/11/1989

José Valcaça, da fazenda Nova Olinda, no vale Quinô, em 1951, casou com a índia macuxi Vitória; Mecias do Nascimento Souza, da fazenda Igarapé Azul, em 1952, casou com Almerinda, índia da maloca Maturuca, com quem teve onze filhas; Osmar Silveira de Araújo, do sítio Caju, em 1950, casou com Luzia Maçaranduba, índia macuxi da maloca Uiramutã, com quem teve quatorze filhos; dentre outros.

Destaque-se, nesta integração, o casamento de Cici Mota com a dona Marinha, filha de Severino Mineiro (com a índia Semari), fundadores da fazenda Santo Antônio do Pão, e de Wilson Alves Bezerra (Galego) com dona Fany, filha de dona Marinha (fazenda Santa Aparecida).

As fazendas adquiridas por indígenas demonstra não apenas a integração social e política/administrativa, mas, a integração econômica, como no caso da fazenda Vendaval, de José Augusto Macage, adquirida pelo Conselho Indígena de Roraima – CIR; a fazenda Santo Antônio, à margem esquerda do rio Surumu, INCRA Nº 031011007455, de Belarmino Belo de Araújo, pelo Conselho Indígena de Roraima, representado pelo coordenador Terêncio Luís Silva, em 21 de fevereiro de 1990; a fazenda Tipiti, à margem direita do rio Maú, do velho Barroso, pela comunidade da maloca Ticoça, em 1993; a fazenda Vitória, de Telmar Mota, pela comunidade da maloca Napoleão; a fazenda Televisão, de Telmar Mota, pela comunidade da maloca Bismark; dentre outras.

Malocas que surgiram em função de fazendas de gado demonstram, perfeitamente, a forma de convivência dessa gente na terra de Macunaima. Com a chegada dos pioneiros na região, que utilizavam os índios nos trabalhos das fazendas, fez com que surgissem novas malocas, especialmente com indígenas oriundos da Guiana.

A maloca Teso do Gavião surgiu no final da década de 30, quando Pedro Rodrigues permitiu que o índio Raimundão e sua mulher Joaquina fizessem uma casa nas terras de sua fazenda Baliza, no vale do Cotingo. A maloca Congresso surgiu por volta de 1980, em terras da fazenda-engenho Congresso, após ser permitido que Sandro Tobias (pai de Valdir Tobias) construísse uma casa naquelas terras. A maloca Curupá, da mesma maneira, surgiu no final da década de 80, em área da fazenda Urucanha.

Na maloca Enseada, Jair Alves dos Reis, proprietário da fazenda São Jorge, permitiu que o índio Salomão com sua mulher Raimunda, pais de Damasceno e Januário que trabalhavam na fazenda, construíssem uma casa, próximo de um olho d’água existente naquele campo. A maloca do Lilás, também, surgiu em meado da década de 60, quando o proprietário da fazenda Bom Jardim permitiu que o índio Geraldo fizesse uma casa naquelas terras para morar com sua família.

No mesmo caso são: a maloca Caraparu, maloca Vista Geral, maloca Araça, maloca Maracanã, maloca Macedônia, maloca Morro, maloca Ticoça, maloca Flechalzinho, maloca Camararem, maloca Enseada Fortaleza.

Enfim, seria cansativo enumerar todas as malocas, tanto na serra, como no lavrado, formadas em função da atividade do produtor rural na região e na integração do índio com o “branco” (não índio).

Todos contribuíram para o desenvolvimento socioeconômico de Roraima.