Opinião

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MONUMENTOS PROVOCAM!

Éder Rodrigues*

José VictorDornelles Mattioni**

Durante as celebrações de futebol, o monumento é coberto com as cores da Seleção ou do clube; Nas manifestações pelos direitos dos povos indígenas, costuma-se enfaixá-lo de preto como um símbolo aos atos de violência; Durante as manifestações em defesa da pátria ou contra a corrupção, as cores verde e amarelo destacam-se no monumento que triunfa sobre os demais da cidade.

Não foi a primeira vez que o Monumento ao Garimpeiro (M.G.)  provocou discussões, o que torna a sua presença em uma área pública motivos para significados e ressignificados que nos incentivam a refletir.

De acordo Jacques Le Goff, a palavra Monumento é oriunda do latim monumentum, que remete para a raiz indo-européiamen, que exprime uma das funções essenciais do espírito (mens), a menória (memini). O verbo monere significa ‘fazer recordar’, de onde ‘avisar’, ‘iluminar’, ‘instruir’. Os monumentos são instrumentos de memórias coletivas.

A última intervenção no M.G. ocorreu na madrugada do dia 07/06. No contexto mundial, o ato coincidiu com a derrubada de estátuas na Europa e nos Estados Unidos que fazem alusão a indivíduos associados a práticas escravocratas; a prática sinaliza uma busca, que não é recente, por reinterpretações de memórias e das histórias dos povos. Os atos expuseram nas redes as palavras de Walter Benjamim, que afirma não existir um monumento que também não seja um monumento de barbárie. Com isso, erguer uma obra pode sinalizar a humilhação e o esquecimento de outros, como uma hierarquização, conforme alerta Reinhard Rürup. Monumentos provocam!

Projetado por Walter Melo e Francisco L. Moraes durante a década de 1970, sob a administração do Coronel-aviador Hélio Campos, o M.G. foi erguido no momento em que a pecuária era a principal atividade econômica do então Território Federal. Logo, a escultura foi instalada em um hiato de auges do garimpo, entre meados do século XX e a década de 1980. O garimpo não pode ser analisado de forma paralela do cenário econômico, político e social. Em tempos de crise, a busca por minérios aumenta; em tempos de estabilidade, perde-se o destaque, mas não deixa de ser praticada.

Localizado no Centro Cívico da cidade de Boa Vista e rodeado por poderes simbólicos, o M.G. elenca uma série de motivos para críticas ou defesas da sua construção. Enquanto isso, ele permanece firme, mesmo com bandeiras, pichos, tintas ou faixas. Nenhuma outra obra disputa espaço com o garimpeiro em um local estratégico da cidade por provocar as disputas por memórias, como cita Elisângela Martins. Afinal, quando você fez -ou viu- uma foto do Monumento à Bíblia, da águia do Correio Aéreo Nacional, ou da placa em memória ao índio macuxiOvelárioTames?

Para Dorval de Magalhães, a instalação do M.G. representou um erro histórico: “achamos que a homenagem, para atingir diferentes valores, deveria ser tríplice: Ao índio (…) ao ruralista ou vaqueiro (…) e, por fim, ao garimpeiro”. Embora Magalhães tenha mencionado o garimpeiro como o último a chegar a região, devemos estar cientes que a prática do garimpo já acontecia antes dos fluxos migratórios para o estado.

Em verdade, o monumento tríplice existe, na Praça da Cultura, localizada aos fundos do Mini Terminal de ônibus do Centro. Porém, a praça encontra-se de costas para o Centro Cívico, para os 3 poderes e para o imponente garimpeiro, que mesmo estático, representa a exploração de minérios de forma ilegal, conflitos e mortes entre os seus praticantes e as populações que são afetadas como os indígenas e ribeirinhos, você.

