Opinião

OPINIAO 10313

As prioridades de Teresa e o súbito aparecimento dos vereadores de Boa Vista

Luis Cláudio de Jesus Silva*

O período de inverno serve para chamar nossa atenção para as obras de saneamento não executadas pela prefeitura em período de verão. Serve também, para atestarmos que a prefeita Teresa Surita define as prioridades da sua gestão em completo desalinho com as necessidades dos moradores da periferia de Boa Vista. Na realidade temos duas Boa Vista, uma linda, iluminada e arborizada no verão e outra escura, alagada, esburacada e cheia de lama no inverno. Devo reconhecer que a prefeita fez muita coisa boa por Boa Vista, porém, são 20 anos de mandato e esse tempo deve servir também para analisarmos o que não fez, e por que não fez.

Duas décadas de gestão e todo inverno os problemas se repetem. Para exemplificar uma escolha errada de prioridade, verifico que, enquanto existem ruas intransitáveis pelo acumulo de buracos e lamas, Teresa prefere recapear um trecho da avenida Benjamim Constant, no centro da cidade. Um logradouro de pouco movimento de veículos e que tinha boa cobertura asfáltica, mesmo assim foi completamente arrancada. Penso que antes de gastar milhões de recursos públicos com recapeamentos desnecessários, primeiro deveria investir em terraplanagem e asfaltamento das ruas e avenidas que, por conta das péssimas condições em que se encontram, humilham as pessoas que dela precisam e servem de vetores para diversas doenças. Todos os moradores de Boa Vista deveriam ter a mesma atenção e respeito por parte da prefeitura e não somente uma parcela privilegiada da população, afinal o voto do pobre e do rico ainda tem o mesmo peso. Nesse período de pandemia, também faz falta um pronto socorro municipal. No entanto, mesmo com duas décadas de mandado, Teresa nunca entendeu como sendo prioridade.

Outro ponto que também merece o debate, diz respeito a pressa da Teresa em determinar a proibição da concessão de progressões e revisão de salários, realização de concursos públicos ou contratação dos aprovados e outros ataques aos servidores municipais, até 31 de dezembro de 2021. Para essa iniciativa, Teresa usou como argumento a Lei Federal nº 173, de 27 de maio de 2020. Mais uma vez, Teresa mostra-se extremamente ágil quando é pra prejudicar os servidores públicos, mesmo que as proibições constantes na referida norma, não se apliquem ao Município de Boa Vista. Para que tais proibições possam ser aplicadas é necessário que o ‘estado de calamidade pública municipal’ tenha sido reconhecido pela Assembleia Legislativa, o que até hoje não aconteceu. Ou seja, na ânsia de prejudicar os servidores, Teresa se avexou e meteu os pés pelas mãos.

E o que dizer dos vereadores de Boa Vista, que de uma hora pra outra, desavergonhadamente, resolveram aparecer? Como as eleições se aproximam eles ressurgem saindo da hibernação dos últimos 3 anos e meio. Se você não sabe, cada vereador custa por mês 42 mil reais para o contribuinte boa-vistense, são 14 mil de salário e 28 mil de verbas indenizatórias. Ou seja, custam quase 12 milhões por ano, para não trabalharem. Raras são as exceções. Quantos projetos eles aprovaram? O que de relevante fizeram? Onde estavam nos últimos anos? O que temos é uma legislatura cara, omissa, incompetente, ineficiente e, em sua maioria, subserviente a prefeita. Agora, faltando pouco mais de quatro meses para as eleições, como num passe de mágica, tentam protagonizar um racha com a prefeita.