Por este motivo, devemos pensar: Como eu observo os monumentos que estão ao meu redor? Eles são imparciais, ingênuos? E as memórias, como as da minha família, tento preservá-las ou não? A determinação que eu tenho para pichar ou derrubar uma obra também existe para realizar denúncias contra os que praticam crimes contra o meio ambiente previstos na lei nº9.605/98? Da mesma forma, será que a minha angústia ao perceber um monumento pichado, ato este também considerado crime pela mesma lei, provoca na minha pessoa mais tristeza do que as violências ocasionadas por disputas pelo poder, por territórios ou pelo o que está no subsolo?

(Texto dedicado ao amigo, Prof. Dr. Antônio Tolrino de Rezende Veras. Prestamos condolências aos familiares e amigos, e pedimos a Deus que nos conceda o consolo que necessitamos neste momento. Obrigado, Veras!)

*Mestre em Geografia pela UFRR

**Professor de História

O LENTO RETORNO DA ECONOMIA

Vander Morales*

A retomada gradual dos negócios do Brasil, como se observa agora na Grande São Paulo e em muitos pontos do País, pode mostrar um cenário diferente daquele esperado pelos mais otimistas e frustrar a expectativa de uma arrancada forte para a recuperação do tempo perdido na economia.

Essa frustração começa, por exemplo, com a abertura de shoppings e lojas de rua como na cidade de São Paulo. Uma medida absurda impõe o funcionamento de quatro horas ao dia e com apenas 20% de ocupação. Resultado: aglomerações nas ruas e filas nos centros de compra. Óbvio que um horário bem mais amplo permitiria distribuir melhor o fluxo de pessoas. E a ocupação de 20% também não anima em nada os negócios, se era realmente essa a intenção. 

Assim, de medidas em medidas desastradas, em vez de uma engrenagem azeitada para mover a economia, o mais provável é que surja no horizonte um cenário de terra arrasada. É preciso devolver o ânimo a milhares de empresários de micros, pequenos e médios negócios que se viram desamparados pelo governo nesse período.

No rastro dos escombros estão um número ainda incalculável de empresas quebradas e mais alguns milhões a mais de desempregados, desalentados e na informalidade, elevando a taxa dessa tragédia nacional.

Muitos empreendedores nem conseguirão reabrir suas portas e outros terão de planejar o recomeço a partir do zero, com seus recursos exauridos em mais de dois meses de muitas contas a pagar e nada a receber. A promessa do governo de forrar esse período com um colchão econômico para dar um fôlego às empresas ficou nisso – promessa.

 A verdade é que se perdeu tempo demais para fazer chegar algum apoio aos empresários, o que aumenta as dificuldades, apesar do adiamento do pagamento de tributos federais: empresas terão de honrar o compromisso do mês e o atrasado acumulados. Se o governo pretende dar algum alívio, deve parcelar esses atrasados em pelo menos doze meses.

Algum alento pode vir com a prorrogação do período máximo de redução de jornada ou suspensão de contratos de trabalho com carteira assinada por mais 60 dias. Porém, mais uma vez, a medida depende de espaço no orçamento da União.  

Fato é que o garrote nas empresas continua. Além do crédito que não sai e o acúmulo no pagamento de tributos, o passivo trabalhista das empresas acumula problemas a um custo altíssimo. É necessário reduzir o prazo ainda longo para a entrada das ações, hoje de dois anos, e permitir o parcelamento de verbas rescisórias.

Urgente também uma revisão na Penhora Online, um meio de bloqueio de contas bancárias e de aplicações financeiras para garantir o pagamento dos débitos trabalhistas. Em alguns momentos não se observa se a empresa reclamada se encontra regular e solven
te, com capacidade de cumprir os seus compromissos, incluindo trabalhistas, com os meios que possui, não levando em consideração a existência de recursos em andamento ou a inexistência de trânsito em julgado da ação.

Mais um transtorno para as empresas, pois contas bancárias destinadas à folha de pagamento podem ser penhoradas, prejudicando diretamente os trabalhadores ou outros compromissos assumidos pela empregadora. Ora, a comprovação da regularidade por meio das Certidões Negativas de Débito demonstra o compromisso da empregadora de honrar seus compromissos. Além do mais, é de justiça que o débito recaia exclusivamente sobre a pessoa jurídica.

Na verdade, diante de tantas idas e vindas nessa crise, as autoridades estão perdidas, os empresários se sentem amarrados e a insegurança jurídica aumenta. Fora os problemas de comunicação do governo, um desastre.

Enquanto não se enfrentar com coragem e inteligências os gargalos fiscais e burocráticos, o cenário não será animador. Muito pelo contrário, as demissões vão aumentar e a retomada do desenvolvimento econômico levará muito mais tempo do que a Nação precisa nesse momento.

*Presidente da Fenaserhtt (Federação Nacional dos Sindicatos de Empresas de Recursos Humanos, Trabalho Temporário e Terceirizado) e do Sindeprestem (sindicato paulista da categoria)

CUIDE DO JARDIM

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“O segredo não é correr trás das borboletas; é cuidar do jardim para que elas venham até você.” (Mário Quintana)

É muito bom você rever e reviver, mesmo em pensamentos, momentos felizes de sua vida. Pode até parecer sentimentalismo, mas não é. É reviver enquanto vive. É gostoso pra dedéu. Eu tive a felicidade de reviver muitos dos momentos felizes de minha juventude. No finalzinho do ano passado estive em Natal. Cidade onde vivi intensamente boa parte de minha adolescência. Depois de reviver momentos e ambientes dos quais não pretendo me esquecer, lamentei o curto tempo que tive para rever.

Passei o dia em companhia da Salete e de minha parente, amiga, escritora, compositora, e poetisa, Neide Maria Rodrigues. Foi um dia maravilho. Estive em espaços que me levaram a bons tempos. Lamentei o estado lamentável em que se encontra o velho e inesquecível Teatro Carlos Gomes. Foi ali, naquele Teatro, que vivi lindos momentos de minha adolescência. E fiquei feliz quando a Neide me disse que ele, o Teatro, estava entrando em fase de reforma. Aí sorri me lembrando de que foi ali que ri com a frase citada por um ator, numa apresentação: “Não há bobo mais bobo do que o bobo que pensa que eu sou bobo.”

Saímos na caminhada e fiquei observando aqueles prédios, também em estado precário. A loja que já não é mais uma loja, onde trabalhei, no meu primeiro emprego. Aquela nova loja, ali onde fora um ponto de ônibus, onde eu pegava a ônibus para ir para a Base Aérea em Parnamirim. Tudo diferente e tudo mudado. Continuamos e parei em frente à casa de Câmara Cascudo. Quase chorei na lembrança. A casa continua a mesma e bem cuidada. E numa faixa na parede está: “Instituto Câmara Cascudo.” Olhei pela escadaria e revi a velha e grande mangueira onde me sentei muitas vezes, naqueles anos felizes. Acho que já lhe falei dos dias, desta féria, que recordei os dias felizes mirando a beleza da praia, “Ponta Negra.” 

A Neide Rodrigues lançou seu novo livro, “Reflexo de Um Amor Contido.” Um livro divino com poesias maravilhosas. Já citei algumas de suas poesias, aqui. Um abração para a querida Neide, e todos os parentes, e amigos naquela cidade maravilhosa, e tantos outros que não tive oportunidade de abraçar, em cidades vizinhas. Mas os verei muito breve. Com certeza. Nunca deixe de reviver momentos felizes de sua vida, vividos em datas já passadas, mas que lhe trouxeram felicidade naqueles momentos. Sempre há momentos em nossas vidas que não devem ser esquecidos. Mas os vejamos sempre com felicidade e não com chororô de saudade. “Saudade é a presença da ausência.” Pense nisso.

*Articulista

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