Nas últimas sessões, tentando aparecer, se ausentaram. Juntos em grupelho, cobram do presidente da Câmara, que eles elegeram, que coloque em votação os projetos vetados por Teresa e que “iriam salvar Boa Vista da COVID-19”. Um dos projetos diz respeito a suspensão do pagamento de consignados por parte dos servidores municipais. Trata-se de um projeto politiqueiro, cópia de uma Lei Estadual que só serviu par criar falsas esperanças e nada mais, pois apenas ‘autoriza’ que o gestor suspenda, não determina a suspenção de nada, além de não tratar dos encargos bancários que penalizarão ainda mais os servidores. De outro lado, Teresa reclama que os vereadores não aprovaram projeto de antecipação de feriados, afirmando que isso seria “a salvação contra a pandemia”. Mais uma afirmação enganosa e politiqueira, pois, se Teresa entende que feriado prolongado é imprescindível para vencer a pandemia, era só decretar lockdown por dez dias e pronto. Não o faz porque o interesse é fazer teatrinho para mostrar engajamento e compromisso e enganar o povo. Por fim, quanto ao vídeo compartilhado nas redes sociais onde os vereadores afirmam que “não são lacaios da prefeita”, alerto que aquele que precisa dizer que não é, é porque é.

*Professor universitário, doutor em Administração

www.professorluisclaudio.com.br

O circo de só lerdos

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Apolítica dos governantes sábios consiste em esvaziar a mente dos homens e encher-lhes o estômago.” (Lao Tseu)

Juro pra você, e não é mentira nem hipocrisia. Já prometi, pra mim mesmo, nunca mais voltar a falar de política se não fosse dentro da política. Mas fica difícil para dedéu, você se esquivar, quando sua mulher chega à sala e liga o televisor. A coisa mais chata que uma mulher pode fazer para o marido. Mas não reclamo nem a crítico. Afinal não é ela, mais o governo, que me prende em quarentena, dentro de casa. Quando eu poderia, assim como ela, estar fazendo alguma coisa útil por aí. Mas, para não ficar esticado no sofá, fui até à varanda. Que é o que tem me livrado da tristeza. Mas não dá pra evitar o inevitável.

As notícias estão tão repetitivas que cansam, enjoam e aborrecem. E o pior é que você é obrigado a ouvir e, na maioria das vezes, assistir. Mas enquanto os comunicadores falavam de Corona e arrufos políticos, continuei procurando me acalmar e me divertir com os quero-queros. Mas não deu. O enjoo foi maior. Aí falei pra mim mesmo: um verdadeiro circo de só lerdos. Seiscentos reais não dão pra encher a barriga, mas compram. Que é a maneira mais eficaz de iludir. Aí sorri. Entrei e vim bater esse papo com você. Mas antes de me sentar imaginei lá nos Estados Unidos, um presidente fazendo careta ao microfone. Por aqui outro esbravejando e xingando. E pelo mundo afora, o que vemos e ouvimos enche-nos o estômago, cabeça de camarão.

Mas chega de arrufos. Mesmo porque ele, o arrufo, não é minha característica. Mas o título do circo que acabo de criar, me fez rir. Que é o que se enquadra à situação do mundo em que continuamos vivendo, sem conseguir melhorá-lo. Não consigo me lembrar, nem vou procurar, da data em que o Lao Tseu falou esse absurdo. Mas ele sabia o que dizia e o mundo continuou, e continuará, seguindo assim, politicamente, o seu pensamento. O que é lamentável. Mas, se é assim, vamos acordar e fazer o que devemos fazer para mudar o rumo da história. Muitos séculos já se passaram depois do Lao Tseu. Não vamos esquecê-lo, mas não o seguir.

Vamos fazer nossa parte nas mudanças. E tudo de que necessitamos é da educação. Não há como mudar sem ela. Comecemos a tarefa com a consciência de que precisamos ser cidadãos. Porque ainda não somos. E só o seremos quando formos educados o bastante para sermos. Ainda somos obrigados a votar em candidatos que sabemos não estarem preparados para o cargo que ocuparão. Mas temos que votar, senão seremos punidos. E isso não é democracia. E sem democracia não há cidadania, nem cidadãos. Pense nisso.

*Articulista

Email: [email protected]

95-99121-1460